segunda-feira, 25 de abril de 2016

Pingos nos 'is'. Agora eu posso contar

Principais jornais e revistas do país encheram seus espaços com
jornalistas cuja atuação se pauta pela desonestidade intelectual, má-fé
e deturpação deliberada dos fatos

Jean Wyllys


Estímulo ao ódio e à violência não atingiu só governo e o PT, mas toda a esquerda e ao campo político progressista - ALBERTO WU/FUTURA PRESS/FOLHAPRESS/ARQUIVO RB

Poucos dias depois da morte daquele garotinho de 8 anos, o Alex, cujo pai o espancou até dilacerar seu fígado porque o menino gostava de lavar louça e de dança do ventre (isso meses depois de o deputado viúvo da ditadura militar dizer publicamente que gays, lésbicas e transexuais só somos o que somos por falta de porrada na infância para que tomássemos jeito de homem ou de mulher), eu recebi a ligação de um editor de O Globo me pedindo para que escrevesse uma resposta a um artigo de um dos seus colunistas (aquele que o jornal demitiu recentemente e que também escrevia para Veja até ser dispensado por ela), que havia afirmado em seu texto que a esquerda brasileira esconde que a homofobia é própria ou originária de países da África negra para, aqui no Brasil, não prejudicar a luta do movimento negro contra o racismo. Antes de atender ao pedido e responder a essa mistura de ignorância com desonestidade intelectual que constrangeu os próprios editores de O Globo, eu perguntei ao tal editor: "Por que o jornal contratou e mantém um sujeito desses escrevendo para seus leitores?". O editor me respondeu: "Desculpe-me, deputado, mas eu não sou responsável por isso. Não depende de mim".

Bom, por que contei essa história? Ora, porque os principais jornais e revistas deste país (mesmo a Folha de S.Paulo, o mais "plural" desses veículos), em seu propósito de derrubar o governo Dilma e destruir o PT, não bastasse a linha editorial de suas reportagens e notícias, encheram seus espaços com "jornalistas" e "intelectuais" cuja a atuação e produção de conteúdo se pauta pela desonestidade intelectual, má-fé, deturpação deliberada de fatos e declarações e, em alguns casos, por ignorância e analfabetismo político. O resultado final disso é uma permanente campanha de difamação e estímulo ao ódio e à violência cujo alvo não circunscreveu apenas o governo e o PT: estendeu-se a toda esquerda e ao campo político progressista e identificado com os direitos humanos.

Os jornais, revistas, telejornais e seus sabujos davam o material ruim necessário (meias-verdades, deturpações, manipulações, declarações e lados das histórias selecionados, ângulos de fotos e etc) acerca dos fatos e personagens políticos para que, na internet, os fascistas e difamadores profissionais produzissem sua avalanche de mentiras, calúnias, injúrias e teorias conspiratórias contra Dilma, o PT, a esquerda e o campo progressista, sem qualquer distinção: para os difamadores e fascistas, somos todos um bloco monolítico.

Sabia-se que tudo isso estava não só destruindo reputações e afetando os direitos políticos de cidadãs e cidadãos brasileiros, mas fortalecendo a extrema-direita nacional e seu fascismo. Entretanto, nenhum veículo da chamada "grande mídia" fez qualquer coisa para barrar esse processo; ao contrário (lembrem-se de que a última contratação da Folha de S.Paulo foi um analfabeto político hipócrita e protofascista membro do MBL, cujo método de trabalho é constranger e difamar os contrários ao impeachment de Dilma)!

Mesmo com a escalada da violência produzida por esse "jornalismo" intimamente articulado com a difamação - os panfletos insultuosos atirados no enterro de Zé Eduardo Dutra; os insultos a Guido Mantega no hospital onde fora encontrar a esposa em tratamento de câncer; as ofensas a Alexandre Padilha, Patrus Ananias e Gregório Duvivier em restaurantes; os ataques às casas de Jô Soares, Juca Kfouri, Ciro Gomes e do filho do ministro do STF Teori Zavascki; os insultos a Chico Buarque numa rua do Leblon; os atentados a sedes de partidos e sindicatos; e etc., fora a violência verbal perpetrada de maneira orquestrada nos perfis dessas pessoas e instituições nas redes sociais - apesar dessa barbárie, nenhum desmentido, nenhuma matéria, nenhum artigo, nenhum editorial foi feito por qualquer desses veículos no sentido de contê-la; nenhum mea-culpa, afinal, o objetivo de derrubar o governo e PT estava sendo alcançado mesmo que inocentes estivessem sendo destruídos e um mal se fortalecendo (Foi Ricardo Noblat ou Merval Pereira que repetiu, como argumento, que "os fins justificavam os meios"? Não importa. Eles são a mesma coisa).

Agora reconhecida internacionalmente como antidemocrática, desonesta intelectualmente e excessivamente partidária por protagonizar e apoiar um golpe contra a democracia urdido por plutocratas e cleptocratas, a mídia brasileira quer se livrar do corpo morto ou esconder seu esqueleto no armário (até a patética revista Veja decidiu descobrir agora que Cunha é "do mal"). Tarde demais pra vocês, hipócritas e golpistas!

A esquerda e o campo progressista decidiram reagir de vez! Não só em manifestações de rua e denúncias à comunidade internacional contra seu golpe na democracia, mas por meio da reação imediata e enérgica ao fascismo e ao macartismo cotidiano perpetrados pelos analfabetos políticos e fascistas em restaurantes, aeroportos, porta de residências, hospitais, cemitérios e etc. Juca Kfouri e Ciro Gomes foram os primeiros a reagir de maneira mais ostensiva aos seus detratores. Os fascistas não voltaram às suas casas depois disso. Ontem, foi o vez de o ator José de Abreu reagir a um casal fascista - e com uma cuspida na cara de cada um!

Sempre existirão, claro, os que vão considerar a reação de Juca, Ciro e principalmente a de Zé de Abreu "extremadas" (assista ao vídeo abaixo), "mal-educadas", "grosseiras", "violentas" e "desnecessárias", inclusive nos veículos da chamada "grande mídia". Quase sempre são os mesmos que eram insensíveis ou faziam vistas grossas e ouvidos moucos às violências sofridas pelos que agora eles acusam e condenam pela reação justa. Quem liga para esses hipócritas e canalhas?

