segunda-feira, 11 de março de 2013

Caso Marco Feliciano: hostilizações e ‘munição vencida’ na resistência


Antonio Carlos Ribeiro

O deputado Marco Feliciano (PSC-SP), que é pastor da Assembleia de Deus, tem sido alvo de hostilizações, até em frente à sua própria comunidade, além das manifestações contra sua eleição para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, realizadas em sete cidades neste sábado, incluída Rolândia (SP), sua base política.

A reação do pastor-deputado parece ser organizar ‘desagravos’ à sua eleição. Não há nem mesmo uma defesa de sua proposta, jamais enunciada. O mote usado em sua defesa é a união de evangélicos e católicos em torno das causas que chamou de “batalha contra a família brasileira”.


A derrota que parece avizinhar-se, começa quando o também cantor de música gospel usa uma estratégia que se afasta irreversivelmente do debate político e público e o leva para a ‘seara’ das igrejas, parecendo algo como uma boia em alto mar e em meio à tempestade.

A proposta inclui reunir líderes religiosos conservadores – especialmente evangélicos - para discutir o futuro das igrejas diante da crise que, ao que parece, ele sequer consegue dimensionar. Se a escatologia (coisas futuras) das Igrejas não cabe no debate sobre minorias discriminadas em nossa história, os equívocos começam no debate das políticas públicas para direitos humanos, da CDHM, até a estratégia fundamentalista para a conquista da sociedade.

Dos debates em torno dos temas da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, especialmente sobre esforço e avanços dos direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais (DHESCAs), o pastor recém-chegado ao Parlamento aparenta não ter qualquer qualificação intelectual – esvaziando o debate nos termos propostos – sequer para entender os diversos aspectos da Comissão que pretende presidir.

Esta constatação elementar surge da maneira como o processo foi encaminhado – de uma estratégia política aparelhista de ‘ocupar vagas’ na CDHM até a falta de interlocutores no Parlamento, nas entidades representativas de minorias – que adquiriram status de sujeito político muito recentemente, claramente colocado em risco no discurso do eleito, provocando reações furiosas, às quais sequer vocabulário político e jurídico ele tem para responder.

A estratégia de conclamar as igrejas evangélicas para apoiarem sua causa pessoal, ou anda pior, envolvê-las numa estratégia belicosa, polarizada e maniqueísta é o maior dos equívocos. A linguagem com expressões como “a maior de todas batalhas” (sic), “contra a família brasileira”, “bombardeada por mentiras”, “grupo de bandeira LGBT”, “dividir e destruir nossas igrejas e família”, retrocede aos outdoors de Silas Malafaia, pulverizados na campanha eleitoral.

O arsenal de linguagem dos anos 50 foi reciclado: “incomodando o reino das trevas", “igrejas diante desse grande embate”, “precisamos mostrar a nossa união” e “perseguições”. Isso significa apostar numa linguagem polarizada e, em última instância, sem solução para a superação do conflito religioso, que a sociedade busca há décadas.

O aproveitamento dessa tensão pela mídia implica em riscos cada vez mais perversos. Na guerra particular e quase desesperada que a mídia de elite trava contra o governo, sem expectativas de intervenção dos partidos de oposição – sem estratégias, nem perspectivas e nem chances eleitorais – até por conta dos avanços sociais, dos resultados políticos e econômicos, e do crescimento do governo popular com popularidade inédita.

Ao dizer que “que não está disposto a rever a escolha do pastor, apesar da pressão de setores da sociedade”, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), tenta fugir do foco da mídia, minimiza os efeitos e fala pouco. Recém-chegado, ainda não tomou medidas e nem mostrou a que veio, e ainda teme ficar chamuscado, por isso faz uma defesa estritamente formal, sem esquecer da crise que ronda o legislativo.

Isso significa que o mar não é de almirante para ninguém, nesse imbróglio, relutando entre falta de opções diante do qual o golpismo da mídia, mesmo gasto é a única forma de alterar um quadro definido. Por isso, se o mundo religioso não tiver outra alternativa, ainda que essa desarticulada, sem análise e nem proposta, além de aparelhista, o parlamento fica à mercê do balanço das ondas.

Isso explica sua indefinição em relação ao tema, sua insegurança num tabuleiro legislativo de peças contadas e movimentos limitados, à medida que a bancada evangélica tem votos, eventualmente impotentes contra a opinião pública. Alves sabe que não adianta defender o direito de o PSC indicar o presidente da comissão, se ela não for representativa e politicamente representativa da sociedade.

Sabe ainda que a inteligência e a articulação política do deputado Jean Willys (PSOL-RJ), mesmo ausentes, esvaziam o debate, invisibilizam a CDHM e potencialmente ‘emasculam’ o legislativo num dos poucos temas em que tem chances de protagonismo político e social. O resto é rezar para que as igrejas evangélicas recuem ou paguem os preços do caos anunciado, com os quais elas perdem, sem que ninguém ganhe!


2 comentários:

Pr. Edson disse...

Professor meus respeitos,
Ressalto que a história encontra-se recheada destes temas polêmicos nas situações mais diversas mal comparando a economia da Europa que encontra-se permeada de situações de caráter objetivo e subjetivo. Mas, são, postos a mesa sem critério algum, pois, a ideia seria já que não temos uma resposta satisfatória vivamos dos resultados destas ações. Estamos a aproximados 1700 anos tentando resolver problemas pertinentes as nossas posições de cunho religioso e não se vê terra firme. Com a modernidade estamos diante das questões de DH, onde as ditas minorias se articulam através de debates, articulam-se em prol de suas reivindicações e permutam por este direito. Caro professor, acredito que não possamos ser classificados como minoria, pelo testemunho da história.

Rui Barbosa, no trecho inicial de seu famoso poema "Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte deste povo,..." Possivelmente, seu desabafo foi por conta deste imbróglio que certamente conduziria nosso país a este momento de pura emasculação dos setores mais diversos de nossa sociedade, diversos para não ser totalitarista e não ser confundido com radical.

Não sou afeto de Marcos Feliciano, mas o que faremos, deixaremos passar tal oportunidade; por conta de que? Daquela celebre pergunta: “Se uma mosca cai dentro da água benta ela continua ou não sendo benta?” Ou seria melhor sairmos à luta e somar junto às minorias e deste modo formar este grande debate onde o mais importante é o respeito aos direitos e não a pura e simples imposição incoerente “seja de que grupo ou seguimento seja”.

Grato professor.

transcenderapalavra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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