sexta-feira, 22 de março de 2013

Polícia Militar expulsa índios do ‘Museu do Índio’


Antonio Carlos Ribeiro

Rio de Janeiro – A tropa de choque da Polícia Militar do Rio de Janeiro cercou o Museu do Índio para expulsar os índios. O Deputado Estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), tentou negociar a saída pacífica. Duas pistas da avenida Radial Oeste, Zona Norte do Rio, ficaram interditadas por mais de um hora. Mas a ordem insana resultou em violência.

Índios e manifestantes quase tiveram confronto com policiais do Batalhão de Choque da PM por volta das 9 horas, em frente ao prédio. O advogado dos índios, Aarão da Providência, quis falar com os clientes mas foi impedido pela PM. Manifestantes foram ajudar os índios, mas policiais os atacaram com gás de pimenta, jogaram o advogado no chão, pisaram em sua cabeça, o levaram preso e o soltaram após 20 minutos, para atuar como interlocutor.


Várias pessoas tentavam furar o bloqueio policial para entrar na Aldeia Maracanã. O caso mais chocante foi de uma mulher grávida contida, com excesso de força, e presa. O uso do spray de pimenta já tinha ferido uma criança indígena de quatro anos, que sofria os efeitos do gás sem atendimento médico, impedido por causa do bloqueio, reproduzindo ações de terror do exército israelense contra os palestinos.

O deputado Freixo afirmou pela manhã que “os índios seriam levados de ônibus para verificar o novo terreno destinado a eles, em Jacarepaguá. De acordo com o deputado, a proposta do governo já está sendo redigida por oficiais de justiça”. E defendeu que "a medida judicial não precisa ser cumprida de forma truculenta, o acordo é para que todos saiam ilesos e que a decisão seja cumprida com toda a dignidade que eles merecem", disse.

A impaciência do governador Sérgio Cabral, que aciona a tropa de choque com frequência, se deve ao fato do governo do Estado ter perdido a causa na Justiça e o imóvel não poder abrigar uma área de circulação de torcedores nos jogos da Copa do Mundo. Quando a FIFA anunciou que não tinha solicitado esta obra e nem apoiou a desapropriação do imóvel, a Justiça a proibiu. Sem a visibilidade pretendida e a autoridade contestada, vem a fúria.

Ao defender que o imóvel volte a abrigar um Museu do Índio, o deputado Freixo expõe interesses escusos do executivo, levando Cabral a usar a tropa na intervenção violenta. O deputado estadual Geraldo Pudim (PR-RJ), também ajudou nas negociações, confirmou que o acordo já foi firmado, mas a ordem fez explodir a violência.

A advogada Ana Amélia Melo Franco apresentou mandado de segurança impedindo a ação governamental contra os índios, impetrado no 24º Juizado Especial Civel da Barra da Tijuca. O desembargador Mario Robert Mannheimer concedeu a liminar, impedindo o despejo dos índios. Ela argumentou que a ação popular tinha 280 assinaturas, que a medida do governo estadual era irregular e, a documentação do imóvel, obscura.

Com homens do Batalhão de Choque cercando o imóvel desde a madrugada – conflagração que as Forças Armadas não enfrentam com países vizinhos há um século e meio – o risco da invasão passou a ser iminente. No imóvel ocupado por índios de diversas etnias desde 2006, após a derrota na Justiça, Cabral decidiu construir um museu olímpico. Sem ouvir o povo fluminense. A frustração das guerras políticas perdidas viraram decisão insana.

Os policiais derrubaram o portão trancado por barricadas, agindo com truculência – que na decisão do governador é verbal, mas se transforma em letal na ação da tropa de elite – contra cerca de 50 pessoas, incluindo crianças, que defendem os direitos já reconhecidos pela Justiça, mas não admitidos pelo Executivo.

O indígena Afonso Apurinã disse que "os índios estão no muro da aldeia negociando com representes da Alerj, do governo do Estado e policiais. O que eles querem é que um índio saia em paz e vá negociar com o governador Sérgio Cabral", disse. O índio mencionado está no museu desde o início da ocupação, em 2006.

Os confrontos iniciaram de madrugada, quando manifestantes e simpatizantes da população indígena bloquearam a pista da Radial Oeste. A PM reagiu com bombas de efeito moral e gás de pimenta, e prendeu duas pessoas. Desde essa hora duas faixas da pista foram ocupadas por carros da polícia, implicando nas retenções do trânsito ao longo da via, na altura do casarão.

Governo com muitos conflitos – incluído com o Corpo de Bombeiros do Estado, em greve por causa do salário de R$ 850 – e pouca confiabilidade, manda um secretário oferecer três locais para alojar os índios, até ser construído o Centro de Referência da Cultura Indígena, na Quinta da Boa Vista. Mas, sem garantias de Cabral, os índios rejeitaram. Não sobrou opção, senão a insanidade que impossibilita o adiamento da barbárie.

Assim, “além da violência na desocupação, tem uma questão simbólica, tem a questão do patrimônio histórico-museológico do Rio, tem a questão do índio como sub-cidadão, tem a horrenda dramaturgia urbana da copa”, opinou o jornalista Augusto Franke Bier, diretor do Museu da Comunicação Hypólito José da Costa, de Porto Alegre. As imagens mostradas na televisão sofrerão cortes da estética ideológica.

Opções distintas em momentos diferentes, o jornalista Sérgio Cabral, cuja imagem fica conturbada pela ação do filho, fez outra escolha ao lutar contra a ditadura, sobretudo seus métodos, sem ameaças ao funcionalismo, nem alianças espúrias com grandes empresários, inclusive preservando monumentos como o Castelinho do Flamengo, de sua fúria insana.

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