Essa gentalha precisa saber que vivemos numa democracia e num Estado de direito e que, nestes, o exercício de nossos direitos políticos, por mais que esse exercício contrarie sua visão de mundo, senso comum, teorias conspiratórias, analfabetismo político ou preconceitos, não lhe autoriza a nos insultar, injuriar, difamar, acusar, ameaçar e agredir em lugares públicos! E essa gentalha só começará a entender isso quando reagirmos pronta e energicamente. As pessoas de esquerda e do campo progressista têm o direto político à organização e à atuação políticas! Defender a democracia e a justiça só nos torna "cúmplices de ladrões" e/ou "vendidos ao governo e ao petê" nas cabeças desses imbecis, regadas por esse "jornalismo" abjeto praticado pela "grande mídia" - imbecis que, ao fim e ao cabo, serão os responsáveis pela chegada, à presidência da República, de um traidor citado em delação e cúmplice de um gângster reú no STF pelo crime de corrupção. Quanto ironia do destino, né?

Sendo assim, para garantir nossos direitos, inclusive o de ir e vir sem ser insultado por conta de nossas escolhas políticas, precisamos reagir aos fascistas! José de Abreu reagiu ontem e com razão! Tenho certeza de que o casal de fascistas não repetirá a façanha com Zé nem com qualquer outro! Não temos que ouvir calados nem deixar pra lá. Temos de gritar na mesma altura, fazer o mesmo barraco, impedir as filmagens constrangedoras, responder de imediato aos insultos, denunciar e processar os estabelecimentos que não tomarem providências imediatas e também os agressores. Só assim, esses analfabetos políticos e fascistas alimentados por esse jornalismo irresponsável e nefasto vão se pôr em seus devidos lugares.

Não passarão!

Transcrito de http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/blog-na-rede/2016/04/pingos-nos-is-agora-eu-posso-contar-8094.html

domingo, 24 de abril de 2016

Notícias do Brasil: quando as fontes de informação estão lá fora

Com censura imposta pelas famílias que controlam os meios de comunicação,
temos que recorrer à mídia internacional para saber o que se passa por aqui

Laurindo Lalo Leal Filho

Quem diria que um dia ainda voltaríamos a recorrer à mídia internacional para saber o que acontece no Brasil. Era assim, durante a última ditadura, especialmente depois da promulgação do AI-5, em 1968. Diante da censura do Estado sobre os meios de comunicação só restavam aos brasileiros, para se informar, os veículos produzidos no exterior: jornais, revistas e principalmente o rádio em ondas curtas. Faziam sucesso a British Broadcasting Corporation, conhecida como BBC de Londres, a Voz da América e a Rádio Central de Moscou.



Em meio a guerra fria, um seringueiro no Acre, chamado Chico Mendes dizia que durante a ditadura ouvia a Voz da América saudar o golpe de Estado como uma vitória da democracia e a Central de Moscou denunciar prisões de políticos e sindicalistas. Foi a BBC que anunciou, antes de qualquer emissora brasileira, o derrame sofrido pelo ditador Costa e Silva e sua substituição por uma Junta Militar em 31 de agosto de 1969. 

Era domingo, jogavam no Maracanã diante de 183 mil pessoas as seleções do Brasil e do Paraguai pelas eliminatórias da Copa do Mundo. As emissoras brasileiras só foram dar a nota oficial do governo, informando da troca de comando da ditadura, quando o jogo terminou (vitória do Brasil por um a zero), bem depois da BBC.

A emissora britânica denunciava a prática sistemática de tortura e os assassinatos que vinham sendo cometidos a mando dos militares. Temas tabu, silenciados pela censura interna, como a guerrilha do Araguaia, eram notícia na BBC, assim como a passagem por Londres de personalidades que se opunham ao regime militar, como a arcebispo de Olinda e Recife, dom Helder Câmara.

Enquanto parte da mídia brasileira, tendo as organizações Globo à frente, seguia louvando o regime de força, a BBC informava ao Brasil que o ditador de plantão Ernesto Geisel havia sido hostilizado nas ruas de Londres, durante visita oficial ao Reino Unido. Tudo isso ocorreu há quase 50 anos, num momento de forte repressão política, sem as mínimas garantias individuais. 

Hoje, mesmo num ambiente de maior liberdade, vivemos no campo da informação, situação semelhante. Para sabermos, com clareza, o que se passa por aqui temos que recorrer à mídia internacional. Não por imposição do Estado, mas pela censura imposta aos veículos de comunicação, pelas famílias que os controlam. Outra vez é a BBC, não mais pelo rádio, mas agora através da internet, que dá um panorama equilibrado da situação no Brasil. 

Enquanto a mídia brasileira se alinha como um batalhão militar a favor do golpe, sem mencionar essa palavra, a emissora britânica faz ampla reportagem mostrando a presidenta como vítima de um julgamento sumário, “movido pelo interesse do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha de esconder seus próprios malfeitos e de uma oposição que fecha os olhos para o devido processo legal”.

O jornal El País, da Espanha, que já teve posições menos conservadoras, consegue ainda assim cobrir a situação brasileira de forma muito mais precisa do que a mídia nacional. Por aqui campeia o pensamento único muito bem exemplificado pelo jornalista Gleen Greenwald, repórter do The Guardian, que não teve dúvidas: denunciou o golpe em andamento e traçou um paralelo imaginário com a realidade dos Estados Unidos.

Disse ele: “Considere o papel da Fox News na promoção dos protestos do Tea Party. Agora, imagine o que esses protestos seriam se não fosse apenas a Fox, mas também a ABC, NBC, CBS, a revista Time, o New York Times e o Huffington Post, todos apoiando o movimento do Tea Party”.

Aquilo que é inimaginável na pátria do liberalismo é a dura realidade brasileira. Uma voz única, capitaneada pela TV Globo e pela Globonews, insufla a população a ir às ruas defender o golpe de Estado. A melhor síntese desse alinhamento foi a frase dita, ao vivo, por uma repórter em meio a manifestação golpista: “são muitas as famílias chegando, todas unidas por um mesmo ideal”.  

Que ideal era esse, ela não teve coragem de dizer.

http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/Noticias-do-Brasil-quando-as-fontes-de-informacao-estao-la-fora/12/35983

Porque o Sen. Aloysio Nunes foi a Washington um dia depois da votação do impeachment?

Glenn Greenwald

A Câmara dos Deputados do Brasil votou a favor da admissibilidade do impeachment da
presidente do país, Dilma Rousseff, encaminhando o processo de afastamento para o
Senado. Em um ato simbólico, o membro da casa que deu o voto favorável nº 342, mínimo
para admitir o processo, foi o deputado Bruno Araújo, mencionado em um documento que
sugere que ele poderia ter recebido fundos ilegais de uma das principais empreiteiras
envolvidas no atual escândalo de corrupção do país. Além disso, Araújo pertence ao
partido de centro-direita PSDB, cujos candidatos perderam quatro eleições seguidas contra o
PT, de esquerda moderada, partido de Rousseff, sendo a última delas há apenas 18 meses
atrás, quando 54 milhões de brasileiros votaram pela reeleição de Dilma como presidente.

