O relato bíblico da ressurreição de Jesus (Lucas 24.1-12) destaca a presença das mulheres. As mesmas mulheres que acompanharam toda a via crucis, do julgamento à crucificação no Gólgota. Os soldados romanos não sabiam como reagir. O que fazer com as pessoas que têm como única defesa o choro diante dos maus tratos impostos a outra pessoa?
A capacidade de insistir, não recuar e clamar das mulheres durante o martírio de Jesus é um exemplo para a atuação da Igreja. Essas mulheres que passaram a Sexta-feira Santa sofrendo com a injustiça imposta, não descansaram no Sábado. Modelos da atuação da Igreja no mundo, essas mulheres queriam apenas embalsamar o corpo de Jesus, direito negado pela crueldade da injustiça imposta e pela urgência de preparar o ambiente público para a festa.
Indóceis, elas fizeram uma vigília durante a noite e a madrugada, o medo foi superado pelo amor – o contrário do medo não é valentia, mas amor – que as levou, mesmo correndo grandes riscos, ao túmulo do Senhor. Elas, por sua vez, se despreocuparam dos preparativos da festa porque foram capazes de perceber que o centro da Páscoa era o Senhor morto.
Celebrar a páscoa sem o cordeiro é tomar parte num espetáculo onde o vinho não serve para lembrar o sangue derramado injustamente, mas para inebriar consciências. E a música se transforma de alegria da alma em droga que distrai os que se sentem impotentes diante da realidade.
Por isso, as Igrejas que anunciam uma fé comprometida são as entidades da sociedade que mais incomodam os “donos do poder”. Como disse o pastor Geraldo Graf no sepultamento simbólico de Laurindo Buss, agricultor capixaba assassinado nos anos 90: “como Igreja, não nos cabe investigar, apurar ou acusar. Isso é tarefa do Estado. Mas nós podemos clamar”.
Em nome desse serviço diligente ao mundo, Maria Madalena, Joana, Maria mãe de Tiago e outras mulheres chegaram ao túmulo onde, apesar da pedra removida, elas não encontraram mais o corpo do Senhor. Começou então um diálogo assustado com os homens vestidos de branco que apareceram. “Por que buscais entre os mortos ao que vive?”, veio a pergunta, logo seguida da explicação: “Ele não está aqui, mas ressuscitou”. Por causa do medo das mulheres, o diálogo seguia cuidadoso, com os homens vestidos de branco lembrando as palavras de Jesus (v. 7-8).
No texto de Mateus, os homens de branco recomendam ir depressa e espalhar a notícia. Sob o impacto dos acontecimentos e tomadas de medo, essas mulheres não conseguiam elaborar e colocar esses fatos em ordem. Depois que voltaram do sepulcro, junto com a comunidade, com alguma dificuldade, admitiram: o Senhor ressurgiu! A constatação feita diante dos apóstolos começou a mudar a vida da comunidade. Eles começaram a perceber que a morte não era o fim. Só tinha palavra penúltima. A vida venceu a morte (v. 11).
Da atitude dessas mulheres nós também podemos aprender nessa páscoa. Não há arrogância nem prepotência, como nas autoridades políticas, religiosas e militares da Palestina do 1º século. Quando não tivermos forças para enfrentar o poder constituído ou o crime organizado, pelo menos devemos insistir, não recuar, clamar, marcando presença ao lado de quem sofre injustamente e de quem luta pela justiça (v. 12).
Ao ficar do lado de quem sofre injustamente, essas mulheres se tornaram as primeiras a saber a boa notícia (evangelho) e a anunciar a ressurreição do Senhor, assim também devemos hoje experimentar a novidade da ressurreição. Mesmo tendo sua palavra colocada em dúvida por alguns dos apóstolos, as comunidades cristãs de todos os tempos devem às mulheres o primeiro anúncio da ressurreição do Senhor.
Se colocarmos na condição delas qualquer pessoa que sofre preconceitos – negros, pardos, pobres, indígenas, estrangeiros, crianças ou populações de rua – perceberam o risco que corremos? Ao duvidar de sua real importância e valor podemos por a perder algo que muda a vida da comunidade de fé! Pensemos...
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