segunda-feira, 29 de abril de 2013
Dia-logar: transcender a palavra: Impérios não amam sequer os soldados que morrem po...
Dia-logar: transcender a palavra: Impérios não amam sequer os soldados que morrem po...: É páscoa! O Senhor foi crucificado, morto e ressuscitado. Jesus aparece entre os discípulos, dizem os testemunhos da comunidade de fé, e os...
Impérios não amam sequer os soldados que morrem por sua bandeira
É páscoa! O Senhor foi crucificado, morto e ressuscitado. Jesus aparece entre os discípulos, dizem os testemunhos da comunidade de fé, e os orienta a esperar, a manterem-se firmes na fé e a anunciarem a ressurreição. Mas o mesmo corpo que crê na ressurreição, que entende a revelação, que celebra o Emanuel (Deus conosco), corre o risco de ver sua fé esmorecer em meio às conturbações, cansaços e desânimos. É o que nos mostra o Apocalipse (21.1-6), dirigido às comunidades sob a mais intensa perseguição religiosa.
O sol fulgente da música de Paul Gerhardt se torna ofuscado, como se densa neblina o encobrisse. Na prática, se abatem sobre as comunidades cristãs do Império, a mais dura perseguição religiosa. Esses que não se envolvem em conflitos, que não têm sicarii (bandidos), que cuidam dos deficientes físicos e mentais e atendem mutilados das guerras, se tornam revolucionários ao se recusarem a se curvar diante da imagem do imperador e chamá-lo Kyrios (Senhor). Apenas isso, mas nisso são irredutíveis.
O Império Romano também é irredutível. Tem uma força militar, política e jurídica que o tornam a última e única ordem vigente. O massacre de comunidades cristãs inteiras, famílias mutiladas, a entrega de presos para serem comidos por leões e javalis no Coliseu era uma forma clara de dizer: submetam-se, nós temos o poder! E este é invencível. O pantokrator, até hoje em Roma, é um símbolo da sua invencibilidade.
E agora, o que vocês têm para enfrentar Roma? Só uma fé, pequena, inexpressiva. A fé na ressurreição do Senhor se sustenta no amor que o levou à cruz, no Deus que amou e se encarnou, que amou, ouviu os clamores e viu as aflições, a quem se pode invocar de madrugada, erigir altares no deserto e louvar no templo. Mas, para proteger de Roma é preciso mais que isso, é preciso uma mística que não tema este poder. É essa fé que caiu no solo fértil da vida, qual ventre engravidado pela semente do amor, que proverá resposta.
A carta de João de Patmos, o apocalipse, em grego é desvelar, erguer o véu, ver através do mistério, quando neste penúltimo capítulo nos ensina a utopia do novo céu e da nova terra, da alegria, da festa, da superação das dores e sofrimentos, da continua celebração e da aliança irrompível de Deus com seu povo, que vê novo céu e nova terra (v. 1). A Cidade Santa, a nova Jerusalém, é a comunidade humana de fé que está enfeitada, vestida e adornada para o noivo, que é Deus (v. 2).
E tão apaixonado está Deus pela humanidade que, como fazem os noivos e amantes, se dispõe a casar-se e ir morar com a mulher amada (v. 3). Essa fidelidade de noiva a Deus, presente na comunidade chamada ‘o meu povo’, fere o orgulho do Império. Este não a ama – o que poderia colocá-lo em condição legítima – porque impérios não amam sequer os soldados que morrem por sua bandeira. É por isso que ele perde a adesão da comunidade humana. E como pretendente sem amor, e por isso preterido, ele enlouquece e aniquila o que não é capaz de ter. Porque quem ama a Deus, sabe que amor é entrega, por vontade.
Os cristãos são como homens e mulheres que recusam se entregar a quem só tem poder. Eles/as querem alguém que os/as ame. Vou falar baixinho: porque quando alguém nos ama, nós o/a temos inteiro/a. A diferença é o amor. O império manda, os cristãos pedem, o império cobra impostos, os cristãos partilham os alimentos, o império abandona deficientes e mutilados, os cristãos os acolhem, o império exige culto, os cristãos só amam a Deus. Nenhum império nos pode exigir fidelidade absoluta! Os cristãos resistem e desconstroem o império com o ato revolucionário de amar.
O Deus dos cristãos lhes enxuga dos olhos as lágrimas, alimenta a esperança e diz que morte, tristeza, choro e dor acabarão (v. 4). Não se consegue o amor de ninguém com pressão, punição, ameaça e morte. A fé cristã fez os humanos saberem que não podem confiar sua vida aos impérios, mas só a Deus devem amar. O Deus a quem entregamos nossa vida e futuro a tudo renova: eis que faço novas todas as coisas! E João, de Patmos, escreve essas palavras que chegarão às comunidades de Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia (v. 5). O amor é o segredo que anulou o poder do Império Romano entre 90 e 96 d.C.