A reação é tão efusiva que parece uma vitória eleitoral no plano nacional,
que o PSDB teve pela última vez no derradeiro ano do século passado

Esses dois fatos sobre Araújo sublinham a natureza surreal e sem precedentes do processo que ocorreu ontem em Brasília, capital do quinto maior país do mundo. Políticos e partidos que passaram duas décadas tentando — e fracassando — derrotar o PT em eleições democráticas encaminharam triunfalmente a derrubada efetiva da votação de 2014, removendo Dilma de formas que são, como o relatório do The New York Times de hoje deixa claro, na melhor das hipóteses, extremamente duvidosas. Até mesmo a revista The Economist, que há tempos tem desprezado o PT e seus programas de combate à pobreza e recomendou a renúncia de Dilma, argumentou que “na falta da prova de um crime, o impeachment é injustificado” e “parece apenas um pretexto para expulsar um presidente impopular. ”

Os processos de domingo, conduzidos em nome do combate à corrupção, foram presididos por um dos políticos mais descaradamente corruptos do mundo democrático, o presidente da Câmara Eduardo Cunha (em cima, ao centro) que teve milhões de dólares sem origem legal recentemente descobertos em contas secretas na Suíça, e que mentiu sob juramento ao negar, para os investigadores no Congresso, que tinha contas no estrangeiro. O The Globe and Mail noticiou ontem dos 594 membros do Congresso, “318 estão sob investigação ou acusados” enquanto o alvo deles, a presidente Dilma, “não tem nenhuma alegação de improbidade financeira”.

Um por um, legisladores manchados pela corrupção foram ao microfone para responder a Cunha, votando “sim” pelo impeachment enquanto afirmavam estarem horrorizados com a corrupção. Em suas declarações de voto, citaram uma variedade de motivos bizarros, desde “os fundamentos do cristianismo” e “não sermos vermelhos como a Venezuela e Coreia do Norte” até “a nação evangélica” e “a paz de Jerusalém”. Jonathan Watts, correspondente do The Guardian, apanhou alguns pontos da farsa:

Sim, votou Paulo Maluf, que está na lista vermelha da Interpol por conspiração. Sim, votou Nilton Capixaba, que é acusado de lavagem de dinheiro. “Pelo amor de Deus, sim!” declarou Silas Câmara, que está sob investigação por forjar documentos e por desvio de dinheiro público.

É muito provável que o Senado vá concordar com as acusações, o que resultará na suspensão de 180 dias de Dilma como presidente e a instalação do governo pró-negócios do vice-presidente, Michel Temer, do PMDB. O vice-presidente está, como o The New York Times informa, “sob alegações de estar envolvido em um esquema de compra ilegal de etanol”. Temer recentemente revelou que um dos principais candidatos para liderar seu time econômico seria o presidente do Goldman Sachs no Brasil, Paulo Leme.

Se, depois do julgamento, dois terços do Senado votarem pela condenação, Dilma será removida do governo permanentemente. Muitos suspeitam que o principal motivo para o impeachment de Dilma é promover entre o público uma sensação de que a corrupção teria sido combatida, tudo projetado para aproveitar o controle recém adquirido de Temer e impedir maiores investigações sobre as dezenas de políticos realmente corruptos que integram os principais partidos.

OS EUA têm permanecido notavelmente silenciosos sobre esse tumulto no segundo maior país do hemisfério, e sua postura mal foi debatida na grande imprensa. Não é difícil ver o porquê. Os EUA passaram anos negando veementemente qualquer papel no golpe militar de 1964 que removeu o governo de esquerda então eleito, um golpe que resultou em 20 anos de uma ditadura brutal de direita pró-EUA. Porém, documentos secretos e registros surgiram, comprovando que os EUA auxiliaram ativamente no planejamento do golpe, e o relatório da Comissão da Verdade de 2014 no país trouxe informações de que os EUA e o Reino Unido apoiaram agressivamente a ditadura e até mesmo “treinaram interrogadores em técnicas de tortura.”

O golpe e a ditadura militar apoiadas pelos EUA ainda pairam sobre a controvérsia atual. A presidente Rousseff e seus apoiadores chamam explicitamente de golpe a tentativa de removê-la. Um deputado pró-impeachment de grande projeção e provável candidato à presidência, o direitista Jair Bolsonaro (que teve seu perfil traçado por The Intercept no ano passado), elogiou ontem explicitamente a ditadura militar e homenageou o Cel. Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe de tortura da ditadura (notavelmente responsável pela tortura de Dilma). Filho de Bolsonaro, Eduardo, também na casa, afirmou que estava dedicando seu voto pelo impeachment “aos militares de ’64”: aqueles que executaram o golpe e impuseram o poder militar.

A invocação incessante de Deus e da família pelos que propuseram o impeachment, ontem, lembrava o lema do golpe de 1964: “Marcha da Família com Deus pela Liberdade.” Assim como os veículos de comunicação controlados por oligarquias apoiaram o golpe de 1964, como uma medida necessária contra a corrupção da esquerda, eles estiveram unificados no apoio e na incitação do atual movimento de impeachment contra o PT, seguindo a mesma lógica.

Por anos, o relacionamento de Dilma com os EUA foi instável, e significativamente afetado pelas declarações de denúncia da presidente à espionagem da NSA, que atingiu a indústria brasileira, a população e a presidente pessoalmente, assim como as estreitas relações comerciais do Brasil com a China. Seu antecessor, Lula da Silva, também deixou de lado muitos oficiais norte-americanos quando, entre outras ações, juntou-se à Turquia para negociar um acordo independente com o Irã sobre seu programa nuclear, enquanto Washington tentava reunir pressão internacional contra Teerã. Autoridades em Washington têm deixado cada vez mais claro que não veem mais o Brasil como seguro para o capital.

Os EUA certamente têm um longo - e recente - histórico de criar instabilidade e golpes contra os governos de esquerda Latino-Americanos democraticamente eleitos que o país desaprova. Além do golpe de 1964 no Brasil, os EUA foram no mínimo coniventes com a tentativa de depor o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, em 2002; tiveram papel central na destituição do presidente do Haiti, Jean-Bertrand Aristide em 2004; e a então Secretária de Estado, Hillary Clinton, prestou apoio vital para legitimar o golpe 2009 em Honduras, apenas para citar alguns exemplos.

Muitos na esquerda brasileira acreditam que os EUA estão planejando ativamente a instabilidade atual no país com o propósito de se livrar de um partido de esquerda que se apoiou fortemente no comércio com a China, e colocar no lugar dele um governo mais favorável aos EUA que nunca poderia ganhar uma eleição por conta própria.

