Antonio Carlos Ribeiro
A morte do líder da al-Qaeda, Osama bin Laden, se transformou a um só tempo no maior sentimento de decepção em parte dos 69,4 milhões de americanos que elegeram o presidente americano Barack Obama. E de cidadãos ao redor do mundo que apostaram na mudança com sua eleição e se decepcionaram com sua popularidade. E com a euforia mórbida dos republicanos ao festejar histericamente um assassinato. A ponto de ressuscitar Bush.
A morte do líder da al-Qaeda, Osama bin Laden, se transformou a um só tempo no maior sentimento de decepção em parte dos 69,4 milhões de americanos que elegeram o presidente americano Barack Obama. E de cidadãos ao redor do mundo que apostaram na mudança com sua eleição e se decepcionaram com sua popularidade. E com a euforia mórbida dos republicanos ao festejar histericamente um assassinato. A ponto de ressuscitar Bush.
O crescimento constante de sua campanha popular, alavancada pelo uso da internet por comunidades, ONGs, movimentos negros, grupos de igreja e direitos humanos. Ele experimentou certo apogeu, limitado e concedido, mas sucumbiu ao poder estatal, à ideologia de segurança, às pressões da imprensa e ao poder militar, econômico e comunicacional, que lucraram com a crise e o fizeram descumprir as promessas de campanha.
As palavras chaves hope (esperança), change (mudança) e “Yes, we can” (“sim, nós podemos”), foram banidas dos discursos, assim como as menções em favor dos desempregados, moradores de rua, discriminados – especialmente as vítimas do maremoto de New Orleans - em meio à crise embalou a luta pelo segundo mandato com assassinatos de opositores, tortura de presos, perseguição aos membros do Wikileaks, fatos inaceitáveis para um defensor de direitos humanos e detentor de um Prêmio Nobel da Paz.
Barack Obama frustrou uma parcela dos 69,4 milhões de americanos que o elegeram, ao mesmo tempo que manteve os banqueiros que provocaram a bancarrota – afundando com a crise econômica – comprometendo as condições de vida da população negra, impedido de terminar guerras caras e com baixas, além do morticínio de iraquianos, de ter negado asilo a refugiados e expulsado imigrantes mais que governos republicanos, de vetar decisões do Conselho de Segurança da ONU contra Israel – por matar pacifistas e se apossar da ajuda humanitária enviada aos palestinos – sem honrar a promessa de fechar o centro de tortura em Guantánamo.
Ao tentar governar por 28 meses, sem apoio no Congresso e a articulação contrária das forças de segurança, tornou-se um desastre ainda maior no plano internacional. Sem conseguir confiabilidade, apoiou iniciativas conservadoras e frustrou o Encontro de Copenhage. Tentou negociar com o Irã, em vão por causa dos muitos crimes cometidos contra a humanidade, pediu ajuda ao Brasil e à Turquia, confiante no fracasso, mas estes países conseguiram pela diplomacia o que os EUA não conseguiram em anos.
Por último, ofendeu-se com o protagonismo brasileiro na América do Sul – que evitou golpes de Estado na Venezuela e na Bolívia, e garantiu a vida de Zelaya na Embaixada brasileira em Tegucigalpa – gestos de coragem e sem disparar um tiro, enquanto os EUA apoiavam o golpe de Estado em Honduras, perpetuado em ilegitimidade e enviando marines, desnecessários, após as forças da natureza terem provocado a morte de 200 mil haitianos.
Engolido pela belicosidade voraz, viu o centro de detenção de suspeitos da base americana em Cuba continuar ativo, torturando e matando impunemente iraquianos da al-Qaeda, e afegãos do Talibã, chegando a buscar países para onde enviar os torturados, e já submisso ao Pentágono, anunciou a decisão de envolver seu país na guerra da Líbia, com uma economia combalida, sem apoios e com o reflexo do orgulho ferido refletido no Congresso. Ser timoneiro de uma nau de insensatos deve ter feito Luther King mover-se no túmulo e lamentar o desperdício da oportunidade.
Agora, o pastor batista, militante dos direitos civis, ganhador de um Nobel da Paz – com mérito – tornou-se uma memória incômoda. Ele teve um sonho, dos sermões iniciados com a frase “Amada comunidade” ao velório que levou milhares de americanos às ruas em todo o país. Perseguido, ameaçado e morto, não se deixou cooptar, não traiu os sonhos de sua gente e nem mandou matar. Obama deveria reler o sermão “É meia-noite”.
No auge da impopularidade, mendicou apoios na América do Sul, gracejou para negar recursos que não tem, e propor parcerias que pouco nos servem, só encontrando apoio na mídia conservadora local. Desmoralizado, além de descumprir as promessas, cumpriu a de Bush: capturar Osama bin Laden. E matá-lo. Quase perdendo a compostura quando o mérito foi atribuído ao ex-presidente, além de mandar matar um homem desarmado e dominado, fotografar e consumir com o corpo, através de missão secreta num país estrangeiro. Sem esconder a brutalidade e nem negar a tortura, gestos mais inaceitáveis que os atribuídos a Bush.
Dos vibrantes comícios, com campanhas populares pela internet, o candidato se tornou um presidente questionado por seus pares e dominado, da direita dos democratas aos republicanos, e mesmo tendo subido de 46% para 57%, as migalhas não garantem nada. Pouco, para jogar fora uma oportunidade rara. Não estranha que a base popular que o elegeu esteja decepcionada. Obama virou Mephisto: trágico, decadente, des-caracterizado no auge do poder.
Sem a intolerância de direita, Cheryl Johnson, que o acompanhou desde os projetos populares no conjunto habitacional Altgeld Gardens, ao sul de Chicago, em Illinois, disparou: “Eu preferia ver Bin Laden em pé num tribunal, julgado pelas três mil pessoas que matou no 11 de Setembro. Matá-lo não resolve o problema. Não se sabe o que há por trás dessa história. Podemos ser tão culpados quanto ele se abusamos da autoridade e ameaçamos a vida de outras pessoas”, disparou.
“Aqui há pessoas negras e pobres, em moradias públicas. Elas votaram em Obama porque pensavam que veriam uma mudança real. Mas vejo as corporações ganhando dinheiro em Wall Street e, todos os dias, famílias sendo expulsas de suas casas. Vejo desesperança, e não mudança”, declarou.
Adolfo Pérez Esquivel, também detentor de um prêmio Nobel da Paz, sentenciou em linguagem direta: “você incrementou o ódio e traiu os princípios assumidos na campanha eleitoral frente ao teu povo, como terminar com as guerras no Afeganistão e no Iraque e fechar as prisões em Guantánamo e Abu Graib no Iraque. Não fez nada disso. Pelo contrário, decidiu começar outra guerra contra a Líbia, apoiada pela OTAN e por uma vergonhosa resolução das Nações Unidas. Esse alto organismo, apequenado e sem pensamento próprio, perdeu o rumo e está submetido às veleidades e interesses das potências dominantes”.
2 comentários:
perfeito,
engraçado ver alguem dizer o que pensamos, e de forma tao clara
e mais. acrescentou em muito o que eu poderia dizer.
Quero meu querido amigo, discordar apenas num ponto. Na verdade não foi "morte" de Osama bin Laden, isso se chama "assassinato", "homicídio" ou na melhor antropologia "morte matada", e há um assassino responsável por isso, OBAMA! Quando vamos descobrir que o direito à vida não pode ser contingenciado, sob hipótese alguma, sob condição da nossa desumanização? Leio, você, sempre com imensa reverência, meu amigo e companheiro. Passos
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