segunda-feira, 25 de junho de 2012

DECLARAÇÃO FINAL da CÚPULA DOS POVOS

DECLARAÇÃO FINAL

CÚPULA DOS POVOS NA RIO+20 POR JUSTIÇA SOCIAL E AMBIENTAL
EM DEFESA DOS BENS COMUNS, CONTRA A MERCANTILIZAÇÃO DA VIDA

Movimentos sociais e populares, sindicatos, povos, organizações da sociedade civil e ambientalistas de todo o mundo presentes na Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, vivenciaram nos acampamentos, nas mobilizações massivas, nos debates, a construção das convergências e alternativas, conscientes de que somos sujeitos de uma outra relação entre humanos e humanas e entre a humanidade e a natureza, assumindo o desafio urgente de frear a nova fase de recomposição do capitalismo e de construir, através de nossas lutas, novos paradigmas de sociedade.


A Cúpula dos Povos é o momento simbólico de um novo ciclo na trajetória de lutas globais que produz novas convergências entre movimentos de mulheres, indígenas, negros, juventudes, agricultores/as familiares e camponeses, trabalhadore/as, povos e comunidades tradicionais, quilombolas, lutadores pelo direito a cidade, e religiões de todo o mundo. As assembléias, mobilizações e a grande Marcha dos Povos foram os momentos de expressão máxima destas convergências.

As instituições financeiras multilaterais, as coalizações a serviço do sistema financeiro, como o G8/G20, a captura corporativa da ONU e a maioria dos governos demonstraram irresponsabilidade com o futuro da humanidade e do planeta e promoveram os interesses das corporações na conferencia oficial. Em constraste a isso, a vitalidade e a força das mobilizações e dos debates na Cúpula dos Povos fortaleceram a nossa convicção de que só o povo organizado e mobilizado pode libertar o mundo do controle das corporações e do capital financeiro.

Há vinte anos o Fórum Global, também realizado no Aterro do Flamengo, denunciou os riscos que a humanidade e a natureza corriam com a privatização e o neoliberalismo. Hoje afirmamos que, além de confirmar nossa análise, ocorreram retrocessos significativos em relação aos direitos humanos já reconhecidos. A Rio+20 repete o falido roteiro de falsas soluções defendidas pelos mesmos atores que provocaram a crise global. À medida que essa crise se aprofunda, mais as corporações avançam contra os direitos dos povos, a democracia e a natureza, sequestrando os bens comuns da humanidade para salvar o sistema econômico-financeiro.

As múltiplas vozes e forças que convergem em torno da Cúpula dos Povos denunciam a verdadeira causa estrutural da crise global: o sistema capitalista patriarcal, racista e homofobico.

As corporações transnacionais continuam cometendo seus crimes com a sistemática violação dos direitos dos povos e da natureza com total impunidade.

Da mesma forma, avançam seus interesses através da militarização, da criminalização dos modos de vida dos povos e dos movimentos sociais promovendo a desterritorialização no campo e na cidade. Da mesma forma denunciamos a divida ambiental histórica que afeta majoritariamente os povos oprimidos do mundo, e que deve ser assumida pelos países altamente industrializados, que ao fim e ao cabo, foram os que provocaram as múltiplas crises que vivemos hoje.

O capitalismo também leva à perda do controle social, democrático e comunitario sobre los recursos naturais e serviços estratégicos, que continuam sendo privatizados, convertendo direitos em mercadorias e limitando o acesso dos povos aos bens e serviços necessarios à sobrevivência.

A dita “economia verde” é uma das expressões da atual fase financeira do capitalismo que também se utiliza de velhos e novos mecanismos, tais como o aprofundamento do endividamento publico-privado, o super-estímulo ao consumo, a apropriação e concentração das novas tecnologias, os mercados de carbono e biodiversidade, a grilagem e estrangeirização de terras e as parcerias público-privadas, entre outros.

As alternativas estão em nossos povos, nossa historia, nossos costumes, conhecimentos, práticas e sistemas produtivos, que devemos manter, revalorizar e ganhar escala como projeto contra-hegemonico e transformador.

A defesa dos espaços públicos nas cidades, com gestão democrática e participação popular, a economia cooperativa e solidaria, a soberania alimentar, um novo paradigma de produção, distribuição e consumo, a mudança da matriz energética, são exemplos de alternativas reais frente ao atual sistema agro-urbano-industrial.

A defesa dos bens comuns passa pela garantia de uma série de direitos humanos e da natureza, pela solidariedade e respeito às cosmovisões e crenças dos diferentes povos, como, por exemplo, a defesa do “Bem Viver” como forma de existir em harmonia com a natureza, o que pressupõe uma transição justa a ser construída com os trabalhadores/as e povos.

Exigimos uma transição justa que supõe a ampliação do conceito de trabalho, o reconhecimento do trabalho das mulheres e um equilíbrio entre a produção e reprodução, para que esta não seja uma atribuição exclusiva das mulheres. Passa ainda pela liberdade de organização e o direito a contratação coletiva, assim como pelo estabelecimento de uma ampla rede de seguridade e proteção social, entendida como um direito humano, bem como de políticas públicas que garantam formas de trabalho decentes.

Afirmamos o feminismo como instrumento da construção da igualdade, a autonomia das mulheres sobre seus corpos e sexualidade e o direito a uma vida livre de violência. Da mesma forma reafirmamos a urgência da distribuição de riqueza e da renda, do combate ao racismo e ao etnocídio, da garantia do direito a terra e território, do direito à cidade, ao meio ambiente e à água, à educação, a cultura, a liberdade de expressão e democratização dos meios de comunicação.