Embora não tenha surgido nenhuma evidência que comprove essa teoria, uma viagem aos EUA, pouco divulgada, de um dos principais líderes da oposição brasileira deve provavelmente alimentar essas preocupações. Hoje — o dia seguinte à votação do impeachment — o Sen. Aloysio Nunes do PSDB estará em Washington para participar de três dias de reuniões com várias autoridades norteamericanas, além de lobistas e pessoas influentes próximas a Clinton e outras lideranças políticas.

O Senador Nunes vai se reunir com o presidente e um membro do Comitê de Relações Internacionais do Senado, Bob Corker (republicano, do estado do Tennessee) e Ben Cardin (democrata, do estado de Maryland), e com o Subsecretário de Estado e ex-Embaixador no Brasil, Thomas Shannon, além de comparecer a um almoço promovido pela empresa lobista de Washington, Albright Stonebridge Group, comandada pela ex-Secretária de Estado de Clinton, Madeleine Albright e pelo ex-Secretário de Comércio de Bush e ex-diretor-executivo da empresa Kellogg, Carlos Gutierrez.

A Embaixada Brasileira em Washington e o gabinete do Sen. Nunes disseram ao The Intercept que não tinham maiores informações a respeito do almoço de terça-feira. Por email, o Albright Stonebridge Group afirmou que o evento não tem importância midiática, que é voltado “à comunidade política e de negócios de Washington”, e que não revelariam uma lista de presentes ou assuntos discutidos.

O Senador Aloysio Nunes (esquerda) com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (direita) e o Senador José Serra (Foto: Marcos Alves/Agencia O Globo, via AP Images) Nunes é uma figura da oposição extremamente importante - e reveladora - para viajar aos EUA para esses encontros de alto escalão. Ele concorreu à vice-presidência em 2014 na chapa do PSDB que perdeu para Dilma e agora passa a ser, claramente, uma das figuras-chave de oposição que lideram a luta do impeachment contra Dilma no Senado.

Como presidente da Comissão de Relações e Defesa Nacional do Senado, Nunes defendeu repetidas vezes que o Brasil se aproxime de uma aliança com os EUA e o Reino Unido. E - quase não é necessário dizer - Nunes foi fortemente apontado em denúncias de corrupção; em setembro, um juiz ordenou uma investigação criminal após um informante, um executivo de uma empresa de construção, declarar a investigadores ter oferecido R$ 500.000 para financiar sua campanha - R$ 300.000 enviados legalmente e mais R$ 200.000 em propinas ilícitas de caixa dois - para ganhar contratos com a Petrobras. E essa não é a primeira acusação do tipo contra ele.

A viagem de Nunes a Washington foi divulgada como ordem do próprio Temer, que está agindo como se já governasse o Brasil. Temer está furioso com o que ele considera uma mudança radical e altamente desfavorável na narrativa internacional, que tem retratado o impeachment como uma tentativa ilegal e anti-democrática da oposição, liderada por ele, para ganhar o poder de forma ilegítima.

O pretenso presidente enviou Nunes para Washington, segundo a Folha, para lançar uma “contraofensiva de relações públicas” e combater o aumento do sentimento anti-impeachment ao redor do mundo, o qual Temer afirma estar “desmoraliz[ando] as instituições brasileiras”. Demonstrando preocupação sobre a crescente percepção da tentativa da oposição brasileira de remover Dilma, Nunes disse, em Washington, “vamos explicar que o Brasil não é uma república de bananas”. Um representante de Temer afirmou que essa percepção “contamina a imagem do Brasil no exterior”.

“É uma viagem de relações públicas”, afirma Maurício Santoro, professor de ciências políticas da UFRJ, em entrevista ao The Intercept. “O desafio mais importante que Aloysio enfrenta não é o governo americano, mas a opinião pública dos EUA. É aí que a oposição está perdendo a batalha”.

Não há dúvida de que a opinião internacional se voltou contra o movimento dos partidos de oposição favoráveis ao impeachment no Brasil. Onde, apenas um mês atrás, os veículos de comunicação da mídia internacional descreviam os protestos contra o governo nas ruas de forma gloriosa, os mesmos veículos agora destacam diariamente o fato de que os motivos legais para o impeachment são, no melhor dos casos, duvidosos, e que os líderes do impeachment estão bem mais envolvidos com a corrupção do que Dilma.

Temer, em particular, estava abertamente preocupado e furioso com a denúncia do impeachment pela Organização de Estados Americanos, apoiada pelo Estados Unidos, cujo secretário-geral, Luis Almagro, disse que estava “preocupado com [a] credibilidade de alguns daqueles que julgarão e decidirão o processo” contra Dilma. “Não há nenhum fundamento para avançar em um processo de impeachment [contra Dilma], definitivamente não”.

O chefe da União das Nações Sul-Americanas, Ernesto Samper, da mesma forma, disse que o impeachment é “um motivo de séria preocupação para a segurança jurídica do Brasil e da região”.

A viagem para Washington dessa figura principal da oposição, envolvida em corrupção, um dia após a Câmara ter votado pelo impeachment de Dilma, levantará, no mínimo, dúvidas sobre a postura dos Estados Unidos em relação à remoção da presidente. Certamente, irá alimentar preocupações na esquerda brasileira sobre o papel dos Estados Unidos na instabilidade em seu país. E isso revela muito sobre as dinâmicas não debatidas que comandam o impeachment, incluindo o desejo de aproximar o Brasil dos EUA e torná-lo mais flexível diante dos interesses das empresas internacionais e de medidas de austeridade, em detrimento da agenda política que eleitores brasileiros abraçaram durante quatro eleições seguidas.

ATUALIZAÇÃO: Antes desta publicação, o gabinete do Sen. Nunes informou ao The Intercept que não tinha mais informações sobre a viagem dele à Washington, além do que estava escrito no comunicado de imprensa, que data de 15 de abril. Subsequente à publicação, o gabinete do Senador nos indicou informação publicada no Painel do Leitor (Folha de S. Paulo, 17.04.2016) onde Nunes afirma — ao contrário da reportagem do jornal — que a ligação do vice-presidente Temer não foi o motivo para sua viagem a Washington.

Traduzido por: Beatriz Felix, Patricia Machado e Erick Dau

Transcrito de https://theintercept.com/2016/04/18/porque-o-sen-aloysio-nunes-foi-a-washington-um-dia-depois-da-votacao-do-impeachment/

A razão real pela qual os inimigos de Dilma Rousseff querem seu impeachment

David Miranda

Corrupção é só um pretexto para os ricos e poderosos, que falharam em derrotá-la nas eleições



A história da crise política no Brasil, e a mudança rápida da perspectiva global em torno dela, começa pela sua mídia nacional. A imprensa e as emissoras de TV dominantes no país estão nas mãos de um pequeno grupo de famílias, entre as mais ricas do Brasil, e são claramente conservadoras. Por décadas, esses meios de comunicação têm sido usados em favor dos ricos brasileiros, assegurando que a grande desigualdade social (e a irregularidade política que a causa) permanecesse a mesma.

