quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Sociólogo português relaciona violência de gênero com atavismo cultural


Antonio Carlos Ribeiro

Rio de Janeiro – O sociólogo e professor Manuel Lisboa, da Universidade Nova de Lisboa, relaciona a violência contra as mulheres como um atavismo cultural forte, que tenta codificar até mesmo a relação entre pessoas do mesmo sexo. A afirmação foi feita em aula ministrada nesta terça-feira, dia 18, na Cátedra UNESCO de Leitura, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).


Lisboa, que participou da banca de doutorado de Moíza Fernandes Almeida, do curso de Letras da PUC-Rio, é Licenciado, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa. Além dessa formação, é especializado em Sociologia das Organizações, Sociologia do Gênero e da Vida Privada, e Metodologia de Investigação Sociológica. Segundo ele, seu país é um exemplo de como “foi possível passar de um lugar tradicional e conservador, até 1974, para um país que adota políticas de igualdade de direitos para as mulheres a partir dos anos 80”.

Ele relaciona o tema da violência contra as mulheres com a violência no âmbito dos direitos humanos. E afirma categoricamente que ela não é estrutural, mas conjuntural, mesmo que esta noção seja combatida nos domínios jurídicos e policiais. E reforça o argumento dizendo que “até a procura das causas que produzem e reproduzem a violência e intervenção situa-se mais na prevenção”.

Ele observa que a investigação científica desempenhou um papel fundamental, descobrindo que o fenômeno é holístico. Por esta razão, dimensões separadas do mesmo fenômeno não dão conta. Informou que primeiro estudo de âmbito nacional sobre a violência contra as mulheres em Portugal é de 1995, desenvolvido por uma equipe de investigação da Universidade Nova de Lisboa.

Entre as descobertas está que uma a cada duas mulheres é vítima de pelo menos um ato de violência física, psicológica e sexual. Que a grande maioria dos atos ocorre no espaço familiar da casa. Que só menos de 1% das vítimas recorre à polícia e aos tribunais, mesmo que a legislação de 1991 já penalizasse grande parte dos atos. E que a vitimação em geral é transversal a todos os estratos sociais e faixas etárias.

Há ainda estudos da década de 2000 mostrando a violência extrema, detectada nos Institutos de Medicina Legal, tem a incidência dos custos da violência sobre a família, na atividade profissional, na saúde e na educação. Foi feita a comparação dessa violência de homens contra mulheres, detctando suas causas socioculturais. Segundo ele, os Institutos de Medicina Legal mostram que as trajetórias da violência podem vir desde a fase do namoro e, consequentemente, os filhos são vítimas diretas, E, que mis de 90% dos filhos assistem à agressão contra as mães.

Já existem cálculos estimativos dos custos individuais da violência entre familiares e amigos, e colegas de profissão, com danos à saúde física e psicológica, e efeitos sobre o processo educativo. Segundo Lisboa, a combinação deste conjunto de evidências demonstra a causas socioculturais da violência, que essa violência contra mulheres é de gênero, e que se desdobra nas denúncias de violência contra as mulheres e contra homens mostrada nos estudos feitos entre 2007 e 2010.

Em relação ao local, o professor mostra que o local mais frequente da violência são a casa e locais públicos e de trabalho e que a reação das vítimas vem da violência exercida contra as mulheres, tendo como pano de fundo a desigualdade de gênero, que surge nos papeis sociais e nos valores e modelos estigmatizados que condicionam a ação dos agressores e das vítimas. A pesquisa revelou que os opressores agem segundo os modelos mais ‘esteriotipados’ da masculinidade. E por último, as chamadas vítimas da feminilidade. A conclusão geral é que “a violência contra as mulheres é realmente de gênero”, enfatizou o palestrante.

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