O fortalecimento de diversas economias locais e dos direitos territoriais garantem a construção comunitária de economias mais vibrantes. Estas economias locais proporcionam meios de vida sustentáveis locais, a solidariedade comunitária, componentes vitais da resiliência dos ecossistemas. A diversidade da natureza e sua diversidade cultural associada é fundamento para um novo paradigma de sociedade.

Os povos querem determinar para que e para quem se destinam os bens comuns e energéticos, além de assumir o controle popular e democrático de sua produção. Um novo modelo enérgico está baseado em energias renováveis descentralizadas e que garanta energia para a população e não para as corporações. A transformação social exige convergências de ações, articulações e agendas a partir das resistências e alternativas contra hegemônicas ao sistema capitalista que estão em curso em todos os cantos do planeta. Os processos sociais acumulados pelas organizações e movimentos sociais que convergiram na Cúpula dos Povos apontaram para os seguintes eixos de luta:

- Contra a militarização dos Estados e territórios;
- Contra a criminalização das organizações e movimentos sociais;
- Contra a violência contra as mulheres;
- Contra a violência as lesbicas, gays, bissexuais, transexuais e transgêneros;
- Contra as grandes corporações;
- Contra a imposição do pagamento de dívidas econômicas injustas e por auditorias populares das mesmas; - Pela garantia do direito dos povos à terra e território urbano e rural;
- Pela consulta e consentimento livre, prévio e informado, baseado nos princípios da boa fé e do efeito vinculante, conforme a Convenção 169 da OIT;
- Pela soberania alimentar e alimentos sadios, contra agrotóxicos e transgênicos;
- Pela garantia e conquista de direitos;
- Pela solidariedade aos povos e países, principalmente os ameaçados por golpes militares ou institucionais, como está ocorrendo agora no Paraguai;
- Pela soberania dos povos no controle dos bens comuns, contra as tentativas de mercantilização;
- Pela mudança da matriz e modelo energético vigente;
- Pela democratização dos meios de comunicação;
- Pelo reconhecimento da dívida histórica social e ecológica;
- Pela construção do DIA MUNDIAL DE GREVE GERAL.

Voltemos aos nossos territórios, regiões e países animados para construirmos as convergências necessárias para seguirmos em luta, resistindo e avançando contra os sistema capitalista e suas velhas e renovadas formas de reprodução.

Em pé continuamos em luta!

Rio de Janeiro, 15 a 22 de junho de 2012.

Cúpula dos Povos por Justiça Social e ambiental em defesa dos bens comuns,
contra a mercantilização da vida

Rio+20 e Cúpula dos Povos trouxeram 110 mil turistas

Antonio Carlos Ribeiro


A Prefeitura do Rio divulgou que a participação de turistas na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, e a Cúpula do Povos, realizados do dia 13 ao dia 22, trouxeram 110 mil turistas. Os encontros geraram para a cidade um rendimento extra de R$ 274 milhões (cerca de 137 milhões de dólares) em hospedagem, transporte e alimentação.




O lugar mais visitado foi a Cúpula dos Povos, no Parque do Flamengo, também a que mais acolheu pessoas nos eventos paralelos. Lá se reuniram cerca de 1 milhão de participantes, e a Cúpula dos Povos, particularmente, acolheu mais de 300 mil pessoas.


O Forte de Copacabana ficou em segundo lugar, acolhendo 210 mil visitantes. O lugar menos procurado pelos que acorreram à Conferência da ONU foi o Riocentro, que reuniu chefes de Estado e de governo, diplomacia e pessoal técnico, que contou com a presença de 45 mil pessoas.


Foram registradas 23 manifestações durante o período da conferência, das quais apenas oito não causaram impacto no trânsito urbano e nas principais vias de acesso à cidade, informou a Prefeitura. A manifestação popular que reuniu maior número de pessoas foi realizada no dia 20, nas avenidas Presidente Vargas e Rio Branco, no centro, ocupadas por participantes, indígenas e estudantes.


Apesar das retenções e do grande movimento, o trânsito na cidade funcionou bem. Complicações aconteceram nos dias 19 e 22, quando chegaram e partiram as delegações internacionais.


Com feriado escolar decretado para esses dias, houve uma redução de 21% do fluxo de veículos em média no trânsito da capital, e o tempo de deslocamento nos principais corredores viários diminuiu em até 27%, de acordo com os dados da Companhia de Engenharia de Tráfego do município (CET-Rio).


Entre os dias 13 a 22 foram recolhidas 144 toneladas de lixo nos eventos oficiais e paralelos da Rio+20 pela Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), incluindo o Sambódromo e a Quinta da Boa Vista, locais disponibilizados pela Prefeitura para acampamentos de participantes da conferência. Quase um terço desse total (42 toneladas) era material reciclável, separado por meio de coleta seletiva.


A rede hoteleira da cidade registrou uma ocupação de 95% durante esses dias, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis. Mais de 130 mil passageiros foram transportados em ônibus especiais dos hotéis da zona sul e da Barra para os locais do evento, nos dias de realização da conferência.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Diálogo Boff e Altmann: a Rio+20 na verdade é Rio-20

Antonio Carlos Ribeiro

Rio de Janeiro – Os avanços da Rio 92 à Rio+20 foi o tema do diálogo entre os teólogos Walter Altmann, ex-presidente do Conselho Latino-americano de Igrejas e da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e moderador do Conselho Mundial de Igrejas, e Leonardo Boff, escritor, professor, conferencista e respeitado pela exposição da Teologia da Libertação, da defesa de causas sociais e questões ambientais.
 

