terça-feira, 25 de outubro de 2011

Uma casa para os moradores de rua I - A igreja na rua

Antonio Carlos Ribeiro

O Centro de Convivência Monte Alverne (Cecon) acolhe moradores de rua no centro da cidade. A ideia foi proposta por dom Celso Franco de Oliveira, bispo anglicano emérito, e assumida pelo pedagogo e diretor teatral Sidney Guedes. Hoje, ela atende 40 pessoas cadastradas, a partir de um projeto que reúne entidade religiosa, órgãos públicos, doadores particulares.

D. Celso na porta da cozinha da casa

O bispo sentiu o impulso numa Convenção Geral da Igreja Anglicana dos Estados Unidos, onde conheceu o programa Church in the Street (Igreja na Rua), da Diocese Anglicana de Boston. O nome surgiu de Monte Alverne, a região da Toscana, onde São Francisco de Assis descobriu seu carisma de serviço radical aos que viviam na pobreza.

A Igreja na Rua, como diz dom Celso, começou com uma celebração eucarística no dia 25 de dezembro na Avenida Presidente Vargas, atrás da igreja da Candelária, no principal entroncamento na região central da cidade. A celebração continua todos os sábados às 18h. No início, o altar era de caixotes de madeira, tendo um cobertor como toalha, com uma cruz de madeira que os próprios moradores fizeram e os pães e vinho trazidos pelo bispo.

A celebração reúne todo tipo de gente que habita as ruas do centro. O bispo conseguiu apoios do convento São Martinho, dos carmelitas, de grupos de jovens das comunidades, envolveu pessoas, chegando a trazer o padre José Comblin, o conhecido teólogo belga que assessorou dom Helder Câmara.

Os moradores rezam ao receber o almoço

Esse esforço compartilhado precisa dar outros passos. “Quem está na rua”, diz o psicólogo que atua no projeto, “tem um corte afetivo que gerou ruptura em alguma área da vida”. Isso ajuda a compreender que além das dores visíveis aos demais moradores da cidade, há dores emocionais profundas. Por isso, a Casa resgata a dignidade das pessoas, diz “o padre”, como é conhecido.

O Cecon atua às sextas-feiras, abrindo a casa aos moradores de rua, para quem a cidade não é tão maravilhosa como aparece na TV. Mesmo que o prédio necessite de obras, lá essas pessoas podem tomar banho, descansar, alimentar-se, barbear-se, cortar o cabelo, ler livros e jornais, assistir TV e receber apoio psicológico, massagem nos pés – fundamental para quem anda todo o tempo – e produtos de limpeza.

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