sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Merkel e Hollande debatem euro, homossexualidade e casamento

Antonio Carlos Ribeiro

Berlim – A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente da República Francesa, François Hollande, se reuniram esta semana para debater a crise no Euro. Ela está disposta a fazer esforços para assegurar a moeda. Ele disse querer abrir "um novo caminho na Europa". Divergências dos líderes das maiores economias europeias tocou no casamento homossexual e na reação da Igreja Católica.


De tradição evangélica e filha de pastor, Merkel está determinada a manter a estabilidade da moeda europeia. Já Hollande, lembrou que o país “sempre soube superar os desafios", falou da dívida, do crescimento frágil, do desemprego, da falta de competitividade, do casamento homossexual e da adoção de crianças.

Merkel joga na cadência da correlação de forças políticas, na desigualdade Baviera-Saxônia e na atuação de um presidente ex-pastor. Já Hollande fez mudanças estruturais, vendeu parte da frota oficial, diminuiu salários em alguns postos, organizou a economia e cortou recursos, incluídos € 2,3 milhões da Igreja Católica.

O arcebispo de Paris e presidente da Conferência Episcopal Francesa, cardeal André Vingt-Trois, decidiu romper a tradição de laicidade e pediu orações "por aqueles e aquelas que foram recentemente eleitos para legislar e governar: que o seu senso do bem comum da sociedade prevaleça sobre demandas particulares e que tenham a força de seguir as indicações da sua consciência", sem garantias da audição divina.

Já Hollande soube, por pesquisa recentemente publicada, que 65% dos franceses é favorável ao casamento homossexual, e 53 à adoção. O casamento homossexual já é legal em vários países europeus católicos, como Portugal e Espanha.

Merkel parece jogar numa conjuntura conservadora, torcendo pela inexistência de conflitos, especialmente políticos e sociais, mas com os olhos nos índices da economia. Já o presidente francês gostou ao saber que uma jovem considera “que o que há de melhor para uma criança é um pai e uma mãe, mas isso não significa que os homossexuais sejam rejeitados da igreja”.

O Governo de Hollande causou impacto nos últimos meses. Milhões de euros que financiavam escolas privadas foram usados na construção de 4.500 creches e 3.700 escolas fundamentais. Além de recuperar a infraestrutura nacional, tem proposta que desagrada à Igreja: casamento homossexual, adoção e eutanásia.

A reação da Igreja, de orar pedindo senso de bem comum, propôs uma oração para crianças e jovens, pedindo "para que deixem de ser o objeto dos desejos e dos conflitos dos adultos para se beneficiarem plenamente do amor do pai e da mãe", uma crítica se dirige “aos genitores", que agora podem ser dois pais ou duas mães.

Hollande leiloou carros oficiais, aboliu o carro da empresa, usou dinheiro para criar institutos e garantir o emprego de 2560 jovens cientistas desempregados. Aboliu o paraíso fiscal, decretou a taxa de emergência de aumento de 75% de impostos para famílias que ganham mais de 5 milhões de euros/ano. Com esse dinheiro e sem um euro do orçamento, contratou 59.870 diplomados desempregados, 6.900 a partir de 1 de julho e de 2012, e outros 12.500 em 1 de setembro, como professores na rede pública.

Aprovou o "bonus-cultura", permitindo pagar zero de impostos se criar uma cooperativa, abrir uma livraria ou contratar licenciados desempregados, economizar dinheiro de gastos públicos e contribuir para o emprego e o novos investimentos. Substituiu subsídios estatais para revistas, fundações e editoras por "empreendedores estatais" de atividades culturais com base nos planos de negócios e estratégias de marketing avançado.

Aos bancos, Hollande deu uma escolha, sem impostos: quem fizer empréstimos bonificados às empresas francesas que produzem bens, recebe benefícios fiscais. Quem oferecer investimentos financeiros, pagará taxa adicional: pegar ou sair. E reduziu 25% do salário dos funcionários do executivo, 32% dos deputados e 40% dos funcionários públicos com mais de € 800.000/ano.

Merkel usa as políticas próprias de seu partido. Não recebe críticas da Igreja, por ter no presidente - um pastor aposentado, o presidente. E não abandonou os esforços para proteger a moeda e a Comunidade Europeia. Já o líder francês tem preocupações mais objetivas: desonerar a folha de pagamentos, garantir empregos de cientistas e técnicos e cuidar de minorias desprivilegiadas. E a Igreja francesa, cuja laicidade não resistiu ao corte orçamentário -  volta a tentar envolver-se em questões de Estado, atitude posta sob suspeita.

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