 Altmann começou lembrando que em 1992 havia uma sintonia maior com a população e que neste ano há um pequeno aspecto positivo que é a luta da sociedade para a erradicação da pobreza. Disse que o relato bíblico do livro do Gênesis mostra Deus confiando ao homem o domínio da terra, observando como essa perspectiva serviu par justificar explorações, crimes e exageros de toda natureza ao longo dos séculos.

Com a chegada de Boff ao plenário, coube-lhe explanar o tema Justiça, paz e preservação do criado. Ele chamou a atenção dos líderes dos países para a necessidade de dar passos. “Não avançar é retroceder. De 1992 a 2012 nada melhorou na questão do meio ambiente, disseram 1.300 cientistas”, lembrando ainda que “dos 24 itens que sustentam a vida na terra, 15 estão em alto grau de degeneração”, denunciou.

Disse que espécie é a mais temida do planeta. “Aonde chegamos metemos medo, fazemos fugir as demais espécies. Onde domina o pensamento econômico e as forças globalizantes, cresce a pobreza, a exploração e a fome”. Lembra que os cientistas afirmam que as culturas se juntaram num complô contra a terra, arrasando tudo, explorando até os últimos limites, criando o princípio da autodestruição. E apelou: “Precisamos querer viver”. Isso é fundamental na Terra, com seus 4 trilhões de anos, na qual há vida há 3,8 trilhões de anos e a presença humana nos últimos 9 milhões de anos.

Nesta Rio+20 há novas informações sobre clima, água, populações, mas há grande descolamento entre as comunidades política e científica, porque os políticos têm agido com “suma irresponsabilidade”. Isso implica que o filósofo Georg Friedrich Wilhelm Hegel tem razão ao dizer que “da história aprendemos que o ser humano não prende na história, mas do sofrimento!” Devemos aceitar que toda a comunidade de vida deve viver junto conosco.

Acusa o sistema de governo imperante de ser predador, eticamente injusto e pelo Evangelho, um pecado social que afeta a Deus. Insistiu que “alguns deuses do velho sistema custam a morrer e os novos deuses custam a nascer ou se desenvolver”. Uma injustiça é que “nós da América Latina estamos sendo recolonizados. Estamos exportando matéria e comprando produtos industrializados. Não devemos aceitar a recolonização”.

“Ainda hoje”, denunciou, “estamos desmatando 1.400 km2 /ano par plantar soja e vender como ração de porcos para a Europa. É preciso exigir mais cuidados dos que importam, recomendou. Em relação às populações do Parque Nacional do Xingu, diante das pressões para construir usinas hidrelétricas, disse que o país não aprendeu nada com as “pretensões faraônicas dos militares”.

Isso significa que ainda violamos pessoas, florestas e animais para realizar esses projetos. Ele lembrou ainda os rios da região não têm fluxo regular de água todas as estações. E disse apoiar o bispo d. Ervin Kräutler quando ele ‘amaldiçoa a obra, por causa das maldades feitas com a terra, as pessoas e os animais”.

Representatives of churches and religions share understanding on the care of Creation

Antonio Carlos Ribeiro

In the presentations at the roundtable on Religions and the Environment on June 20, the General Secretary of the Latin-American Council of Churches (CLAI), Pastor Nilton Giese, highlighted the aspects of social justice and poverty that are the most perceptible in the reality of the countries of the region.


At the roundtable, religious leaders presented the theological perspectives of each faith tradition in relation to the environment, which is a theme being discussed in the United Nations Conference on Sustainable Development (UNCSD – Rio +20. The different religious leaders showed how the various religions understand the creation of the world (cosmogony) and how their theologies deal with the care for the planet.

Participants in the roundtable included the Moderator of the Central Committee of the World Council of Churches, Pastor Walter Altmann, the Executive Secretary of the Israeli Federation of the State of Rio de Janeiro, Jeanette Erlich, the Bishop of the Episcopal Anglican Church of Brazil and Vice-President of the National Council of Christian Churches of Brazil (CONIC), Francisco de Assis de Silva, the Director of the Muslim Benevolent Society of Rio de Janeiro, Sami Armed Isabelle, the Ialorixá Laura Teixeira of the National Institute of Afro-Brazilian Tradition and Culture, Rabbi Sérgio Margulies, and Fr. Elias Wolff, Advisor for Ecumenism and Inter-Religious Dialogue, and Bishop Francisco Biasin of the Bishop’s Commission, both in representation of the National Conference of Catholic Bishops of Brazil.

Inter-Religious Gathering Marks Beginning of Peoples' Summit Vigil

Antonio Carlos Ribeiro

The inter-religious gathering on Sunday, June 17 in the Parque do Flamengo in Rio de Janeiro, brought together national and local leaders of churches and religious institutions and traditions, and marked the beginning of the People’s Summit Vigil. During the vigil religious persons of different creeds will pray asking that the heads of state and governments gathered for Rio+20, assume commitments for the preservation of the earth and the defense of the peoples that inhabit it.
 

The ceremony on Sunday, June 17 began with the placing on an altar of the natural elements that are basic for life. Fire was brought by indigenous people; water by women; earth by members of Vía Campesina (Peasants Way); and air by the Peoples of the Land. High over the altar it said: “The Peoples’ Summit for Social and Environmental Justice, against the mercantilism of life and in defense of the common goods."
 

Immediately following, representatives of religious traditions were welcomed, including the Catholic, Lutheran, Anglican, Methodist and Presbyterian churches, Islam, Brahma Kumaris, Chamanism, Wicca, Spiritism, Judaism, Santo Daime, Ark of the Blue Mountain, Religion of God, Umbanda, Ifá, Navi, Paganism, Banto, Keto, Gypsies, Batuque, Church of the Unification and Association of Families.

