quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Teólogo diz que o coração provoca a inteligência da fé e da comunhão

Antonio Carlos Ribeiro


“O coração convertido ao ecumenismo provoca a inteligência da fé e da comunhão. Isso significa que o coração que se amplia provoca o mesmo na mente”. A afirmação foi feita pelo teólogo Elias Wolff, do Instituto Teológico de Santa Catarina (ITESC), no III Simpósio Internacional de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).


Dr. Elias Wolff, Dr. Jesús Hortal Sanchez e Dom Paulo Cezar Costa


O teólogo introduziu o tema afirmando que o pontificado de João XXIII inaugura a mudança de posição da Igreja Católica diante do Movimento Ecumênico e de diálogo com as religiões não-cristãs. Esta é, segundo ele, uma convicção tão firme que a própria celebração do Concílio torna-se um evento ecumênico e dialogal, que conta com a presença de observadores não-católicos. Os observadores propõem, inclusive, questões e fazem observações que integrarão diversos documentos conciliares.


Na visão do Vaticano II, o ecumenismo é visto como modus operandi (modo de operação) e como modus escendi (modo de ser), de forma a escutar o outro e escutar o coração do outro. Wolff lembrou a afirmação “no princípio era a relação”, do filósofo Martin Buber, a partir da qual tudo o mais se constrói a partir da troca entre seres humanos. O ser é ser em diálogo, por isso na comunhão não se pensa ad intra.

Ele identificou tendências nas igrejas que criam dificuldades ao diálogo ecumênico e inter-religioso, como a afirmação através do complexo triunfalístico de poder, na Igreja Católica, da manutenção de uma analogia polêmica do período da Reforma, entre evangélicos tradicionais, e uma luta pelo proselitismo como forma de afirmação, entre os pentecostais.

O teólogo do Itesc enfatizou que o ecumenismo é essencial e não acessório, como afirmou João Paulo II, e por isso torna-se um constitutivo básico do evangelho. “A dificuldade é que em nossa realidade sempre, o ecumenismo acaba sofrendo com dilacerações da identidade eclesial”, afirmou. A partir disso, enfatizou que o diálogo não existe para mudar a verdade do outro, mas para dar conteúdo à expressão da fé.

Wolff recomendou atitudes práticas como compreender o outro na sua verdade, que exigirá passar do conversionismo para o acolhimento. A conclusão pastoral é que o ecumenismo não se faz apenas de bons sentimentos, mas de gestos concretos. E lembrou a expressão de João Paulo II: “Aquilo que nos une é mais forte do que o que nos separa”.

Um comentário:

Passos disse...

Feliz lembrança do Martin Buber em sua frase no seu livro "Eu e Tu" evoca o Genesis: "No início era a relação...". Precede, desta forma, a Ética a toda a epistemologia. Caminho idêntico aquele perseguido por Levinas.

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