Elisabeth, uma das 30 mil vítimas das Forças Armadas da Argentina, que comandou o período mais cruel da ditadura entre 1976 e 1983, era filha do teólogo e biblista luterano Ernst Kaesemann. Ela foi morta num quartel militar, com três tiros nas costas. O corpo foi reclamado pelo pai, entregue pela ditadura e sepultado no dia 16 de junho de 1977. A cerimônia, presidida pelo teólogo Jürgen Moltmann, provocou solidariedade e comoção, levando-o a registrar: "nunca me foi tão difícil pregar um sermão fúnebre".
O prefeito de Tübingen, Boris Palmer, enviou mensagem destacando o compromisso de Elisabeth com os marginalizados da América Latina, observando que, por causa deste espírito solidário, sua cidade mantém acordos de irmandade com cidades do Peru e da África.
Ulrich Kaesemann, irmão de Elisabeth, destacou que ela conheceu a Bolívia e o Peru, decidindo fixar-se na Argentina, com a intenção de ajudar os mais carentes. Ela foi detida por membros das forças armadas em 1977. Seus pais solicitaram apoio do governo, à época a República Federal da Alemanha, para obterem sua liberdade.
Mas, "a resposta foi o desinteresse, já que não queriam imiscuir-se nos assuntos de outros Estados". A razão verdadeira, denunciou o irmão, é que o governo alemão, dirigido pelo popular primeiro ministro Helmut Schmidt, se interessou mais pelos ganhos econômicos que as empresas alemãs estabelecidas na Argentina negociaram com o governo militar.
A extradição do general Jorge Rafael Videla e do ex-almirante Emilio Eduardo Massera para Alemanha foi solicitada em 2003 pelo Tribunal de Nüremberg, para que sejam acusados pelo assassinato. Em 2008 o pedido de extradição foi recusado pela Corte Suprema da Argentina. O governo da primeira ministra Angela Merkel tem a expectativa de que seja aberto este ano o processo penal pelo assassinato da socióloga, para o qual se constituiu parte acusadora.
O Ministério das Relações Exteriores da Argentina reconheceu, em março de 2006, o espírito solidário e o compromisso de Elisabeth Kaesemann com as vítimas da ditadura e decidiu incluí-la na lista de religiosos e religiosas de diversos credos, vítimas do terrorismo de Estado. Sua vida e trabalho foram lembrados com uma placa de mármore fixada e uma árvore de oliveira plantada na praça San Martín, de Buenos Aires.
Publicado em Blog das Teologikas, Rio de Janeiro, 27 abr. 2009 (http://anamariatepedino.com/blogteologikas/?p=170)
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