 

 A gesture of blessing and presence gave support to the moment of mutual understanding and solidarity for all men and women of all nations. The presence of the World Movement for Peace was marked by the sound of a bell that had been in different countries, and which was rung by Grandmother Luiza of the Grandmother’s Movement, Paulo Santos of Vía Campesina, and Íris Carvalho, of the Women’s Movement.


The prayer for the leaders of the nations asks that they bring about justice for the peoples, protecting human, social, reproductive and environmental rights, and guaranteeing that all have access to potable water, healthy and sufficient food, and the right of communities to live in freedom, their culture and recreation. The inter-religious gathering concluded with all joining as a single voice to affirm that, “The planet is ours and it is sacred.”

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Juventude debate direitos, justiça social e ambiental

Antonio Carlos Ribeiro

Rio de Janeiro – A Rede Ecumênica de Juventude (REJU) promoveu o lançamento do livro Juventude e Justiça socioambiental: perspectivas ecumênicas. O lançamento contou com uma performance de jovens, narrando o cuidado com a natureza.

   

Organizada pelo cientista da Religião Daniel Souza, a obra contou com apoio do Centro Ecumênico de Estudos (CEBI), da Fundação Luterana de Diaconia (FLD) e do Conselho Latino-americano de Igrejas (CLAI), que mobilizaram a participação de jovens de igrejas e religiões envolvidos na REJU.

A obra é dividida em quatro partes. Na primeira, apresenta textos problematizadores, levantando questões da atualidade. Na segunda, traz estudos bíblicos, discutindo reações e diálogos na terceira, e apresentando roteiros para os encontros, na quarta parte.

Dos palestrantes presentes – a teóloga Ivone Gebara, o teólogo Marcelo Schneider e o filósofo Jorge Atílio Iulianelli – a fala de Ivone Gebara destacou-se pelo papel assumido na confecção da obra, na terceira parte, dividida com Silvia Regina de Lima, Leonardo Boff e Jorge Atílio Iulianelli, com reações e diálogos.

Gebara debateu os diálogos intergeracionais, discutindo as tensões entre pais, filhos e netos e como podem se tornar produtivas quando superam as diferenças de cada época, as leituras próprias de cada cultura e ambiente, e sobretudo, quando partilham os sonhos de pessoas de gerações distintas, mas empenhadas na mesma luta.

Representantes das Igrejas e Religiões apresentam compreensão sobre cuidados da Criação

Antonio Carlos Ribeiro


Rio de Janeiro – Os representantes das religiões se reuniram na mesa de debates Religiões e Meio Ambiente para apresentar a perspectivas teológicas de cada tradição de fé em relação ao tema do Meio Ambiente, debatido na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).




As Igrejas e religiões com presença na América Latina apresentaram sua compreensão da criação do mundo (cosmogonia) e perspectiva teológica para o cuidado do planeta. As duas percepções, interligadas, estão do cerne das posturas que cada tradição tem do meio ambiente.


Estiveram presentes o Pastor Walter Altmann, moderador do Conselho Mundial de Igrejas, Igreja Católica Apostólica Romana, Jeanette Erlich, secretária executiva da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro, D. Francisco de Assis da Silva, bispo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e vice-presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), Sami Armed Isabelle, Diretor da Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro, Ialorixá Laura Teixeira, do Instituto Nacional da Tradição e cultura Afro-Brasileiras, Rabino Sérgio Margulies, o Padre Elias Wolff, assessor de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso e D. Francisco Biasin, bispo da Comissão Episcopal, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, entre diversos outros líderes.


O pastor Nilton Giese, Secretário Geral do Conselho Latino-americano de Igrejas (CLAI), destacou os aspectos da Justiça Social e da Pobreza, como os mais perceptíveis, especialmente na realidade dos diversos países latino-americanos.

Celebração do CONIC-Rio enfatiza esperança e compromisso

Antonio Carlos Ribeiro

Rio de Janeiro – A celebração do Conselho de Igrejas Cristãs do Estado do Rio de Janeiro (CONIC-Rio) destacou a esperança e o compromisso com a Paz na Criação de Deus. Foi realizada na Cúpula dos Povos, atividade paralela à Rio+20, dia 19, no Parque do Flamengo.

 

A celebração foi dirigida por D. Nelson Francelino, presidente, da Igreja Católica Apostólica Romana; a pastora Christine Drini, segunda secretária, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, o pastor José Roberto Cavalcante, primeiro secretário, da Igreja Presbiteriana Unida e o reverendo Daniel Rangel, tesoureiro, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil que contaram com a presença da teóloga Maria Clara Bingemer, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

O acolhimento invocou o poder de Deus Criador, pediu iluminação para as igrejas cristãs e que assumam o compromisso de responder aos apelos de Deus. Durante o canto do hino Louvado Seja Meu Senhor, foram trazidos os quatro elementos ao altar (terra, fogo, água e ar).

No ato penitencial, os mais 80 participantes, admitiram que também participaram muitas vezes da destruição da criação, em nome de ânsia de ter, aproveitar e consumir, agredindo a criação com sua indiferença, ao cântico do refrão do hino “Piedade, Senhor! Tende piedade, Senhor.

O momento de escuta da Bíblia foi antecedido do cântico do hino “Quão grande És Tu”, seguido da Oração de Compromisso, pedindo que “nesta Cúpula dos Povos da Rio+20 nos convertamos e vejamos que a criação geme em dores de parto, para que possa renascer segundo o vosso plano de amor, por meio da nossa mudança de mentalidade e de atitudes”.

