Antonio Carlos Ribeiro
Rio de Janeiro – O sociólogo e professor Manuel Lisboa, da Universidade
Nova de Lisboa, relaciona a violência contra as mulheres como um atavismo
cultural forte, que tenta codificar até mesmo a relação entre pessoas do mesmo
sexo. A afirmação foi feita em aula ministrada nesta terça-feira, dia 18, na
Cátedra UNESCO de Leitura, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (PUC-Rio).
Lisboa, que participou da banca de doutorado de Moíza Fernandes Almeida,
do curso de Letras da PUC-Rio, é Licenciado, Mestre e Doutor em Sociologia,
pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa.
Além dessa formação, é especializado em Sociologia das Organizações, Sociologia
do Gênero e da Vida Privada, e Metodologia de Investigação Sociológica. Segundo
ele, seu país é um exemplo de como “foi possível passar de um lugar tradicional
e conservador, até 1974, para um país que adota políticas de igualdade de
direitos para as mulheres a partir dos anos 80”.
Ele relaciona o tema da violência contra as mulheres com a violência no
âmbito dos direitos humanos. E afirma categoricamente que ela não é estrutural,
mas conjuntural, mesmo que esta noção seja combatida nos domínios jurídicos e
policiais. E reforça o argumento dizendo que “até a procura das causas que
produzem e reproduzem a violência e intervenção situa-se mais na prevenção”.
Ele observa que a investigação científica desempenhou um papel
fundamental, descobrindo que o fenômeno é holístico. Por esta razão, dimensões
separadas do mesmo fenômeno não dão conta. Informou que primeiro estudo de
âmbito nacional sobre a violência contra as mulheres em Portugal é de 1995,
desenvolvido por uma equipe de investigação da Universidade Nova de Lisboa.
Entre as descobertas está que uma a cada duas mulheres é vítima de pelo
menos um ato de violência física, psicológica e sexual. Que a grande maioria
dos atos ocorre no espaço familiar da casa. Que só menos de 1% das vítimas
recorre à polícia e aos tribunais, mesmo que a legislação de 1991 já penalizasse
grande parte dos atos. E que a vitimação em geral é transversal a todos os
estratos sociais e faixas etárias.
Há ainda estudos da década de 2000 mostrando
a violência extrema, detectada nos Institutos de Medicina Legal, tem a
incidência dos custos da violência sobre a família, na atividade profissional, na
saúde e na educação. Foi feita a comparação dessa violência de homens contra
mulheres, detctando suas causas socioculturais. Segundo ele, os Institutos de
Medicina Legal mostram que as trajetórias da violência podem vir desde a fase
do namoro e, consequentemente, os filhos são vítimas diretas, E, que mis de 90%
dos filhos assistem à agressão contra as mães.
Já existem cálculos estimativos dos custos
individuais da violência entre familiares e amigos, e colegas de profissão, com
danos à saúde física e psicológica, e efeitos sobre o processo educativo. Segundo
Lisboa, a combinação deste conjunto de evidências demonstra a causas
socioculturais da violência, que essa violência contra mulheres é de gênero, e
que se desdobra nas denúncias de violência contra as mulheres e contra homens
mostrada nos estudos feitos entre 2007 e 2010.
Em relação ao local, o professor mostra que o local mais frequente da
violência são a casa e locais públicos e de trabalho e que a reação das vítimas
vem da violência exercida contra as mulheres, tendo como pano de fundo a
desigualdade de gênero, que surge nos papeis sociais e nos valores e modelos
estigmatizados que condicionam a ação dos agressores e das vítimas. A pesquisa
revelou que os opressores agem segundo os modelos mais ‘esteriotipados’ da
masculinidade. E por último, as chamadas vítimas da feminilidade. A conclusão
geral é que “a violência contra as mulheres é realmente de gênero”, enfatizou o
palestrante.
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