quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Uma casa para os moradores de rua II - O Cecon e a reintegração das perdas

Antonio Carlos Ribeiro

O Centro de Convivência Monte Alverne (Cecon) começou suas atividades em 9 de julho do ano passado. A casa já recebeu 80 pessoas para o atendimento que presta às 6ª feiras. Diferente da Prefeitura do Rio de Janeiro – que criou um choque de ordem, com uso regular de força, até letal em alguns momentos – o Cecon (R. Silvio Romero,49 – Lapa) adotou o lema: “não queremos recolher, mas acolher”, lembrou D. Celso de Oliveira.

As crianças almoçam primeiro

O esforço que parece inexpressivo à primeira vista faz grande diferença. Negar a humanidade ao fazer o que se supõe ser um bem, adotar atitudes policialescas, criar abrigos em pontos de distribuição de drogas e negar segurança a grupos cuja condição supõe fragilidades não é levado a sério – uma metáfora para denunciar a indiferença - nem pelas populações a serem beneficiadas.

Esse grupo humano reflete o ambiente e as condições em que vivem, por isso entre os atendidos há alcoólatras, dependentes químicos, psicóticos, heterossexuais, homossexuais e travestis. Muitos trazem marcas de doenças físicas e psicológicas. São grupos humanos afetivamente feridos, vulneráveis e em situação de risco.



Massagem em pés que caminham muito

O pedagogo e professor de teatro Sidney Guedes, descobriu na arte um caminho para buscar a recuperação de pessoas. Os sociólogos apontam duas situações para classificar esse comportamento. Os que são “da rua”, porque vivem na rua, conhecem os códigos, se acostumaram e rejeitam viver em outro ambiente. E os que estão “na rua”, por razões como desemprego, rompimento de laços familiares ou enquanto buscam novo caminho.

Guedes lembrou que o espaço da casa cria possibilidade de reconstituição afetiva. “Assistir ‘sessão da tarde’ me fez ver o que eu perdi quando tinha casa”, lhe confidenciou um albergado. Isso o fez lembrar que o morador de rua Kazan, tinha trabalho, família e até projeção intelectual em sua área, mas quando a mulher morreu, caiu na rua. Então constatou: “Quando comecei a falar da minha história, comecei a elaborá-la”, ressignificando o presente.

O direito ao cuidado com os cabelos

“Abrigo é pontual, não é permanente”, disse Guedes. Mas essa pontualidade é marcada por “atividade sócio-educativa, escuta técnica – psicológica – e trabalho em rede”. Para explicar o processo ele lembra o papel do teatro de Artaud e das marionetes de Craig, lembrando que, afetivamente, “tudo junto tem um eixo”.

Parte da experiência usada na atividade pedagógica, ele traz de seu trabalho de formação na Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, atendendo 7.800 agentes com atividade lúdica e reflexiva. Ele dirige da peça teatral “O preço de uma escolha”, escrita, produzida e dirigida pelo Grupo de Relacionamento que atua com teatro, escolas, Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e Comunidades, em atividades de conscientização nas áreas de ecologia, drogas, teatro, música e inclusão digital.

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