quinta-feira, 16 de junho de 2011

Arns, Wright, Vanucchi e Eny Moreira são aplaudidos de pé

Antonio Carlos Ribeiro

São Paulo – O Cardeal Arcebispo emérito de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, e o Pastor Presbiteriano Unido James Wright, Paulo Vanucchi e Eny Raimundo Moreira foram aplaudidos de pé na cerimônia de repatriação da documentação da ditadura militar e civil. Wright faleceu em 1999 e foi representado pela filha Delore Wright.

O ex-Secretário de Direitos Humanos do Governo Lula, Vanucchi insistiu na Comissão da Verdade. Diante da mensagem de Arns dizendo que “não compareceria porque não merece homenagens”, Eny Moreira contestou: "Dom Paulo não está falando a verdade, ele merece todas as homenagens. Quero que ele receba este recado: o senhor foi aplaudido de pé duas vezes por este auditório”.


O Projeto “Brasil: Nunca Mais”, que ousou reunir clandestinamente um extenso acervo sobre a ditadura no Brasil lançou sua versão digital nesta ocasião. Os documentos guardados no Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra, na Suíça, e no Center for Research Libraries, em Chicago, nos Estados Unidos, para escapar à fúria covarde da destruição das provas, foram repatriados.

A idealizadora do Brasil: Nunca Mais, a advogada Eny Raimundo Moreira, recebeu homenagem pela proposta de levantamento dos crimes praticados entre 1979 e 1985, que recebeu apoio de setores católicos e protestantes progressistas para guardá-los em lugar durante os crimes contra a humanidade pela Segurança Nacional.

Ao saberem que os processos da Justiça Militar poderiam ficar até 24 horas em posse dos advogados dos envolvidos, um grupo passou a fazer cópias secretas dos documentos. O material era enviado para São Paulo, onde era organizado por voluntários, sob a coordenação do Cardeal Arns e do Reverendo Wright, e enviado para o exterior.

O projeto nasceu com o intuito de evitar o desaparecimento de vários documentos, durante o processo chamado de “redemocratização do país” e teve a primeira parte publicada como livro com o mesmo nome. A publicação, lançada pela Editora Vozes, dos Franciscanos de Petrópolis, está na 37ª edição. Após o lançamento em 15 de julho de 1985, ele foi reimpresso mais de 20 vezes nos dois primeiros anos.

O trabalho sigiloso teve como resultado cerca de um milhão de cópias de documentos do Superior Tribunal Militar, microfilmadas e enviadas para o exterior, para ficarem protegidas e escaparem da possível apreensão. 707 processos completos e dezenas de processos incompletos já fazem parte do projeto Brasil: Nunca Mais.

O Conselho Mundial de Igrejas e o Center for Research Libraries entregaram cópias de seus acervos à Procuradoria-Geral da República, representada pelo subprocurador-Geral da República, Aurélio Virgílio Veiga Rios. Essas cópias serão agora digitalizadas para compor o projeto Brasil Nunca Mais Digital. O conteúdo ficará disponível na internet, através da página do Arquivo Público do Estado de São Paulo.

O ex-Secretário de Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vanucchi, que lutou pelo direito humano à memória dos mortos na repressão, sofrendo confrontos e ameaças, aproveitou a ocasião para lembrar ao Congresso Nacional que “o Poder Legislativo não poder perder a chance de aprovar a Comissão da Verdade, pois já temos 22 anos de democracia consolidada no Brasil”.

A abertura coordenada por Carlos de Almeida Prado Bacellar, do Arquivo Público do Estado de São Paulo. Houve exposições de Marcelo Zelic, do Armazém Memória, e de Marlon Alberto Weichert, do Ministério Público Federal. As reflexões, coordenadas por Jaime Antunes, do Arquivo Nacional, tiveram a participação de Wadih Damous, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RJ), Gilney Vianna, do Coordenador do Projeto Memória e Verdade da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Luiz Daniel Pereira Cintra, Secretário Adjunto da Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo, e Paulo Abrão Pires Junior, Secretário Nacional de Justiça.

Após a homenagem a Dom Paulo Evaristo Arns, Rev. Jaime Wright (in memorian), Paulo Vannuchi e Eny Raimundo Moreira, houve o ato de Entrega dos Acervos ao Procurador-Geral da República, coordenada por Aurélio Virgílio Veiga Rios, Subprocurador-Geral da República. O bispo anglicano Júlio Murray, Presidente do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), Pedro Gontijo, Secretário-Executivo da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, o bispo católico Manoel João Francisco, Presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) e o pastor luterano Walter Altmann, Moderador do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), falaram em nomes destes organismos.

As testemunhas formais do ato de entrega foram Eliana Rolemberg, da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) e Anivaldo Padilha, de KOINONIA - Presença Ecumênica e Serviço. E por fim os pronunciamentos de James Simon, do Center for Research Libraries, do pastor Olav Fykse Tveit, Secretário-Geral do Conselho Mundial de Igrejas, de Sidney Beraldo, Secretário da Casa Civil de São Paulo, de Pedro Taques,
Senador da República, e de Roberto Monteiro Gurgel Santos, Procurador-Geral da República.

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