sexta-feira, 26 de outubro de 2012

"Não nos entregaremos fácil", afirma Kaiowá de Pyelito Kue


Antonio Carlos Ribeiro

Brasília (ALC/Cimi) - Indígenas Kaiowá e Guarani das comunidades de Passo Piraju, Arroio Korá, Potreto Guasu, Laranjeira Nhanderu e, especialmente, Pyelito Kue, do Mato Grosso do Sul, cujo drama comoveu o Brasil e o mundo nesta semana de sociedades que trabalham com direitos humanos ao redor do mundo. Sua atitude firme diante do risco de despejo da aldeia gerou interpretações diferenciadas, a partir do clima tenso criado, entre elas a de um pacto de 'morte coletiva' de 170 pessoas, detacou a nota 1037 do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).


O jornalista Ruy Sposati entrevistou o líder Lopes ou Apykaa Rendy - Trono Iluminado, em Guarani - que é uma das principais lideranças de Pyelito Kue. Ele falou da situação da aldeia, dos problemas, expectativas e da carta que denunciou a situação e provocou diversas mobilizações internacionais.

A comunidade completa um ano de retomada do território no próximo mês, e de novo vive sob a tensão de decisões da Justiça que muda decisões, além de um ano de muitos problemas. "Não temos saída [da aldeia]. As pessoas que estão doentes não têm por onde sair. Não têm recurso. As crianças também não têm onde estudar. Não têm roupa. As cestas da Funai não estão chegando para a gente. Não temos atendimento da Funasa. Mas mesmo assim, nós estamos aqui", contou o líder.

Lopes denunciou ainda os riscos da região. "Estamos em um lugar apertado. Os fazendeiros não querem que a gente abra caminhos, não querem que a gente passe no meio do pasto. Nós atravessamos pelo rio", explicou. "Tudo acontece com a gente. Ameaças, não por indígenas, mas pelo próprio fazendeiro, ameaças pelos pistoleiros, ameaçando a gente. Por isso, nós guerreamos pela nossa terra", denunciou.

Sobre as denúncias de suicídio coletivo, Lopes explica a posição da comunidade. "Não, nós não iremos fazer isso", acrescentando que "se for para a gente se entregar, nós não nos entregaremos fácil. É por causa da terra que estamos aqui, nós estamos unidos com o mesmo sentimento e com a mesma palavra para morrermos na nossa terra. Esta terra é nossa mesmo!"

"Desde o começo que nós entramos lá, estamos firme", insistiu. "A comunidade falou que não vai desistir. Queremos retomar a terra que foi dos nossos avós, onde os nossos parentes morreram. Queremos realmente ocupar essa terra. Viveremos realmente neste lugar! Esta terra não é dos brancos, é nossa e de nossos antepassados. Se a gente perder a nossa vida será por causa da terra", insistiu Lopes.

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