quinta-feira, 14 de março de 2013

E agora, Feliciano?


Antonio Carlos Ribeiro

A primeira reunião da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, dia 13, presidida por Marco Feliciano (PSC-SP), foi o desastre previsível. Houve protestos de parlamentares como Luiza Erundina, Nilmário Miranda, Ivan Valente e outros deputados do PT e PSOL, se recusando a ‘emprestar’ a credibilidade de sua presença.

Manifestantes e defensores de Direitos Humanos, incluídos os homossexuais e os negros, reclamando a perda do direito à voz, à pauta e à intervenção assegurada. O presidente estava cercado de pastores pentecostais, que atuam como assessores sem o serem, dos indispensáveis ‘seguranças’ e do deputado Jair Bolsonaro.


Esta última figura – ou seria uma ‘eminência parda’?, como os militares se referiam a teólogos assessores de movimentos populares na ditadura – é o parlamentar que já vestiu verde oliva – do uniforme de campanha ao pijama – seguido dos ternos, se adaptando ao partido de tons pasteis, traço conservador e gente de indefinições muitas.

O clima estava tenso, já que as regras da própria composição foram mudadas, com cinco lugares e três suplências de apenas um partido, gerando muita gritaria por espaço, inclusive do militar truculento e sem falo, que só pode torturar com palavras – um exagero – já que só com poucas leituras, surge a impotência e uma opção: a inexpressão.

Marco Feliciano estava impassível, mesmo sendo interrompido pelos gritos de ordem dos manifestantes, contrários à sua permanência na presidência da comissão. Ameaçou retirá-los do plenário, sem obter atenção. Não se sabe se pela pancadaria ideológica a que foi exposto ou se pela submissão voluntária, consciente do partido que tem.

O que mais ofende é a falta de argumentos, traquejo e a experiência para lidar com a dor humana. Mercador de curas ao custo de achaques, o olho está mais treinado para o valor a amealhar do que para os dilemas reais das pessoas. E se as imagens não permitirem a negação dos fatos, dirá que era ‘brincadeira’, mesmo no templo.

Nestas horas, a palavra do deputado Nilmário Miranda (PT-MG), ex-presidente da comissão, seguida da fala dos deputados Érika Kokay (DF) e Domingos Dutra (MA), ofendem pela ilegitimidade. É preciso disfarçar a falta de autoridade – mais complexo que deixar de ‘alisar o cabelo ou fazer as sobrancelhas’ – por exigência da eminência verde-oliva ou dos pastores de muitos anos e pouca teologia, diante da oportunidade imperdível.

Diante da absoluta confusão – fugindo ao pleonasmo – até os deputados da bancada evangélica sugeriram a suspensão dos trabalhos, por óbvio. Mas ele não podia atender, evitando atribuir legitimidade à oposição. Até porque diferente da oposição ao Governo Federal, tornada situação pelos próprios erros, essa oposição tem o poder, mas não tem propostas, nem credibilidade e nem apoio de alguém respeitado.

Saíram os manifestantes e suas causas, sobraram os parlamentares de um só partido, requerimentos aprovados em votação simbólica, sem debate, e sequer uma audiência pública marcada. Ficaram a inexpressão, os ‘descendentes amaldiçoados’ e os olhares vagos, vendo escorrer o substancioso sentido da CDHM.

Do que ficou, resta apenas o que Carlos Drummond de Andrade registrou no poema José:

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

2 comentários:

Unknown disse...

Muito boa todas as colocações! Parabéns!!!

Pr. Edson disse...

Prezad@s,
Usarei um dito humorístico: Cadê o resto? Pois, a situação é um hilário progressivo, ou seja, Tiririca como deputado Federal que foi quase impedido de exercer sua função eletiva por conta de sua posição um tanto "humilde" analfabeta. Mas, alguns meses após deste embate, foi eleito um dos melhores homens na função em destaque na câmara dos deputados. Todavia, não poderia dizer o mesmo do presidente do senado sua excelência José Renan Vasconcelos Calheiros, que apesar das lamúrias e persistentes solicitações de impedimento dos mais variados seguimentos; tanto internos quanto externos. Renan Calheiros, foi empoçado como presidente do senado, apesar dos pesares, por conta de seu terceiro mandato. E, o Estado de Natal, tem hoje no senado este pujante representante de sua bancada.
Entendo-se que olhando para o mesmo ponto, pode-se perfeitamente chegar a conclusões dos níveis mais diversos ou chegar a nenhuma conclusão. Nota atribuída ao poeta Fernando Pessoa "Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que se haviam zangado um com o outro. Cada um me contou a narrativa de por que se havia zangado. Ambos tinham toda razão. Não era que um via uma coisa e outro, outra, ou que via um lado das coisas e outro, um lado diferente. Não; cada um via as coisas exatamente como se havia passado, cada um via com critério idêntico ao do outro, mas cada um via uma coisa diferente, e cada um, portanto, tinha razão. Fiquei confuso dessa dupla existência da verdade." (Deus Fora do Espelho – Jonas Rezende, p.73)
Faço coro com voz da senhora Nilza M., deste modo parabenizo-o por suas colocações... Com Ressalvas.
Luz e Força!!!

Total de visualizações de página