Antonio Carlos Ribeiro
A Associação de Moradores de Santa Teresa (Amast) realizou uma plenária para discutir a luta do bairro pela volta do bonde, esclarecer a decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em tombar o sistema dos bondes, exigir o respeito aos cidadãos e a manutenção do serviço prestado há mais 115 anos. A reunião foi realizada no templo da Paróquia Anglicana São Paulo Apóstolo, nesta terça-feira, dia 22.
O tombamento agora obtido garante que o sistema de bondes hoje existente - seu traçado e seu veículo modelo padrão - seja mantido, impedindo assim o prosseguimento da licitação promovida pelo governo estadual para contratar um serviço totalmente novo e sem as características originais do sistema que dá identidade ao bairro, assegurou a vereadora Sonia Rabello, do Partido Verde. A vereadora é especialista em tombamentos e apoia a luta do bairro pela recuperação do sistema de bondes.
“A segurança não é incompatível com a conservação dos trens e a prestação do serviço”, enfatizou o reverendo Luiz Caetano Grecco Teixeira, pároco anglicano. O Comitê Técnico de Acompanhamento afirma que o principal argumento utilizado pelo governador – a insegurança – não se sustenta no debate público.
O atraso para que o bonde volte a trafegar em Santa Teresa, oito meses após o acidente que vitimou seis pessoas, resulta da dificuldade do governo estadual em apresentar propostas com dados administrativos e pareceres do pessoal técnico. Além disso, os esforços para explicar a venda de objetos tombados, devidamente documentados, não surtiram efeito ainda, explicou Elzbieta Mitkiewicz, presidente da Amast.
Para dar continuidade à luta dos moradores foi marcada uma manifestação em frente ao Palácio Guanabara para o dia 31, com a participação de blocos de rua do bairro. O grupo que atua na frente judicial denunciou que após ser condenado, o governo comprou novos bondes, mesmo já tendo 19 bondes tradicionais, dos quais quatro foram inutilizados para reutilização de peças.
Foram enviadas duas cartas ao Chefe da Casa Civil, que se recusou a receber a Comissão Técnica. A Amast se sente respaldada por 12 mil assinaturas de cidadãos cariocas e o apoio da Comissão Técnica do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA) e do Sindicato dos Engenheiros, que apoiam o pleito.
Eles afirmam categoricamente “não haver necessidade de modificar a estrutura de funcionamento, segura há 115 anos”. Há a convicção de que o Estado foi responsável pelo acidente, já que o secretário estadual de Transporte, Júlio Lopes, sabia da precariedade e não tomou as providências cabíveis.
A população se mostrou perplexa ao saber que o Ministério Público, baseando-se apenas no inquérito policial, ofereceu denúncia contra os funcionários do sistema de bondes, que supriam por iniciativa própria deficiências para manter o serviço, uma vez que a administração da empresa não liberava os recursos para a manutenção técnica das composições. O advogado Nilo Batista, ex-vice-governador do Estado, defenderá os funcionários na ação.
Alcebíades Fonseca, do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, afirmou à ALC que “nada justifica a decisão do governo de modificar completamente o sistema de bondes. O que se pedia era a manutenção do serviço, já que não havia registro de acidentes. O governador disse ter gasto R$ 14 milhões e há três bondes em condições de trafegar. Por que não foram colocados em circulação? Em que foram gastos os 14 milhões? Por que paralisar o serviço, já que o bairro sofre com a falta?”, indagou o engenheiro.
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