Aliás, a maioria dos grandes grupos de mídia atuais – que aparentam ser respeitáveis para quem é de fora – apoiaram o golpe militar de 1964 que trouxe duas décadas de uma ditadura de direita e enriqueceu ainda mais as oligarquias do país. Esse evento histórico chave ainda joga uma sombra sobre a identidade e política do país. Essas corporações – lideradas pelos múltiplos braços midiáticos das Organizações Globo – anunciaram o golpe como um ataque nobre à corrupção de um governo progressista democraticamente eleito. Soa familiar?

Por um ano, esses mesmos grupos midiáticos têm vendido uma narrativa atraente: uma população insatisfeita, impulsionada pela fúria contra um governo corrupto, se organiza e demanda a derrubada da primeira presidente mulher do Brasil, Dilma Rousseff, e do Partido dos Trabalhadores (PT). O mundo viu inúmeras imagens de grandes multidões protestando nas ruas, uma visão sempre inspiradora.

Mas o que muitos fora do Brasil não viram foi que a mídia plutocrática do país gastou meses incitando esses protestos (enquanto pretendia apenas “cobri-los”). Os manifestantes não representavam nem de longe a população do Brasil. Ao contrário, eles eram desproporcionalmente brancos e ricos: as mesmas pessoas que se opuseram ao PT e seus programas de combate à pobreza por duas décadas.

Aos poucos, o resto do mundo começou a ver além da caricatura simples e bidimensional criada pela imprensa local, e a reconhecer quem obterá o poder uma vez que Rousseff seja derrubada. Agora tornou-se claro que a corrupção não é a razão de todo o esforço para retirar do cargo a presidente reeleita do Brasil; na verdade, a corrupção é apenas o pretexto.

O partido de Dilma, de centro-esquerda, conseguiu a presidência pela primeira vez em 2002, quando seu antecessor, Lula da Silva, obteve uma vitória espetacular. Graças a sua popularidade e carisma, e reforçada pela grande expansão econômica do Brasil durante seu mandato na presidência, o PT ganhou quatro eleições presidenciais seguidas – incluindo a vitória de Dilma em 2010 e, apenas 18 meses atrás, sua reeleição com 54 milhões de votos.

A elite do país e seus grupos midiáticos fracassaram, várias vezes, em seus esforços para derrotar o partido nas urnas. Mas plutocratas não são conhecidos por aceitarem a derrota de forma gentil, ou por jogarem de acordo com as regras. O que foram incapazes de conseguir democraticamente, eles agora estão tentando alcançar de maneira antidemocrática: agrupando uma mistura bizarra de políticos – evangélicos extremistas, apoiadores da extrema direita que defendem a volta do regime militar, figuras dos bastidores sem ideologia alguma – para simplesmente derrubarem ela do cargo.

Inclusive, aqueles liderando a campanha pelo impeachment dela e os que estão na linha sucessória do poder – principalmente o inelegível Presidente da Câmara Eduardo Cunha – estão bem mais envolvidos em escândalos de corrupção do que ela. Cunha foi pego ano passado com milhões de dólares de subornos em contas secretas na Suíça, logo depois de ter mentido ao negar no Congresso que tivesse contas no exterior. Cunha também aparece no Panamá Papers, com provas de que agiu para esconder seus milhões ilícitos em paraísos fiscais para não ser detectado e evitar responsabilidades fiscais.

É impossível marchar de forma convincente atrás de um banner de “contra a corrupção” e “democracia” quando simultaneamente se trabalha para instalar no poder algumas das figuras políticas mais corruptas e antipáticas do país. Palavras não podem descrever o surrealismo de assistir a votação no Congresso do pedido de impeachment para o senado, enquanto um membro evidentemente corrupto após o outro se endereçava a Cunha, proclamando com uma expressão séria que votavam pela remoção de Dilma por causa da raiva que sentiam da corrupção.

Como o The Guardian reportou: “Sim, votou Paulo Maluf, que está na lista vermelha da Interpol por conspiração. Sim, votou Nilton Capixaba, que é acusado de lavagem de dinheiro. ‘Pelo amor de Deus, sim!’ declarou Silas Câmara, que está sob investigação por forjar documentos e por desvio de dinheiro público.”

Mas esses políticos abusaram da situação. Nem os mais poderosos do Brasil podem convencer o mundo de que o impeachment de Dilma é sobre combater a corrupção – seu esquema iria dar mais poder a políticos cujos escândalos próprios destruiriam qualquer carreira em uma democracia saudável.

Um artigo do New York Times da semana passada reportou que “60% dos 594 membros do Congresso brasileiro” – aqueles votando para a cassação de Dilma- “enfrentam sérias acusações como suborno, fraude eleitoral, desmatamento ilegal, sequestro e homicídio”. Por contraste, disse o artigo, Rousseff “é uma espécie rara entre as principais figuras políticas do Brasil: Ela não foi acusada de roubar para si mesma”.

O chocante espetáculo da Câmara dos Deputados televisionado domingo passado recebeu atenção mundial devido a algumas repulsivas (e reveladoras) afirmações dos defensores do impeachment. Um deles, o proeminente congressista de direita Jair Bolsonaro – que muitos esperam que concorra à presidência e em pesquisas recentes é o candidato líder entre os brasileiros mais ricos – disse que estava votando em homenagem a um coronel que violou os direitos humanos durante a ditadura militar e que foi um dos torturadores responsáveis por Dilma. Seu filho, Eduardo, orgulhosamente dedicou o voto aos “militares de 64” – aqueles que lideraram o golpe.


Até agora, os brasileiros têm direcionando sua atenção exclusivamente para Rousseff, que está profundamente impopular devido a grave recessão atual do país. Ninguém sabe como os brasileiros, especialmente as classes mais pobres e trabalhadoras, irão reagir quando verem seu novo chefe de estado recém-instalado: um vice-presidente pró-negócios, sem identidade e manchado de corrupção que, segundo as pesquisas mostram, a maioria dos brasileiros também querem que seja cassado.

O mais instável de tudo, é que muitos – incluindo os promotores e investigadores que tem promovido a varredura da corrupção – temem que o real plano por trás do impeachment de Rousseff é botar um fim nas investigações em andamento, assim protegendo a corrupção, invés de puni-la. Há um risco real de que uma vez que ela seja cassada, a mídia brasileira não irá mais se focar na corrupção, o interesse público irá se desmanchar, e as novas facções de Brasília no poder estarão hábeis para explorar o apoio da maioria do Congresso para paralisar as investigações e se protegerem.

