domingo, 15 de julho de 2012

“Na Estrada”. E para ficar

Antonio Carlos Ribeiro

O filme Na Estrada (On The Road, EUA, 2012, dirigido por Walter Salles, com Sam Riley, Garrett Hedlund, Kristen Stewart, Kirsten Dunst, Viggo Mortensen, Amy Adams, Alice Braga, Steve Buscemi) é uma marca registrada da geração beat, ao suceder a geração perdida de Ernst Hemingway e deixar sua marca na literatura.


A película digital é baseada na obra de Jack Kerouack, o escritor beat e segue a rota de Dean e Sal – que contracenam com um conjunto de personagens que aparecem – nas cidades e estradas dos Estados Unidos, de Nova York às cidades fronteiriças com o México.

Os beats eram jovens que marcaram época como seres de certa pureza, iluminação, por isso ‘beatíficos’. Viveram um tempo de buscas e confrontos, por isso sua busca era afirmativa, intensa e com a estrada embarreirada por sexo, drogas e os ritmos que precederam o surgimento do rock. Há os que afirmem que encontraram seu próprio caminho, algo entre o senso de coletividade do anos 50 e a tomada da responsabilidade pessoal, dos 70.

Sem conformismo diante dos limites da sociedade, os beats propunham sexo selvagem, drogas recreativas, distância das raízes familiares e novas formas de expressão, como a escrita experimental de todos os tipos. A busca pelo autoconhecimento é frenética e ganha a força com que desemboca no movimento hippie.

Esse período após a 2ª guerra mundial vai iniciar um conjunto de mudanças, a começar nos EUA como país líder do grupo de aliados, ao perceber as possibilidades dessa chance ímpar e partir freneticamente em busca da liderança, com os diversos impactos que isso causou à sua população – em especial aos jovens – mas também à dos países aliados, tão logo começaram a passar à condição de aliados-subalternos ou inimigos, definindo sua condição.

O impacto desse pano de fundo se reflete nas diversas situações mostradas em Na Estrada, com destaque para a condição de vida dos cidadãos americanos, especialmente os que não vivem nas duas costas marítimas. A busca por trabalho, especialmente carregando caminhões, colhendo algodão ou se empregando em fazendas serão o cenário das aventuras de Sal, cujos apontamentos frequentes serão a matéria prima de On the Road.

Duas participações brasileiras mostram qualidade – sobretudo num elenco de nomes conhecidos – um na direção e outra como coadjuvante. Trata-se do diretor Walter Salles, que tem recebido elogios da crítica e demonstrado avanços  no domínio da linguagem cinematográfica, e da atriz Alice Braga, que vive uma imigrante mexicana a quem ‘Sal’ conhece num acampamento de operários que colhem algodão numa fazenda na divisa com o México.

Esse momento marca o início da migração dos mexicanos para os EUA, em busca de condições vida e ao custo de baixos salários, a que se submetem para fugir da fome. Os salários que giram em torno de US$ 1 por um dia inteiro de trabalho, sob o sol e o vento de regiões desertificadas, dão uma noção do perfil das relações de trabalho na metade do século passado.

A atriz Alice Braga concedeu entrevista mostrando-se satisfeita com sua participação, com o perfil da personagem e da experiência de acompanhar o grupo por três semanas. “Achei muito especial fazer uma personagem como ela, jovem, mulher, com filho. Ela é muito forte isso para essa década de 40 em que ela vive, mas é uma mulher a quem a vida impõe uma maturidade. Mas ela não sente autopiedade e é uma personagem forte”.

Ela se refere às cenas com ‘Sal’ como “um encontro inesperado, em que os dois estão abertos para viver aquilo. Acho que ele traz humor, e ela traz exatamente o que ele está buscando na jornada dele. Ele está buscando o desconhecido, está buscando experiências diferentes”. E relata que por causa da programação do roteiro, ficou filmando durante 3 semanas com o grupo. Com todas as oscilações da estória, a trama passa a plausibilidade dessas vida Na Estrada. É a leitura destes anos de promessas que se frustram, o que faz do livro/filme um must na cultura do pós-guerra. O trabalho do diretor levou-o a Cannes, representando o Brasil.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=uUzklNReJbs

Um comentário:

rose disse...

Antonio, mais uma vez você além de acertar 'na mosca' na sua análise, ainda traz o contexto da geração beat que pouca gente vai conhecer e poder transmitir... Mesmo o diretor apresenta o tema sem se preocupar com essa contextualizaçao.
Achei o filme com boas reflexões mas extremamente longo e cansativo... Me dá a impressão de que o Walter Salles teve dificuldade em editar

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