sábado, 26 de maio de 2012

Anistia concede indenização a Anivaldo Padilha

Antonio Carlos Ribeiro


A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça reconheceu por unanimidade, em nome do Estado, os graves danos causados a Anivaldo Padilha, 72. E por isso lhe concedeu uma indenização com base no valor que corresponde ao salário de redator de um jornal, recebido na época da prisão ilegal.


Padilha foi denunciado às forças de repressão pelo pastor metodista José Sucasas Jr. e o bispo Isaías Fernando Sucasas, já falecidos. Era uma liderança ecumênica jovem, sofreu torturas nos 20 dias em que ficou preso no Destacamento de Operações de Informações (DOI-Codi).


Mas o maior drama foi partir para o exílio com a esposa grávida, sendo obrigado a ficar distante da família, tendo ainda o déficit emocional da subtração do seu convívio, só podendo ver seu filho – hoje o médico Alexandre Padilha, Ministro da Saúde – quando tinha oito anos. Apenas por lutar por um país socialmente mais justo.


As igrejas reviveram, às inversas, seus mais duros momentos de inquisição, mas desta vez ‘sem fogueiras’ que dominaram parte da mentalidade das igrejas naquele lastimável período da história brasileira, que tanta dor trouxe à sociedade.


No agradecimento dirigido à Comissão de Anistia, Padilha observou que os vinte e um anos vividos sob a ditadura militar só pode ser comparado aos mais de três séculos de escravidão, em termos de violência contra o ser humano. Cônscio, sua atuação como um ato de fé, o levou a se colocar “de forma incondicional ao lado dos setores oprimidos e marginalizados da nossa sociedade”, insistiu.


Movido por esta mesma fé, disse ter assumido sua “condição de protestante e de líder ecumênico latino-americano”, que lhe permitiu dedicar seus “anos de exílio, especialmente nos Estados Unidos e posteriormente na Suíça, à mobilização das igrejas da América do Norte, e também do Conselho Mundial de Igrejas para o apoio à nossa luta contra as violações de Direitos Humanos no Brasil”.


De todos esses anos, lutas e esforços, sem perder a esperança, disse que lhe resta “somente a grata memória do privilégio de um dia ter sido um dos milhares de protagonistas, num período sombrio da nossa história, das lutas pela construção de um Brasil mais justo e democrático”.


A assembleia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), realizada em fevereiro de 2006 em Porto Alegre, e a repatriação de documentos da ditadura de um centro de pesquisa nos Estados Unidos e da sede do CMI, em Genebra, dão a chancela histórica destes fatos, que o governo da Presidenta Dilma Rousseff se propõe a reconhecer e indenizar.

Nenhum comentário:

Total de visualizações de página