Hotel exótico, filme romântico-hilário


Antonio Carlos Ribeiro

Os filmes que mais nos tocam mudam suas características de acordo com o tempo em que são produzidos. Um tempo de mudança de paradigmas, como o nosso, deixa sua ‘assinatura’ em obras como O exótico Hotel Marigold (direção: John Madden, com Judi Dench, Tom Wilkinson, Maggie Smith, Bill Night e Dev Patel), entre outros atores igualmente brilhantes.

A história começa sem muitas pretensões. Envolve um grupo de aposentados, que passaram por experiências como ficar viúvos, desejar outro momento na vida, buscar cura para doença, terminar o vínculo de trabalho e se defrontar com relacionamentos em crise terminal. Há quem lide com essas tensões de forma suave, quem não esconda a insatisfação, quem crie expectativa exagerada e até quem se sinta atormentado por erros do passado.




Trata-se dos aposentados Muriel (Maggie Smith), Douglas (Bill Nighy), Evelyn (Judi Dench), Graham (Tom Wilkinson) e outros três amigos que desejam sair da rotina dos últimos anos vividos, ou querem viver de forma diferente nos últimos anos de suas vidas, ou ainda desejam curtir sua aposentadoria em lugar diferente.


Do encontro destas expectativas e as possibilidades objetivas que lhes chegam pela publicidade, empolgam-se, animam-se – se enchem de alma – e chegam ao gesto arriscado de jogar suas vidas [e investir seu pouco dinheiro] na proposta da propaganda de um hotel descrito com muitos adjetivos, sem causas mais objetivas e nem propostas mais substantivas. Destino: a Índia.


Sem que tenham percebido antes, a própria viagem é o caminho para o ‘paraíso’, enquanto tropeçam nas pequenas desilusões, assim como a vida de pessoas cultas, inteligentes, elegantes, cuja personalidade perdeu esse glamour ao longo dos anos. Só que os pequenos choques chegam homeopaticamente, demonstrando crescentes desapontamentos com coisas que se apequenam a cada cena.


A Índia provoca encantamento pelo seu povo, seus costumes, sua indumentária, os meios de transporte, os hábitos familiares e cotidianos, e as cores. Com esse pano de fundo, chegam ao hotel, deparando-se com o exotismo do local, com imagens do recém-restaurado Hotel Marigold, e com a atuação entre improvisada e desastrada do jovem sonhador Sonny (Dev Patel).


Já em terras indianas, desperta a atenção o dia inteiro de viagem de ônibus, em condições precárias, os trejeitos esnobes dos ingleses de classe média, de muita cultura e certo padrão de costume, ao lado das limitações e os conflitos delas derivados, além do amor e outros sentimentos menores, aos quais ninguém está imune, nem os aposentados. E em nome dos quais se pode reencontrar o amor ou chegar à morte.


Detalhe comum a todas as situações é que nada era muito bem como parecia ser. Ao lado disso, surgem situações como a redescoberta do cotidiano, novas paixões após a ruptura da anterior, e até o reencontro de paixões antigas, em circunstâncias que o corpo não pode mais suportar.


A obra tem candura, esperteza, detalhes que fazem toda a diferença e, sobretudo, uma incrível sensibilidade para lidar com o cotidiano. E descobrir o belo, em meio às rotinas, e nas novas rotinas a serem criadas. Recomendo assistir. Vejam o trailer:


http://www.adorocinema.com/filmes/filme-186338/trailer-19285478/

terça-feira, 19 de junho de 2012

Indígenas ainda lutam pelo direito à língua, diz professora kaingang

Antonio Carlos Ribeiro

O debate sobre os Povos Indígenas e a Sustentabilidade Econômica, Ambiental e Cultural, realizado na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, visibilizou um dilema vivido por comunidades indígenas ainda hoje: a luta pelo direito à língua – pela codificação, leitura e escritura – desdobra-se no direito de ter livros e bibliotecas nesses idiomas.

O contato com a professora Andila Kaingang possibilitou perceber um direito fundamental ainda negado aos primeiros habitantes do país: publicar, difundir e facultar a leitura de livros em sua língua, objetivo que vai além de falar, ler e escrever naquele idioma.

 

Ela disse que a língua Kaingang foi codificada na década de 1970 pela linguista alemã Ursula Weisemann, atribuindo grande importância a isso. “Se não tivesse acontecido, a língua Kaingang teria se perdido”. Isso implicou na experiência de atuar na educação e alfabetização de crianças.

A Constituição de 1988, segundo a professora, já possibilitou o trabalho bilíngue nas aldeias, o que possibilitou a interculturalidade. No entanto, a garantia constitucional não foi efetiva, já que faltavam as condições adequadas para o ensino do idioma: professores capacitados e material didático apropriado. Apesar disso, a partir de 1975 já havia leitores da língua kaingang, e uma década e meia depois surgiram os primeiros textos escritos pelos kaingangs.

Apesar de toda essa luta e esforço, o governo federal ainda não investe na formação de professores e produção literária no idioma. O material escrito é esparso e distribuído de forma irregular. Isso dificulta a visibilização cultural do grupo e de sua produção literária, mesmo se tratando do terceiro maior contingente indígena do país. Apesar disso, todas as escolas das aldeias Kaingang têm bibliotecas, embora ainda não tenham livros disponíveis no idioma.