Por fim, as elites políticas e a mídia do Brasil têm brincado com os mecanismos da democracia. Isso é um jogo imprevisível e perigoso para se jogar em qualquer lugar, porém mais ainda em uma democracia tão jovem com uma história recente de instabilidade política e tirania, e onde milhões estão furiosos com a crise econômica que enfrentam.

Transcrito de http://www.theguardian.com/commentisfree/2016/apr/22/razao-real-que-os-inimigos-de-dilma-rousseff-querem-seu-impeachment

Globo envia carta reclamando de jornal britânico e conteúdo é exposto na caixa de comentários


João Roberto Marinho, um dos donos das Organizações Globo, mandou ao jornal britânico
The Guardian uma carta questionando o artigo de David Miranda, que destaca a
participação da rede de comunicação brasileira no golpe contra a presidenta Dilma Rousseff

Por Redação

João Roberto Marinho, um dos donos das Organizações Globo, enviou ao jornal britânico The Guardian uma carta questionando o artigo de David Miranda, que aponta para a participação da rede de comunicação brasileira no golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. O que não imaginava é que seu texto seria exposto na caixa de comentários reservada aos leitores comuns.

“O Grupo Globo cobriu os protestos sem nunca anunciar ou dar opinião sobre elas em seus canais de notícias antes de acontecerem. Globo tomou posições iguais sobre comícios para a presidente Dilma Rousseff e contra o impeachment”, tentou argumentar Marinho, negando qualquer tomada de posição da empresa em relação às tentativas de derrubada da presidenta Dilma Rousseff..

O artigo de Miranda, intitulado “A razão real por que os inimigos de Dilma Rousseff querem seu impeachment”, lembra que “a maioria dos grandes grupos de mídia atuais – que aparentam ser respeitáveis para quem é de fora – apoiaram o golpe militar de 1964 que trouxe duas décadas de uma ditadura de direita e enriqueceu ainda mais as oligarquias do país”.

“Esse evento histórico chave ainda joga uma sombra sobre a identidade e política do país. Essas corporações – lideradas pelos múltiplos braços midiáticos das Organizações Globo – anunciaram o golpe como um ataque nobre à corrupção de um governo progressista democraticamente eleito. Soa familiar?”, continuou.

Leia a íntegra da carta:



Transcrito de http://jornalggn.com.br/noticia/a-carta-de-joao-roberto-marinho-ao-the-guardian

Organismos da ONU manifestam preocupação com crise política no Brasil

"Processos vividos no Brasil neste momento ilustram para o conjunto da América Latina
os riscos e dificuldades a que ainda está exposta a nossa democracia",
disse secretária executiva da Cepal, Alicia Bárcena

Mariana Tokarnia, da Agência Brasil 

Brasília – O Escritório Regional para América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) e a Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (Cepal) divulgaram mensagens ao Brasil diante da crise política no país.

O ACNUDH repudiou discursos de ódio e contra os direitos humanos durante a sessão da Câmara dos Deputados que decidiu pela continuidade do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff no último domingo (17). Já a Cepal manifestou apoio à Dilma e preocupação com a democracia brasileira.



O ACNUDH expressou repúdio à “retórica de desrespeito contra os direitos humanos” durante a votação de admissibilidade do processo de impeachment. O escritório condenou as manifestações do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que homenageou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos mais conhecidos torturadores do regime militar brasileiro.

O Representante do ACNUDH para América do Sul, Amerigo Incalcaterra, fez um apelo ao Congresso Nacional, às autoridades políticas, judiciárias e a toda a sociedade brasileira “a condenar qualquer forma de discurso de ódio e a defender em toda circunstância os valores da democracia e da dignidade humana”, diz o comunicado divulgado pelo escritório da ONU.

Já a secretária executiva da Cepal, Alicia Bárcena, enviou uma mensagem à presidenta Dilma Rousseff em que reconhece avanços sociais e políticos do Brasil na última década e manifesta preocupação com as ameaças à estabilidade democrática brasileira.

“Nos violenta que hoje, sem julgamento ou prova, servindo-se de vazamentos e uma ofensiva midiática que já decidiu pela condenação, tente-se demolir sua imagem e seu legado, ao mesmo tempo que se multiplicam as tentativas de minar a autoridade presidencial e interromper o mandato conferido pelos cidadãos nas urnas.”

Alicia diz ainda que os processos vividos no Brasil neste momento “ilustram para o conjunto da América Latina os riscos e dificuldades a que ainda está exposta a nossa democracia”.

Cerimônia da ONU

A presidenta Dilma Rousseff discursou na manhã de ontem (22) na sessão de abertura da cerimônia de assinatura do Acordo de Paris, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.

Representantes de cerca de 160 países assinaram o acordo de Paris, que visa a combater os efeitos das mudanças climáticas e reduzir as emissões de gases de efeito estufa. A cerimônia de assinatura do documento, fechado em dezembro de 2015, depois de difíceis negociações entre 195 países e a União Europeia, ocorreu no Dia Mundial da Terra.

Para entrar em vigor em 2020, o acordo, no entanto, depende da ratificação por, pelo menos, 55 nações responsáveis por mais da metade das emissões globais de gases de efeito de estufa. A ratificação se dá conforme as regras de cada país: por meio de votação no parlamento ou de decreto-lei, por exemplo.

Forma e Conteúdo

Jânio de Freitas

O entendimento pleno entre Michel Temer e os ministros Celso de Mello e Gilmar Mendes, a respeito da farta percepção de golpe, não surpreende, por nenhum dos três. Mas a adesão de Celso de Mello a manifestações públicas de fundo político, sem razão alguma para sair de sua área, é mais uma contribuição para a difundida inconformidade com o Supremo na atual crise.

Causa mais citada pela inconformidade, a protelada apreciação do afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara –pedido há quatro meses pelo procurador-geral Rodrigo Janot– recebeu afinal uma explicação, embora indireta, do ministro Teori Zavascki. Em síntese, a acusação principal no pedido são os trambiques de Eduardo Cunha contra a ação do Conselho de Ética que o ameaça. No entender de Zavascki e outros, porém, o tema compete à Câmara.

O problema se repete: com o êxito dos pulos de Cunha e o alheamento do Supremo, nada resta a fazer contra o comando da Câmara por um réu em processo no próprio Supremo. E no tribunal os ministros citados e ainda outros, como Dias Toffoli e Cármen Lúcia, dizem que "as instituições e a democracia estão funcionando".

Celso de Mello considera "um gravíssimo equívoco" as referências de Dilma a golpe. Porque "o procedimento destinado a apurar a responsabilidade da senhora presidente da República respeitou todas as fórmulas estabelecidas na Constituição".

As fórmulas. Ou seja, Celso de Mello considera a forma, e se satisfaz. Mas o golpe não está na forma, está na essência, no argumento, que apenas se vale da forma. E este argumento consiste em, de repente, considerar crime, para efetivar um impeachment, uma prática financeira aceita nos governos anteriores e em atuais governos de Estados. Um casuísmo, portanto, um expediente oportunista.

