sábado, 7 de abril de 2012

Santa Teresa vive a paixão nos trilhos do bonde

Antonio Carlos Ribeiro

Rio de Janeiro – A celebração da Paixão do Senhor na Paróquia São Paulo Apóstolo ganhou os traços da luta de Santa Teresa por cidadania. Os moradores ainda vivem sob o impacto da paralisação dos bondes – fundamentais à vida comercial e turística do bairro – após o acidente ocorrido em de 27 de agosto do ano passado. O rito compreendeu 15 estações, da saída da Igreja à entrada da garagem dos bondes e o retorno.


O rito foi traduzido pelo reverendo Daniel Cabral Jr e adaptado pelo reverendo Luiz Caetano Grecco Teixeira da liturgia da St. George College, da Igreja Episcopal de Jerusalém e Oriente Médio, para a situação de angústia e sofrimento das famílias das seis pessoas falecidas, dos efeitos da falta do bonde – queda da atividade comercial, redução do transporte, perda de identidade, crise de sociabilidade, demissão de funcionários dos bondes e o projeto do governo estadual visando o turismo – que angustiam a população do bairro.


As estações lembraram o julgamento de Jesus Cristo, a caminhada para o Calvário, a primeira queda, o encontro de Jesus com sua mãe, a ajuda recebida de Simão Cirineu, tem seu rosto enxugado por Verônica, caiu pela segunda vez, falou com as mulheres que choravam, caiu pela terceira vez, foi despojado de suas vestes, sofreu a crucificação, morreu, teve seu corpo retirado da cruz e entregue a José de Arimatéia, foi sepultado e teve sua ressurreição anunciada.


O rito litúrgico foi acompanhado pelos moradores do bairro, cristãos e de outras religiões, com os responsos litúrgicos, orações pelos sofredores do tempo atual, identificados com o sofrimento do Senhor. Lembram os condenados, os violentos, doentes, famintos, pais e mães, nos que vêm o rosto desfigurado do Cristo nos sofredores, nos que sofrem fadiga mental e espiritual, nas crianças e idosos recolhidos das ruas, nos moribundos e nos indigentes. Após as estações da via sacra, as pessoas entraram na comunidade para a unção dos santos óleos, se preparando para a vigília pascal.


Uma surpresa é a acolhida da população ao ato cúltico. Além dos que acompanharam - os membros da Associação de Moradores do bairro, os funcionários do bondes, os parentes das vítimas – os que surgem nas janelas, sentam às mesas dos bares ou estão em rodas de amigos, formando as dezenas de pessoas que ‘esquecem a sua paixão para viver a do Senhor’, como cantou Milton Nascimento.

Um comentário:

Pr. Edson disse...

Interessante dizer que para os cidadãos da cidade do Rio de Janeiro tais problemas resultantes do acidente em Santa Teresa, estariam sendo resolvidos na mais perfeita paz. Todavia, o claro desprezo político onde a benfeitoria de alguma coisa pública fica sempre vinculada a quem fez esta benfeitoria a não ao compromisso assumido na campanha eleitoral pelos políticos afins, sejam eles governadores, prefeitos, deputados ou vereadores. Tal desprezo político ao bairro de Santa Teresa conforme relato teria viés de ridicularidade, se não fosse lastimável, caro professor Antônio.

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