Andila informou que há Pontos de Cultura nas reservas indígenas, o que permite que crianças desse povo recuperem sua autoestima e voltem a sentir orgulho de ser kaingangs. Por isso, ela vê esse projeto como promissor, a partir da experiência enriquecedora com as lideranças. “Já é um bom começo!”, afirmou.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Ato inter-religioso marca abertura da Vigília na Cúpula dos Povos

Antonio Carlos Ribeiro


Rio de Janeiro – Um ato inter-religioso neste domingo, dia 17, com a presença de lideranças nacionais e locais de igrejas, instituições e tradições religiosas, marcou o início da Vigília da Cúpula dos Povos – reunida no Parque do Flamengo, centro – período em que religiosos de diversos credos vão rezar pedindo que chefes de Estado e de governo reunidos na Rio+20, reunida no Rio Centro assumam compromissos de preservação da terra e defesa dos povos que nela vivem.




A cerimônia começou com os elementos naturais e fundamentais à vida sendo trazidos ao altar. O fogo foi trazido por indígenas; a água, pelas mulheres; a terra, por integrantes da Via Campesina; e o ar, pelos Povos do Terreiro. No alto do altar constava a expressão ”Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental, contra a mercantilização da vida e em defesa dos bens comuns”.




Em seguida foram convidados representantes de tradições religiosas como as Igrejas Católica, Luterana, Anglicana, Metodista e Presbiteriana, o Islã, Brahma Kumaris, Xamanismo, Wicca, Espiritismo, Judaísmo, Santo Daime, Arca da Montanha Azul, Religião de Deus, Umbanda, Ifá, Navi, Paganismo, Banto, Keto, Ciganos, Batuque, Igreja da Unificação e Associação de Famílias.




Um gesto de bênção e de presença deu suporte ao momento de entendimento mútuo e solidariedade a todos os homens e mulheres de todas as nações. Chegando ao momento do Movimento Mundial pela Paz, com um sino que esteve em diferentes países, tocado por Vovó Luiza (Movimento das Vovós), Paulo Santos (Via Campesina) e Íris Carvalho (Movimento das Mulheres).




A oração pelos líderes das nações pede que façam justiça aos povos, protejam direitos humanos, sociais, reprodutivos e ambientais, água potável para todos, alimentação saudável e suficiente, direito das comunidades viverem em liberdade, com direito à cultura e ao lazer. A cerimônia encerrou-se com o brado da frase “O planeta é nosso e ele é sagrado” e a música de encerramento.

domingo, 17 de junho de 2012

Paróquia Martin Luther celebra culto trilingue na Rio+20


Antonio Carlos Ribeiro


Rio de Janeiro (RJ) – A Paróquia Martin Luther promoveu culto trilíngue neste domingo, possibilitando a participação de visitas do exterior que participam da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). O culto foi presidido pela Pastora Christine Drini e teve como pregador o Pastor Nilton Giese, Secretário Geral do Conselho Latinoamericano de Igrejas (CLAI).


Divulgado na Agenda da Cúpula dos Povos, o evento de religiões, igrejas, ONGs e entidades do terceiro setor, o culto teve a participação do Pastor Matthias Tolsdorf (Paróquia Norte), Johanna Laible (Serviço Evangélico de Desenvolvimento), Marlehn Thieme (Conselho de Sustentabilidade da Igreja Evangélica da Alemanha)(EKD, sigla em alemão), Jürgen Bergmann (Missão Um Mundo Baviera), Jakob Lehmann e Caroline Richter (Juventude Evangélica de Saxônia) e uma comitiva de membros da , que integram uma comitiva da Fundação Luterana de Diaconia (FLD),  e de cristãos africanos que integram a comitiva de seu país ao evento oficial.




A celebração contou a presença de pastores e pastora luteranos e de músicos da cidade e de pastoras das igrejas alemães, além de representantes de entidades de Diaconia e membros de uma equipe de documentaristas da Igreja Evangélica da Saxônia, que tomaram parte na liturgia.


O P. Giese destacou que “As parábolas de Mc 4, portanto, estão no centro de um  conflito entre Jesus e seus adversários. São parábolas que visam superar a crise”. Ele lembrou que “A parábola da semente que cresce por si só é uma das respostas à crise na atividade de Jesus e na caminhada das comunidades cristãs. Em meio aos conflitos, crises e resistências, o importante é ir semeando”. Seu processo é lento, mas progressivo, agregou.


“Uma das preocupações em relação à Conferência das Nações Unidas, chamada de Rio+20, é que a agenda já está preparada para aprovar a mercantilização dos recursos naturais e a legitimação das novas tecnologias como a nanotecnologia (átomos), os agrocombustíveis, a geo-engenharia (combate ao aquecimento global) e os transgênicos“, lembrando que para “as grandes corporações, a água é um bem mercantil e deveria ser uma commodity, como o petróleo e o ouro”.




Giese denunciou que “o que parece dar a sensação de proteger o meio ambiente, na verdade  tem por trás a mercantilização dos recursos naturais. Para que explorem riquezas naturais, todo tipo de resistência popular deve ser criminalizada”. Por essa razão, a Cúpula dos Povos é um movimento paralelo que reúne diversas organizações ambientalistas, projetos eclesiais, ONGs e o CLAI, buscando espaços de diálogo e cooperação.


“Jesus nos lembra que a natureza e a vida têm o seu curso e seu ritmo”, lembrou o dirigente do organismo eclesial continental. “O importante é prestar atenção, respeitar esse ritmo e entender os sinais dos tempos. O ser humano tem seu papel no processo de transformação da vida, mas essa intervenção não pode levar ao desequilíbrio”, propondo que o papel da comunidade cristã e do movimento ecumênico deve ser profético em relação ao erros: “reconhecimento, arrependimento, reparação e reconciliação”

Hip Hop: amizade e arte, sem drogas nem violência

Antonio Carlos Ribeiro

Rio das Ostras (RJ) – Se encontrar para a dança de rua Hip Hop, buscar um espaço público para expressá-la e atender duas exigências: sem violência e sem drogas. Essa é a senha para participar do Projeto de Música Hip Hop desenvolvido nesta cidade pelo Pastor Francisco Rafael dos Santos, da Comunidade Norte Fluminense, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).