Integrante mais antigo do Supremo, nomeado ainda por Sarney, Celso de Mello é o ministro que mais recorre a bases teóricas do Direito, em imensas digressões engordadas com citações a autores, jurisprudências e votos passados. O seu súbito enlace com o formalismo, e do mais simplório, pode satisfazer-lhe a visão política, mas trai sua dificuldade de sustentar com argumentos jurídicos o golpe da repentina criminalização de créditos suplementares, velhos conhecidos da Fazenda, do Tesouro e do TCU.

Dias Toffoli também tem o que dizer sobre o que os jornais disseram que Dilma diria na ONU mas não disse, e por isso os que inventaram que ela diria agora se dizem surpresos. Toffoli: "Alegar que há um golpe em andamento é uma ofensa às instituições brasileiras. E isso pode ter reflexos ruins no exterior". Os reflexos ruins já estão na imprensa internacional, que não se deixou enganar. Sem falar no manifesto de 8.000 juristas mundo afora, denunciando o golpe.

"Ofensa às instituições" é a trama em montagem para separar o processo, no TSE presidido por Toffoli, sobre as contas de campanha da chapa Dilma-Temer. Com um processo para cada um, como Gilmar Mendes articula, Temer pode ser absolvido enquanto Dilma é condenada. Gilmar Mendes chegou a dizer que "o tribunal (Superior Eleitoral) tinha posição contrária, mas agora podemos ter um quadro novo". Outro casuísmo, outro expediente oportunista. O golpinho filhote do golpe.

Em importante artigo na "Ilustríssima" de domingo (17) (pág. 6), cuja leitura recomendo muito, Daniel Vargas faz uma análise original e aguda do Judiciário e, em particular, do STF. Constitucionalista, doutor em Direito Público por Harvard, em dado exemplo diz: "Cármen Lúcia e Dias Toffoli, ao afirmarem publicamente que impeachment não é golpe, pois está previsto na Constituição, abusam da retórica para, implicitamente, oferecer suporte ao movimento político de destituição da presidente Dilma Rousseff".

É o que fazem também os outros ministros aqui citados, com exceção de Teori Zavascki, que mantém a reserva devida por magistrados. São 35 os partidos com registro. Mais os meios de comunicação. O Supremo Tribunal Federal não precisa ser mais do que Supremo Tribunal Federal. Aliás, precisa-se que seja o Supremo Tribunal Federal.ma e conteúdo

Transcrito de Folha de S. Paulo, 24.04.2016.

Tempos Políticos Tumultuosos no Brasil

A entrevista de Glenn Greenwald à CNN detalha, aprofundando as ações de sabotagem que integram o Golpe contra o Governo da Presidenta Dilma Rousseff, e ampliando a compreensão internacional ao expor os principais agentes do PSDB, partido derrotado em quatro eleições majoritárias seguidas, e o PMDB, ejetado do Governo, a partir do traição do vice Michel Temer. Ouçamos e leiamos! 



domingo, 17 de abril de 2016

Em nome do quê?

Pedro Gabriel Weisheimer Ribeiro

Em nome da argumentação
Em nome dos pobres
Em nome da liberdade
Em nome da vida
Em nome da racionalidade
Em nome das pessoas
Em nome dos direitos humanos
Em nome das escolas federais que serão fechadas ou abandonadas pelo governo
Em nome do povo brasileiro que não tem condições de se manter sozinho, por falta de oportunidade de estudo
Em nome da educação
Em nome do orgulho nacional
Em nome da humilhação que o Brasil acaba de sofrer, com o mundo como testemunha
Em nome da nossa história
Em nome daqueles que sofreram pela liberdade
Em nome dos heróis que foram contra a corrupção do Cunha
Em nome daqueles que lutaram para que 2016 não seja um novo 1964
Em nome da economia
Em nome da nação
Em nome da moral
Em nome dos bons costumes
Em nome da HONRA, palavra que, há muito tempo, foi esquecida pelo povo
Em nome daqueles que não puderam falar, pois a fome lhes tirou a voz
Em nome daqueles que gritaram sem nunca terem sido ouvidos
Em nome daqueles que foram enterrados como indigentes, se é que foram enterrados
Em nome daqueles que nunca desistiram
Em nome da comunidade LGBT, que mesmo que eu não faça parte, defendo
Em nome dos oprimidos
Em nome de tudo que sempre acreditei
Em nome do que me foi ensinado, não apenas em casa, mas que aprendi também na escola, nos documentários e nos livros 
Em nome daqueles que não mais lutarão, pois foram traídos pelo seu próprio povo
Em nome do Exagerado (Cazuza, para quem não souber) que expressou meus atuais sentimentos nas músicas "Brasil" e "Ideologia"
Em nome daqueles que foram condenados, tendo por único crime acreditar no futuro desta nação
Em nome daqueles que perceberam o que está acontecendo
Eu aqui digo: Não sou petista, sou BRASILEIRO;
O mundo está olhando para o Brasil e pensando "Por que prender alguém cujo único crime foi servir ao povo sem depender de corruptos?";
Não sou de esquerda, não sou de direita, sou de futuro, sou de avanço;
Não apoio esquerda, não apoio direita, apoio o Brasil;
Não consigo acreditar que o povo votou a favor de uma ideia proposta pelo Eduardo Cunha, que se a Dilma "fez merda", ele criou o conceito dessa palavra;
Não consigo crer que, muito provavelmente, perderei amizades apenas por ser contra o atraso do Brasil;
Não consigo crer que pessoas que não tinham nenhum argumento, apenas homenagens e invocações (dando grande ênfase a Jair Bolsonaro que invocou o nome de um assassino e torturador como "terror de Dilma") a familiares e outros políticos ligados à ditadura militar;
Não consigo crer que tanta gente foi influenciada pelo ovo que a ditadura militar deixou (a Rede Esgoto de Televisão, também conhecida como TV Globo);
Não consigo crer que estamos gestando o ovo de uma serpente;
Não consigo crer que nós clamamos por uma crise;
Faço minhas as palavras de Padmé Amidala, personagem da série de filmes Star Wars, que representou bem o Brasil, de que "Então é assim que a liberdade morre - com um estrondoso aplauso";
Recuso-me a crer que isso seja apenas burrice do povo;
Recuso-me a crer que isso seja algo legal;
Recuso-me a aceitar este golpe;
Recuso-me a acreditar que isto tenha acontecido;
Recuso-me a crer que isso levará o país adiante;
Recuso-me a crer que as pessoas realmente possam crer nisto;
Recuso-me a crer que isto não seja apenas um terrível pesadelo;
Recuso-me a crer que a ignorância do povo seja assim tão real;
Recuso-me a ficar calado;
E desafio a todos que são favoráveis a este golpe, a todos que concordam com as ideias de Jair Bolsonaro, a todos que clamam por uma ditadura, a todos que clamam pela perda da liberdade: pelo menos tenham culhão, tenham coragem, de assumirem que são traidores de seu povo, de sua pátria, de sua mãe, que estão tirando a comida da boca de milhares, senão milhões, de crianças do Brasil!
Pelo menos admitam seu fascismo e sua burguesia;
Pelo menos admitam sua exacerbada fé em um futuro governo que será composto pelas novas pragas do milênio;
Pelo menos admitam que são o que são: traidores, assassinos, corruptos;
Eu rejeito este golpe, eu rejeito este pensamento e eu digo:
Tenho vergonha destes meus compatriotas que praticam um genocídio em seus semelhantes, no sangue de seu sangue, nos filhos da mesma pátria-mãe Brasil.
Peço desculpas ao povo, pois não foi o povo a ser favorável a todas estas coisas, mas sim os seus representantes ou seu silêncio.
Ao invés de brigarmos por "Esquerda ou Direita?" deveríamos conversar sobre "Avanço ou Retrocesso?" .
Aos covardes eu digo: Parabéns, acabam de destruir tudo que foi construído com sangue, suor, sofrimento e lágrimas.
Venceram a noite, venceram a batalha, mas não venceram esta guerra política.
A luta continuará, a justiça talvez tarde mas não falhará, a justiça prevalecerá e um dia nós poderemos, novamente, dizer, com orgulho, que somos brasileiros.
Uma boa noite a todos e que, se alguém tiver alguma crença, que sua divindade nos proteja.
Eu peço para que a nossa inteligência, a nossa racionalidade nos protejam.