E, concluo, essa é nossa mensagem como Igreja: não temer a fúria do dragão, a besta que blasfema Deus, exige adoração pela força e oprime os santos. E, sustentar espiritualmente as vítimas do império, animá-los na resiliência e orar para serem fortalecidos na esperança. Cuidar da flor que desabrocha entre espinhos e pedras é insistir que um mundo diferente é possível, e que Deus faz novas todas as coisas. O que não fui capaz de dizer, o pastor Dorival Ristoff cantou: ‘um novo mundo é possível! Terra e Céus vão se tocar’.
quarta-feira, 17 de abril de 2013
Dia-logar: transcender a palavra: O batismo como entrada na comunidade da Salvação
Dia-logar: transcender a palavra: O batismo como entrada na comunidade da Salvação: Antonio Carlos Ribeiro As crianças são parâmetro da salvação, depreendemos da leitura de Marcos 10.13-16. Apesar da sua invisibilida...
O batismo como entrada na comunidade da Salvação
Antonio Carlos Ribeiro
As crianças são parâmetro da salvação, depreendemos da leitura de Marcos 10.13-16. Apesar da sua invisibilidade para nós, em muitas situações da vida. Elas são as que melhor encarnam o espírito desses despossuídos de tudo, que possuem somente a esperança de esperar o Reino de Deus. Mas esta ação – tornar central o periférico – não é inusitada e nem nova em Jesus. Suas andanças e curas pela Galileia, que lhe valeram os epítetos de ‘galileu’ e ‘nazareno’, e que por si já deslocam o centro da reflexão para a periferia.
As crianças ganham notoriedade e importância ímpar quando vivem o momento do batismo, quando ganham importância, redescobrem seu lugar na vida familiar e se transformam na melhor metáfora para a salvação como dádiva a quem não tem como retribuir.
O batismo resgata a condição humana de quem é desde sempre amado. E esse amor é expresso no ato batismal, que traduz um sinal visível da invisível graça divina. Essa porta pela qual se adentra a comunidade de fé – Assim como a porta nos dá acesso ao santuário, assim a pia batismal deu acesso a cada um de nós à comunidade dos cristãos – nos integrando ao corpo, do qual a cabeça é o Cristo.
O próprio Lutero, em momentos de tribulação, encontrava ânimo e consolo no seu Batismo. A frase escrita sobre a sua escrivaninha, Baptizatus sum (sou batizado) o lembrava o ato gracioso de Deus. Sou dEle!
O reformador Martim Lutero registrou no Catecismo Menor que o Batismo é a ação fundamental de Deus sobre a pessoa humana: “Realiza o perdão dos pecados, livra da morte e do diabo, e dá a salvação eterna a todas as pessoas que crêem no que dizem as palavras e promessas de Deus”.
Numa prédica ele descreveu com palavras contundentes esse significado: ‘Batizar uma pessoa é como jogar um grão na terra, quando se planta; ele é sepultado, isto é, tem que morrer e nascer uma planta nova. Assim nós somos plantados no Batismo com o Senhor Jesus Cristo; entramos pelo Batismo e no Batismo na sua morte e túmulo e passamos pela morte para uma vida eterna’.
O Batismo efetivo “é a palavra de Deus unida à água e a fé que confia nesta palavra”. Portanto, é mau uso batizar uma criança sem ter a certeza de que ela vai crescer e viver na Comunidade cristã. Importa destacar que a Comunidade/Igreja que batiza crianças tem a obrigação de oferecer-lhes ensino cristão intensivo e qualificado. Devemos valorizar e priorizar o trabalho com crianças através do culto infantil, o ensino confirmatório e outras formas.
O que valoriza o Batismo é a palavra de Deus e a fé. A água é importante como sinal visível e sensível da ação de Deus na pessoa. Para administrar o Batismo, Deus usa a Comunidade e o seu ministério ordenado. Por isso, na IECLB os Batismos sempre acontecem em cultos regulares. É também o momento em que a Comunidade reunida em culto expressa a sua alegria e a gratidão diante de Deus, ao integrar mais um membro à sua Igreja.
Batismo é água que, “com a palavra de Deus”, é “água de vida, cheia de graça e um lavar de renascimento no Espírito Santo.” Todas as pessoas batizadas recebem o Espírito Santo, e ele age nelas pela pregação da palavra de Deus – o coração flamejante que aparece na Rosa de Lutero, o brasão da família - e pela administração dos sacramentos. Na combinação da água com a Palavra de Deus, em presença da comunidade que crê, que o batismo nos torna filhas/os de Deus.
Batismo é início de uma caminhada! Sabemos que nossa vontade de contrariar a Deus, não se deixa afogar facilmente nas águas do batismo. Por isso, o re-nascer, o surgir do novo ser humano em nós, vem sempre de uma busca permanente. Vida cristã não é outra coisa que diário batismo. Se mostra numa atitude de permanente penitência: um refletir diário sobre nossa vida a partir do Evangelho de Jesus Cristo e essa reflexão precisa caminhar para a prática.