 

Os participantes têm condições comuns como gostar de dançar e cantar ao ritmo do Hip Hop, morar nos bairros periféricos da cidade – uma dança de rua que se desenvolveu na periferia de São Paulo, enfrentou preconceitos artísticos e de classe social e ganhou status de arte pela qualidade estética – tornando-se uma forma legítima de expressão das periferias urbanas.

   

 O grupo reúne entre 20 e 25 jovens com idade entre 11 e 24 anos que, diante das limitações para expressar sua arte, receberam apoio espiritual de um pastor decidido a atendê-los e de Natã Ferreira Louzada, um jovem que canta e toca nos cultos da comunidade, que estruturaram o Projeto financiado pela Fundação Luterana de Diaconia (FLD).

 

Eles se reuniram à tarde para mostrar seu trabalho a um grupo de representantes de Igrejas Evangélicas Alemães e de membros da direção e coordenação da FLD, que participam da Cúpula dos Povos, evento da sociedade civil paralelo à Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento, a Rio+20.

O Projeto tem como base a Comunidade Norte Fluminense, com apenas 27 membros, mas que assumiu a proposta e mostrou disposição para prestar esse serviço, ampliando seu conceito de missão e superando os limites étnicos e perfil social da Igreja para prestar esse atendimento pastoral.

 

As apresentações e entrevistas foram filmadas pela equipe do Pastorado para Jovens (LandesJugendPfarramt) da Igreja Evangélica Territorial da Saxônia, que atuam no Projeto de Trabalho Intercultural, também jovens, que fizeram entrevistas e produziram imagens em foto e vídeo.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Fernanda Kaingang: ‘queremos influenciar o Rascunho 0 da Rio+20’

Antonio Carlos Ribeiro

Rio de Janeiro – Os Povos Indígenas e Sustentabilidade Econômica, Ambiental e Cultural: Rio + Quanto? – o evento realizado esta manhã na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, no centro – visibiliza a presença indígena na Rio+20 e o debate da economia, o desenvolvimento sustentável, a erradicação da pobreza e o fortalecimento da estrutura institucional.


Para a advogada Fernanda Kaingang, os indígenas são 240 povos, falando 180 línguas, vivendo em 15 regiões em 6 biomas diferentes que tornam essa presença efetiva e qualificada. Esse padrões de desenvolvimento sustentável de cerca de 25% do território nacional (16% de reservas indígenas e 9% de territórios protegidos como área de reservas extrativistas de seringueiros e outros.

Ao falar da erradicação da pobreza e confrontada com o fato de que apenas quatro metas da Rio’92 foram alcançadas, 88 estão por serem implementadas e oito são inexequíveis , a egressa do curso de direito da Universidade de Brasília (UnB) aponta para a necessidade de negociar com Setor Produtivo. Diz que o diálogo já foi iniciado, quer debater aspectos culturais, sociais, econômicos e ambientais.

Sendo objetiva ao falar dos 15% do território nacional que são reservas indígenas ela aponta para a maior conquista deste contingente humano: “manter a floresta de pé! O que pode parecer pouco”, denuncia, “mas é muito já que o governo, os militares e a sociedade não conseguem assegurar  isso nos outros 85% da área”.

Frente à questão sobre o que a sociedade deve fazer para contar com o apoio da população indígena, ela disse ter obtido a resposta de indígenas do povo Marubu, da tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, de que o governo “deve reconhecer e retribuir os serviços prestados ao longo de séculos pelos indígenas”.

Outro passo significativo seria se organizarem para revogar o Projeto de Emenda Constitucional (PEC 0215, de 2000)que "altera o artigo 231 da Constituição Federal atribuindo ao Congresso Nacional a responsabilidade pela demarcação das Terras Indígenas, que hoje compete ao Executivo por meio do Ministério da Justiça, do qual a FUNAI faz parte," esclarece.

O que queremos, explica Fernanda, é "manter intacto o capítulo dos Índios na Constituição Federal, composto pelos artigos 231 e 232! E, nesse sentido esperamos que o parágrafo 21 se mantenha no texto do Rascunho Zero que está em negociação pelos países na Rio+20".

Ela manifestou alegria pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) ter decidido pela devolução das áreas de reserva dos índios Pataxó Hã Hã Hãe – deu um largo sorriso quando indaguei se a presidência do ministro Ayres Britto cria expectativas positivas – acrescentando que integrou um grupo que visitou o jurista.



Diante do pedido que resumisse as ênfases dos povos indígenas na Rio+20 – enquanto era feita uma pintura em seu corpo – a primeira indígena Mestra em Direito no Brasil disse que estão em três eixos: o ambiental, o econômico e o social, dentro do qual está o cultural.

E sobre um conselho prático que populações originárias podem enviar demais setores da sociedade, foi direta: “cuide do você precisa para viver. Você pode viver sem celular, ar condicionado e energia, mas não pode viver ser água, ar e alimentos. Isso implica em rever paradigmas, ou rever o consumo”.


