segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Britto lança 'Desconstrução', poemas

Antonio Carlos Ribeiro

O livro Desconstrução (Rio de Janeiro: Cenapsi, 2013), com poemas de Roberto Britto, dá continuidade ao ‘Da Cruz ao Cais’, já com um olhar mais distanciado da cruz e mais familiarizado com o cais – e sua visão mais ampla – sem perder o foco da nova arquitetura de conceitos e linguagem, com que se desfaz de objetos tornados abjetos na hora de fazer a mudança.



Exercício assumido como proposta para ‘passar a limpo minhas experiências’, Desconstrução se estrutura em eixos como cultura, religião, identidade, família e sexo, psicanálise. Sua revolução começa admitindo que ‘é preciso calar, ouvir, ler, refletir, escrever, inventar seu próprio idioleto’.

As poesias rejeitam as verdades absolutas, encasteladas na alma, e exigem limpar o terreno para o novo. Narram o ato de sair de si e da atitude que o provocou. E como a arte nos traz os saberes em que o conhecimento formal sequer toca, aderiu a ela. E se deixou conduzir. Desencanto se torna parte do encanto, mas sem prisão.

Dos medos acumulados surgiu a disposição dos enfrentamentos. Engraçar-se com a vida, minimizar ameaças e assumir a condição humana. Admitir angústias do tempo e prazeres comuns, recusar sublimação e integrar lobo e ovelha, amor e desamor, novas crenças e velhas doenças, culpa em estilo romano ou consuetudinário. E ir da letra ao espírito, na mesma carne.

Na identidade, a des-re-construção. A cidade que escolheu para viver. Os apetites e os acepipes. As novas leituras de mundo, do impresso ao expresso. Das projeções paternais à necessidade de ‘cargar al real’, apalpar o cotidiano, lidar com as dores. Na busca de sentidos, sem truques e com mistério.

Na vida afetiva e familiar os desamores, desencontros, decepções, desacordos. Dos remédios das revistas para salvar a relação. Das identidades, nova identidade, liberdade, maternidade. Desapego do pai, com todos os pês. Na sexualidade, as curvas e as expressões. ‘Não está no falo, mas na fala’. Amor próprio, o reencontro.

Dos conflitos aos discursos, do pessoal ao midiatizado, da intervenção individual ou em rede, dos significados a serem depurados, do consciente ao inconsciente. Das implicações de tudo isto no discurso. Das meias verdades como recurso do incompleto ao altamente complexo, da castração que não impede o desejo e dos recursos relativizados. O substantivo fala e como verbo vira falo. E do gozo, masculino e feminino, inventado com o progresso, efêmero e interminável.

Consegue voltar cinco séculos e retomar o lema da Escola de Navegação de Sagres, quando os portugueses descobriram que a península podia ir além da Finisterrae e que, para tal, navegar era imprescindível: Navigare necessere est (Navegar é preciso)!

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