Nosso temor é que nossos filhos se afastem da fé, se distanciem da família e se esqueçam de quem os amou desde o princípio. De nada vale nosso sofrimento. Nem é possível construir gaiolas douradas para prendê-los e mantê-los junto a nós. Como estão os espaços da nossa existência? Nossa casa é um lugar sempre aberto? , Lá se dá nova chance ao outro? A igreja é um lugar seguro, onde temos a capacidade de nos perdoar e retomar a vida? Se o jardim está bem cuidado, as borboletas sempre voltam!
Só assim, o batismo em nome do trino Deus, Pai, Filho e Espírito Santo (Mt 28.19-20), pode ser perpetuado na vida da nossa família.
segunda-feira, 1 de abril de 2013
Dia-logar: transcender a palavra: As mulheres e a ressurreição de Jesus
Dia-logar: transcender a palavra: As mulheres e a ressurreição de Jesus: Antonio Carlos Ribeiro O relato bíblico da ressurreição de Jesus ((Lucas 24.1-12) destaca a presença das mulheres. As mesmas mulheres qu...
As mulheres e a ressurreição de Jesus
Antonio Carlos Ribeiro
O relato bíblico da ressurreição de Jesus (Lucas 24.1-12) destaca a presença das mulheres. As mesmas mulheres que acompanharam toda a via crucis, do julgamento à crucificação no Gólgota. Os soldados romanos não sabiam como reagir. O que fazer com as pessoas que têm como única defesa o choro diante dos maus tratos impostos a outra pessoa?
A capacidade de insistir, não recuar e clamar das mulheres durante o martírio de Jesus é um exemplo para a atuação da Igreja. Essas mulheres que passaram a Sexta-feira Santa sofrendo com a injustiça imposta, não descansaram no Sábado. Modelos da atuação da Igreja no mundo, essas mulheres queriam apenas embalsamar o corpo de Jesus, direito negado pela crueldade da injustiça imposta e pela urgência de preparar o ambiente público para a festa.
Indóceis, elas fizeram uma vigília durante a noite e a madrugada, o medo foi superado pelo amor – o contrário do medo não é valentia, mas amor – que as levou, mesmo correndo grandes riscos, ao túmulo do Senhor. Elas, por sua vez, se despreocuparam dos preparativos da festa porque foram capazes de perceber que o centro da Páscoa era o Senhor morto.
Celebrar a páscoa sem o cordeiro é tomar parte num espetáculo onde o vinho não serve para lembrar o sangue derramado injustamente, mas para inebriar consciências. E a música se transforma de alegria da alma em droga que distrai os que se sentem impotentes diante da realidade.
Por isso, as Igrejas que anunciam uma fé comprometida são as entidades da sociedade que mais incomodam os “donos do poder”. Como disse o pastor Geraldo Graf no sepultamento simbólico de Laurindo Buss, agricultor capixaba assassinado nos anos 90: “como Igreja, não nos cabe investigar, apurar ou acusar. Isso é tarefa do Estado. Mas nós podemos clamar”.
Em nome desse serviço diligente ao mundo, Maria Madalena, Joana, Maria mãe de Tiago e outras mulheres chegaram ao túmulo onde, apesar da pedra removida, elas não encontraram mais o corpo do Senhor. Começou então um diálogo assustado com os homens vestidos de branco que apareceram. “Por que buscais entre os mortos ao que vive?”, veio a pergunta, logo seguida da explicação: “Ele não está aqui, mas ressuscitou”. Por causa do medo das mulheres, o diálogo seguia cuidadoso, com os homens vestidos de branco lembrando as palavras de Jesus (v. 7-8).
No texto de Mateus, os homens de branco recomendam ir depressa e espalhar a notícia. Sob o impacto dos acontecimentos e tomadas de medo, essas mulheres não conseguiam elaborar e colocar esses fatos em ordem. Depois que voltaram do sepulcro, junto com a comunidade, com alguma dificuldade, admitiram: o Senhor ressurgiu! A constatação feita diante dos apóstolos começou a mudar a vida da comunidade. Eles começaram a perceber que a morte não era o fim. Só tinha palavra penúltima. A vida venceu a morte (v. 11).
Da atitude dessas mulheres nós também podemos aprender nessa páscoa. Não há arrogância nem prepotência, como nas autoridades políticas, religiosas e militares da Palestina do 1º século. Quando não tivermos forças para enfrentar o poder constituído ou o crime organizado, pelo menos devemos insistir, não recuar, clamar, marcando presença ao lado de quem sofre injustamente e de quem luta pela justiça (v. 12).
Ao ficar do lado de quem sofre injustamente, essas mulheres se tornaram as primeiras a saber a boa notícia (evangelho) e a anunciar a ressurreição do Senhor, assim também devemos hoje experimentar a novidade da ressurreição. Mesmo tendo sua palavra colocada em dúvida por alguns dos apóstolos, as comunidades cristãs de todos os tempos devem às mulheres o primeiro anúncio da ressurreição do Senhor.
Se colocarmos na condição delas qualquer pessoa que sofre preconceitos – negros, pardos, pobres, indígenas, estrangeiros, crianças ou populações de rua – perceberam o risco que corremos? Ao duvidar de sua real importância e valor podemos por a perder algo que muda a vida da comunidade de fé! Pensemos...
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