O impedimento: a repetição da tragédia brasileira?

Leonardo Boff*

A cordialidade brasileira, em sua face sombria, descrita por Sérgio Buarque de Holanda, que se expressa pelo ódio e pela intolerância, fornece o húmus de onde pode se precipitar novamente a  tragédia brasileira.

Em que consiste esta tragédia? Nesse fato: sempre que o povo, os pobres, seus movimentos e seus líderes carismáticos irrompem no cenário político, surgem as velhas elites que carregam dentro de si a estrutura da Casa Grande para  negar-lhes direitos, conspirar contra eles, difamar e criminalizar suas lideranças, empurrá-los para as periferias de onde nunca deveriam ter saído. Aos negros, aos índios, aos quilombolas, aos  pobres e a outros discriminados se lhes negam reconhecimento e dignidade. E contudo constituem a grande maioria do povo brasileiro. É o que está ocorrendo atualmente no Brasil. Face a todos esses, as oligarquias e, em geral, os conservadores e até reacionários, mostram-se cruéis e sem piedade, apoiados por uma imprensa malvada e sem vínculo com a verdade pois distorce e mente.



O que é intolerável para a classe dominante é o fato de um operário de pouca escolaridade ter se tornado presidente do país. O que mais os irrita é dar-se conta de que ele, Luiz Inácio Lula da Silva, é muito mais inteligente que a maioria deles, possui um liderança carismática que impressionou o mundo e que seu governo fez mais transformações que eles em todo o tempo em que estiveram no poder. Com ele o povo  ganhou centralidade e o considera como o maior presidente que este país já teve. Com frequência se ouve de suas bocas: “foi um presidente que sempre pensou nos pobres e que implantou  políticas que não apenas melhoraram nossas vidas mas nos devolveram dignidade. Éramos  invisíveis, agora podemos aparecer ”.

A atual conflagração política que atingiu níveis vergonhosos  de expressão nasce desta mudança operada no andar de baixo, negada pelos do andar de cima. Estes escandalizam o mundo por sua riqueza e poder. Jessé de Souza, presidente do IPEA revelou recentemente que o topo da pirâmide social brasileira é composta por cerca de 71 mil bilhardários representando apenas 0,05% da população adulta do país. E são beneficiados por isenções de impostos sobre lucros e dividendos, enquanto os trabalhadores carregam o pesado fardo dos impostos.

Estes endinheirados possuem sua expressão política nos partidos conservadores  e com síndrome de vira-latas, porque  não conseguem ser aquilo que gostariam de ser: sócios, ainda que meros agregados, do projeto-mundo hegemonizado pelos EUA.

Eles não negam a democracia, pois seria vergonhoso demais. Mas querem um estado democrático não de direito mas de privilégio, estado patrimonialista que lhes permite o enriquecimento, ocupando altas funções de governo e controlar os órgãos reguladores pelos quais garantem seus interesses corporativos. O grosso do PSDB e do PMDB (graças a Deus há neles pessoas honradas que pensam no Brasil e não só nas próprias vantagens) sem citar outros partidos menores, se inscrevem dentro deste arco político de uma modernidade conservadora e anti-popular.

Ao contrário, os grupos progressistas que ganharam corpo no PT e nos seus aliados, postulam um Brasil autônomo, com projeto nacional próprio que resgata a multidão dos injustamente deserdados com políticas sociais consistentes apontando para uma completa emancipação. Estes agora ocupam o estado que se vê cercado como que por uma matilha de cães raivosos que querem liquidá-lo.

São esses que estão promovendo o impedimento da presidenta Dilma Rousseff sem base jurídica consistente de crime de responsabilidade. Dois meses após a sua vitória em 2014, o PSDB já conclamava nas ruas um impedimento da presidenta sem apontar as condições constitucionais que permitissem tal ato extremo. Primeiro se condena, depois procura-se algum eventual crime. Como não lhes importa a democracia, apenas aquela de sua conveniência, passam por cima de leis e normas constitucionais para arrebatar  o poder central que não conseguiriam conquistar pelo voto. Não é de se admirar que este partido arrogante, cuja base social é a classe média conservadora, esteja se diluindo internamente, por não manter ligação orgânica com o povo e com seus movimentos e por sustentar um projeto neocolonialista.

Estes com outros articulam um golpe parlamentar e renovar a tragédia política brasileira como foi com Vargas e com Jango, culminando com a ditadura  militar. Agora no lugar dos tanques e das baionetas funcionam as tramoias, forjando uma argumentação insustentável juridicamente para afastar a presidenta. Querem ocupar o estado para realizarem seu projeto privatista e antinacional. Se ocorrer uma convulsão social, porque os milhões dos que saíram de miséria não aceitarão mudanças contra eles, os golpistas serão seus principais responsáveis. Não podemos permitir que a tragédia novamente se consuma.

* Teólogo,  escritor e articulista do JB on line


Para cantar


O MORRO MANDOU AVISAR
Tico Santa Cruz e Flávio Renegado
(Legendado)
Para ouvir, clique aqui


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