A eleição do brasileiro José Graziano da Silva como novo diretor-geral da agência da ONU para Agricultura e Segurança Alimentar (FAO, a sigla em inglês) na 37ª Conferência do organismo, dia 27, em Roma, é vista como mais uma vitória da diplomacia.
Ele assumirá o cargo em janeiro de 2012.Graziano, que já é representante regional da FAO para a América Latina e o Caribe desde 2006, recebeu 92 dos 180 votos contabilizados, na eleição em que derrotou Miguel Ángel Moratinos, ex-ministro de relações exteriores da Espanha, e Franz Fischler, ex-comissário de agricultura da União Europeia.
Isso significa que “a FAO e o Programa Mundial de Alimentos (PMA) passaram da visão estreita de ajuda e distribuição de alimentos para um enfoque orientado à segurança e soberania alimentar”, assegurou Faria.
Ex-ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Graziano participou da criação do programa Fome Zero – uma das áreas mais exitosas do governo anterior, que o gabaritou à função.
Para o coordenador do Departamento para Serviço Mundial, a segurança alimentar não é apenas uma questão de pobreza, mas principalmente uma questão de justiça. “Ela envolve todo o sistema de produção alimentar e afeta grupos de interesses corporativos, governamentais e transnacionais”. Por isso, a gestão da superação da miséria firmou-se como área fundamental da administração pública.
O Fome Zero passou a ser política de Estado e teve um impacto tão grande que até o jornal Le Figaro afirmou que Lula colocou o Brasil na modernidade. “Escutei de altos funcionários da FAO e do PMA que todos buscavam um ‘brasileiro’ para ocupar o cargo máximo da organização”, lembrou Faria.
A partir de janeiro, Graziano enfrentará o problema das verbas relativamente enxutas, comparadas com as de outras agências da ONU, que pode frear a atuação do órgão. Atualmente, a FAO conta com orçamento de US$ 1 bilhão (R$ 1,6 bilhão), além de US$ 1,2 bilhão (R$ 1,9 bilhão) advindos de doações voluntárias, o que impede que a entidade ajude mais países em dificuldades no setor alimentar, apesar da grande expertise na área agrícola.
A vitória brasileira se deve em parte ao chanceler Antonio Patriota, que, ao defender o nome de Graziano, disse que o Brasil adotou políticas bem-sucedidas na agricultura e no combate à fome, que podem ser aplicadas em outros países em desenvolvimento.
“A formação multicultural e multiétnica do Brasil contribui para a adaptação de nossas propostas às características de outros países da América Latina, África, Oriente Médio, Ásia e Oceania", apontou.
O Brasil conseguiu se tornar o maior exportador líquido de alimentos do mundo, conjugar a produção de biocombustíveis com a de alimentos, e proteger o meio ambiente nos últimos anos, lembrou o chanceler brasileiro.
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