As falas da entrevistada no Rio + Quanto? – evento do Inbrapi/Nearin, com apoio do MMA, Instituto U'ka, SBPC e Academias – retomam os temas levantados pelos indígenas que participaram do 1º EAEI, realizado dia 26 de abril no Anfiteatro Junito Brandão, pela Cátedra UNESCO de Leitura e o Núcleo de Adultos (NEAd), da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).



domingo, 3 de junho de 2012

Vocal e Orquestra Jazz do Luther College brilham no Brasil

Antonio Carlos Ribeiro


Rio de Janeiro - A Jazz Orchestra e o Vocal Jazz, composto de músicos, regentes, cantores e maestro do Luther College provocaram muita alegria, satisfação e enlevamento ao se apresentarem em Curitiba, Itajaí, São Paulo, São Paulo Sudeste, São Caetano do Sul, Vassouras e Rio de Janeiro. Na despedida do Brasil se apresentaram na Paróquia Martin Luther e no Forte do Copacabana.




O grupo de músicos e cantores sob a regência do maestro Juan Tony Guzmán arrebatou ânimos e provocou uma inusitada participação em sua apresentação na Paróquia Martin Luther, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. O concerto no templo na Pça Cruz Vermelha no dia 2, contou com quase 170 participantes - entre os quais o vice-cônsul norte-americano na cidade, John Elliott - além do corpo artístico, se tornando o maior público a assistir concertos nos últimos anos.




O repertório ‘passeou’ pelos clássicos do Jazz das Big Bands americanas como ‘Prelude to a Kiss’, ‘Sing Sang Sung’; música de inspiração religiosa como ‘Oh, What a Beautiful Morning!’, ‘Amazing Grace’ e ‘Create in me a Clean Heart’; e clássicos regionais como ‘Libertango’ e ‘Oblivion’, de Astor Piazzola, ‘(1 x 0) Um a Zero’, de Pixinguinha; ‘Asa Branca’, lembrando o centenário de Luiz Gonzaga; e ‘Aquarela do Brasil’, de Ari Barroso, provocando emoção e participação.




Quando o auditório aplaude ininterruptamente e isso se dá numa comunidade típica de descendentes de alemães, é porque o público se sentiu tocado pela música, pelo instrumental, pelo vocal e pela regência. Ao agradecer em nome da comunidade, a pastora Christine Drini disse ter visto alegria e emoção nos rostos das pessoas presentes.




Na celebração da Santíssima Trindade, neste domingo, dia 3, participaram o compositor e pianista Tom Bourcier, o baixo Ted Olsen e o grupo Vocal Jazz apresentando hinos e acompanhando o cântico congregacional. A comunidade luterana viveu momentos de enlevo espiritual. O vice-presidente Carlos Roberto Caldeira e a pastora Drini registraram o agradecimento em nome da Paróquia.


No Forte de Copacabana, viveram a emoção dos brasileiros ao cantarem '(1 x 0) Um a Zero', de Pixinguinha, 'Asa Branca', de Luiz Gonzaga, e 'Aquarela do Brasil' de Ari Barroso. O estudante-presidente da banda ficou visivelmente emocionado com a participação e emoção dos brasileiros.  

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Livro aborda o diálogo criação-evolução

Antonio Carlos Ribeiro

Teólogos do Círculo do Rio lançam o livro Fé cristã e pensamento evolucionista, organizado pelos professores doutores Alfonso Garcia Rubio e Joel Portella Amado, do Departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). O grupo é composto por ex-orientandos de Rubio, padre diocesano espanhol, radicado no Brasil desde 1959.



A obra traz capítulos de teólogos e teólogas católicos e evangélicos, trabalhando temas dos diálogos da teologia da criação com o evolucionismo, defrontando-se com perspectiva fundamentalista, com destaque para a obra de Pierre Teilhard de Chardin e temas como a onipotência de Deus, que sempre provocou vivos debates teológicos.

Segundo Rubio, a proposta é um esforço para superar a tensão entre a teologia da criação e a perspectiva evolucionista, demonstrando como as duas têm proximidades. Ela leva em consideração os postulados e lida com rejeições a priori, possibilitando perceber as angústias que perpassam cientistas e teólogos.

Os autores buscam mostrar porque a perspectiva teológica fundamentalista rejeita o evolucionismo, teme aceitar a evolução e com isso perde ricas possibilidades de aprofundar a fé.

A obra revisa conceitos, retoma dados dos relatos da criação e estabelece proximidades, estabelecendo a legitimidade das perspectivas e ajuda a superar conflitos entre as visões da ciência e da fé, propondo um pluralismo epistemológico para os teólogos e o empirismo como parâmetro último.

A perspectiva pastoral guia essa proposta teológica, explica Rubio, preocupado com o empobrecimento e as limitações da radicalização que as duas perspectivas geram para uma antropologia adequada.  Rejeita a setorização e integra visões que resgata percepções mais enriquecidas da condição humana.

Um risco que os cientistas ainda sofrem é o de confundir a fé em Deus tomando por base apenas uma expressão cultural, como a cultura greco-romana medieval. Quando se avança dessa perspectiva, é possível visualizar a riqueza de compromissos que esses saberes têm com o humano.

O debate sobre estética e ética na ciência e na teologia mostra que elas não devem, necessariamente, estar contrapostas, como acontece entre cientistas e teólogos, especialmente na cultura inglesa, observa o teólogo que se dedicou a estudar antropologia. Não há contradição, explica, havendo caminhos para demonstrar os fundamentos.

Ele recomenda prudência a cientistas e teólogos para se abrirem à busca e enriquecimento da outra dimensão da natureza humana e buscar ver o que esta tem a oferecer.


Participam da obra os/as teólogos/as Ana Maria Tepedino, André da Conceição Botelho, Celso Pinto Carias, Claudio Ribeiro de Oliveira, Lúcia Pedrosa Pádua, Marco Antônio Gusmão Bonelli, Maria Carmen Castanheira Avelar, Maria Joaquina Fernandes Pinto e Olga Consuelo Vélez Caro, além dos organizadores.

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