quinta-feira, 20 de junho de 2013

ONU e The New York Times denunciam crimes da PM do Rio

Antonio Carlos Ribeiro

A ação criminosa das Polícias Militares é uma frequente e péssima companhia da realidade brasileira. Filha legítima e representante fiel do caráter da ditadura, as Polícias Militares refletiram a estruturação militar do período mais brutal da nada leve história republicana brasileira. Seu estatuto foi alterado por decisão do vice-presidente Aureliano Chaves, submetendo-a à desastrosa atuação do exército, em caso de intervenção. 

Ao que parece as polícias militares assumiram essa condição com certo orgulho. Eram investidos de autoridade pela força bélica de maior presença no território nacional, ficando a ela submetidos, o que lhes fazia ter um status de autoridade – conceito que não guardava nenhuma relação com serviço, para lembrar o parâmetro bíblico – menos ainda o de capacidade de gestão, mas tão somente o de mandar, ameaçar, forçar e executar.


Com essa posição, sem perspectivas e vendo nesta forma caricata de governo, foram consolidando seu papel frente à sociedade. Constituída de contingentes sem formação, cooptados nos setores mais empobrecidos, ressentidos e para quem a violência é um recurso sempre à mão, através do qual aceitam sofrer todo tipo de comando da força maior, sem nenhum retorno financeiro, de formação ou de reconhecimento. Esse é o pano de fundo dessa deformação da qual não conseguiram se livrar. E condições para afastar os fantasmas.

Voltam a esse papel agora, já que o conjunto das forças de segurança mantêm o hermetismo corporativistas, tendo se transformado numa blindagem incólume a todos as mudanças da democracia e seu impactos na cidadania. Mantêm desde então uma bancada parlamentar – chamada ‘da bala’ – que se renova mandato após mandato no Legislativo. Seus representantes são figuras caricaturais, que saíram do anonimato somente na discussão da proibição da venda de armas de fogo, até porque seu único tema após o fim da ditadura é armas, carros, tecnologia de segurança e menosprezo por qualquer avanço da cidadania.

A assinatura do Tratado Internacional de Armas, por pressão financeira sob o argumento da crise, semelhante às dos jornais que mantiveram uma onda diária de ameaça de hecatombe política, econômica e de risco em atividades chaves a cada mês. Em países com maior número de leitores, a repetição do mesmo algúrio serviria apenas para desmoralizar o veículo. No entanto a inventividade do ponto de vista literário sempre foi medíocre e por isso ridicularizada e ouvida apenas pelos núcleos de direita nos centros de poder. 

Sem nunca deixar de praticar a tortura, até porque esta foi transferida para as delegacias e as ruas após a ditadura. Com isso, a tropa entrou em crise, reluta em superar o complexo de bastardia, com o equipamento ultrapassado, a educação militar ideologizada, a imposição de óbices para inviabilizar a vida cidadã, nenhum avanço no campo da educação para a cidadania e a paz, virtual ou real, vendo diminuir seus quadros e sem atrair novos, o resultado tem sido o discurso para ninguém e o aprofundamento do tédio. Perigoso para quem já teve poder e usa arma.

Neste momento as forças policiais são o único elo da ditadura - senão o último – incrustado na segurança corporativista, por isso mesmo atávico, com tendões pelas elites – sempre financeiras e pouco intelectualizadas – e enraizamento institucional nos poderes republicanos, que blindaram o processo de dominação das classes populares pela via mais cruel, grotesca, desumana e superada. Isso explica a vergonha de ter sido o último país ocidental a abrir da escravidão (1888), que de tão incrustada no regime colonial, o fez ruir, dando lugar à República, logo no ano seguinte (1889).

Os principais resultados das manifestações populares que se espalham pelo país como rastilho de pólvora e já incitam organismos golpistas – controlados pelo conglomerado de mídia da Globo, através da publicidade, apesar da decadência suave, mas contínua – se mostram na forma de noticiar essa explosão de cidadania. Sua maior dificuldade é a falta de criatividade para estratégias que proteja partidos de centro-direita que lhes mantenha os lucros assegurados desde 1965. Sonhando em retornar ao poder na próxima eleição. Qualquer que seja a via.

O primeiro foi o pedido formal da Organização das Nações Unidas (ONU) para que o país estude a possibilidade de desativar as polícias militares, por tudo que foi dito. E o segundo resultado, ainda mais vergonhoso, foi a foto publicada dia 19 na primeira página do diário norte-americano The New York Times, mostrando o flagrante de abuso policial mais comum – ataques contra mulheres, indígenas, crianças, outros criminosos já algemados e até animais domésticos – com o agente militar da lei lança spray de pimenta diretamente nos olhos de uma dona de casa. O tipo de crime que exige ordem direta. De um criminoso do comando!

Um comentário:

Thales disse...

Precisamos ser mesurados tanto no elogio quanto na crítica. Não há serventia em nada que desperte o ódio coletivo a toda uma instituição de profissionais, como se estivéssemos falando de animais irracionais completamente iguais e escravos do passado, e não de uma complexa corporação de seres humanos capazes de conferir novo significado à sua História e, assim, servir dignamente a sociedade, malgrado exceções e tropeços típicos de todo grupo humano.

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