terça-feira, 27 de março de 2012
O sacerdote do Riso
sábado, 24 de março de 2012
A sociedade civil organizada na Rio+20
quarta-feira, 14 de março de 2012
Perigo: acintosamente humano!
Marcel Marx é um homem que vive como engraxate nas proximidades do porto e, com o pouco dinheiro que ganha, tenta sustentar sua casa. Este é o pano de fundo em O Porto (La Havre, França/ Finlândia/ Alemanha, drama, 93 min., 2011, com André Wilms , Kati Outinen, Jean-Pierre Darroussin, dirigidos por Aki Kaurismäki). É um retrato sem retoques da França que balança na corda bamba da crise econômica, mais pende entre o lado de Nicolas Sarkozi e Marine Le Pen, da direita, e o outro, do socialista François Hollande.
A estória se passa em Calais, na Normandia, onde um homem que vive com dificuldades e trabalha como engraxate, vê sua rotina mudar. É tomado de assalto por duas situações: a doença súbita da esposa (Kati Outinen) e a chegada de um garoto africano, de uma família de imigrantes do Gabão, num container a bordo de um cargueiro. Nessa hora começam as boas surpresas.
http://www.cineclick.com.br/tvcineclick/index/titulo/o-porto/id/6358/
Os vizinhos fazem parte de uma confraria que se ajuda, se protege, tornam mais suave o drama de serem pobres e se depararem regularmente com essas situações no porto. A mulher que adoece, a dona do boteco de imigrantes, o músico que se reconcilia com a mulher para fazer o show beneficente, a padeira que não deixa faltar o pão! A França de Kaurismäki não é só a Paris deslumbrante, a cultura que exala de todas as formas e os cafés como toque de identidade cultural!
É com esses vizinhos que ele conta, ao resolver esconder o menino, encontrar sua família, despistar o detetive encarregado do caso e organizar o show que pagará a chegada do rapaz a Londres. Nesse ínterim há a visita à cadeia, os rostos de imigrantes das colônias francesas, a rigidez do ambiente e a explicação do avô do menino, que perdeu o filho na transferência para outro presídio.
Em todo esse processo Marx mente para salvar a vida do garoto. Se recusa a entregá-lo às autoridades. Guarda a informação do inspetor, que não tem traços hilários como Cruseau, mas uma seriedade que se deixa perpassar pelo drama de quem foge da fome. É sisudo para responder ao ‘monsieur le préfet’, ao atender o chamado para prender o imigrante e ao contribuir para que o rapaz possa fugir.
Por trás do que o drama não mostra – o destino da família, a prisão do avô e a morte do pai do rapaz – existem cenas cotidianas da intimidade dos moradores desses lugares. O rapaz sempre calado ou em poucas palavras, o risco de vida permanente – de retorno ao ‘inferno’ de onde veio, da prisão com a as marcas da indigência política ou da fuga alucinada, com destino ao fim – e uma qualidade de reflexão sobre o drama dos refugiados.
Kaurismäki consegue fazer comédia a partir da tragédia dos hábitos conservadores, empresta certa leveza aos moradores dessa região da cidade ao adotar a composição estética de Renoir e o estilo humorístico de Jacques Tati. Se vagueamos pelas notícias do discurso de direita na campanha presidencial, nos arrepiamos com a maneira como Marine Le Pen se refere a essa população. Mas se percebemos a humanidade, sob os limites da lei, que surge nesta circunstância, vemos os avanços.
Da história de cumplicidade, surgem amizades mudas, dos que não sabem quando se verão de novo, do favor vital sem prazo de retribuição, da solidariedade de quem sabe o que é viver na clandestinidade. O filme levanta muitas questões para os que vivem na França. Especialmente pelo discurso apaixonado, discricionário e violento da direita.
Em todo o caso, não se pode silenciar sobre a situação para a qual esta comédia aponta: O fato de mostrar que no amor, na solidariedade e na ajuda recíproca está a solução para o ‘mal’ da imigração em busca de sobrevivência, que tornam esse filme um perigo. O de ser ‘acintosamente humano’!
quinta-feira, 1 de março de 2012
Theologe Milton Schwantes verstoben
Falece o teólogo Milton Schwantes
São Paulo – Faleceu esta madrugada o teólogo biblista Milton Schwantes. Ele concentrou suas pesquisas e atuação docente na área de exegese e teologia bíblica, Antigo Testamento. Também se dedicou à arqueologia do Antigo Oriente e ao ugarítico. Era pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e docente dos cursos de graduação e pós-graduação em Teologia, Teológico Pastoral e Especialização em Bíblia na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).
Presta serviços à formação em várias faculdades brasileiras de Teologia, assessorou dezenas de entidades e grupos bíblicos de Leitura Popular da Bíblia, formou dezenas de novos biblistas brasileiros e latino-americanos, publicou centenas de artigos e dezenas de livros.
Dedicou sua pesquisa e produção teológica ao ecumenismo, à teologia da libertação e à Leitura Popular da Bíblia, que o tornaram um biblista, exegeta e teólogo reconhecido em todas as áreas, dentro e fora do Brasil. Por ocasião dos seus 60 anos, o professor Lothar Hoch, reitor da EST, referiu-se a ele como "pastor, professor, profeta e pregador", agradecendo pelos anos de dedicação à EST e admitindo que seria necessário "reparti-lo" com outros centros de formação, igrejas e contextos.
Nesta ocasião, o professor Lauri Wirth mencionou o título acadêmico Doutor Honoris Causa, concedido em 2002 pela Universidade de Marburg, Alemanha, quando foi chamado de "construtor de pontes" entre o Sul e o Norte. E o pastor Ervino Schmidt, em nome do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), sublinhou o trabalho incansável do homenageado na interpretação contextualizada de textos bíblicos. "Schwantes nos lembra que a Palavra de Deus tem dimensões políticas e olha para as dores do povo latinoamericano".
Há anos foi submetido a uma intervenção cirúrgica no cérebro, da qual saiu com perda parcial da visão e outras limitações físicas. Mas se recusou a deixar a pesquisa, a sala de aula e as assessorias, conquanto diminuísse o ritmo de trabalho. Internado há mais de 80 dias na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), por causa de uma insuficiência renal, sofreu complicações que, segundo os médicos, foram comprometendo órgãos como rins, coração, pulmões e intestino, vindo a falecer esta madrugada.
Com suas incontáveis relações de amizade e fraternidade no Brasil, na América Latina e ao redor do mundo. O movimento de leitura popular da Bíblia e a pesquisa bíblica perdem um dos seus grandes nomes. A perda de Schwantes deixa discípulos, amigos e irmãos na fé tristes e consternados, que agradecem por seu testemunho e pela alegria de com ele ter convivido e aprendido, e intercedem pela esposa e familiares.
São inúmeras as pessoas que foram animadas, inspiradas e desafiadas por meio do seu trabalho. Teólogo culto e crítico, tinha vocação para a pesquisa bíblica, agudeza em suas análises, marcadas sempre por uma irreverência criativa e um por um intransigente compromisso com os “mais pequenos/as filhos/as do Pai”.
O velório acontecerá no Cemitério da Paz (Rua Dr. Luiz Magliano, 644 - Jd. Morumbi - São Paulo-SP) hoje, dia 1º de março, a partir das 16h, e a cerimônia religiosa está prevista para amanhã, dia 2, às 10 horas da manhã.