terça-feira, 27 de março de 2012

O sacerdote do Riso

Antonio Carlos Ribeiro

Hotxuá (Documentário, Brasil, 1h 10min, dirigido por Letícia Sabatella e Gringo Cardia, com atores desconhecidos) trata de um tema em falta no mercado: o riso. O filme mostra os Krahô, tribo indígena que vive próxima a Palmas (TO), conhecida como povo que ri, e que escolheu um membro para ser sacerdote. Do riso.


O mundo ocidental parou para pensar sobre o tema quando Umberto Eco publicou O Nome da Rosa, um romance intitulado pela expressão medieval que designa o poder das palavras. Na investigação de assassinatos em série, um franciscano britânico descobre que o monge mais velho da abadia cluniacense matava. E, o mais dramático, por causa do zelo pela doutrina. Colocar veneno nas páginas de um livro desaparecido da obra de Aristóteles, o tornava fatalmente prazeroso para quem lia, em busca do tema tão urgente quanto raro na Itália medieval: o riso.

Obra que marca a estreia da atriz Letícia Sabatella e do cenógrafo Gringo Cardia na direção, Hotxuá encanta quem tem olhar profundo, se emociona com a singeleza da alma humana – diferente dos colonizadores espanhóis que negavam a alma aos índios, esbarrando na defesa intransigente do bispo Bartolomé de Las Casas – ela recupera o olhar desarmado e o riso fácil, que move menos músculos que o cenho cerrado dos oligarcas.

O filme esbanja imagens de sorrisos fartos, ócio inocentemente despudorado, liberdades só assumidas por quem a vive desde tempos pré-uterinos. Não apenas gargalham, mas se assenhoreiam do tempo, com tanta liberdade que torna compreensíveis os que os invejam

O enredo registra as datas, épocas e estações mais marcantes. A acompanhar o dia a dia dos krahô, a equipe mostrou os ritos do preparo coletivo dos alimentos, a Festa da Batata – a celebração ritual mais importante da tribo – e a mudança da estação chuvosa para a seca, fundamental em seu ciclo de vida.

E no centro da história mostrada na película, o papel de um sacerdote. Atípico, exótico, irreverente, até mesmo irreconhecível para os moldes do mundo ocidental, mesmo os tipicamente urbanos desta terra brasilis, em que as pessoas usam muitos tecidos para se cobrir – talvez por terem o que esconder, contraponto aos que não podem ser mais transparentes, já que inteiramente expostos – sem precisar ‘interromper’ a vida para ir à celebração, porque sua vida é celebração.

E o múnus pastoral deste xamã é encantar as pessoas com a vida. Ele provoca o riso no cotidiano – da pesca ao preparo coletivo dos alimentos, das ‘encenações’ acompanhadas por um público reverentemente sorridente, da presença, dos ritos de passagem da chuva até o que ‘libera’ a moça para ter namorado – em gestos litúrgicos comunitários, despossuídos de poder e mando, donos apenas da liberdade.

E a liberdade desperta a atenção porque é a mesma que mais falta aos ‘caras pálidas’. Dos comportamentos à mesa ao vestuário de cada ocasião, dos limites demarcados do público e do privado – especialmente para quem há séculos gosta de publicar o privado e privatizar o público – e dos códigos que, especialmente em espaços de salamaleques sagrados, mais escondem que revelam.

Com essa preparação de alma, sem prudências pudicas e olhos abertos e profundos, como o de quem ensinou que sinal do reino é quando os cegos vêm, os coxos andam e aos pobres é anunciada a salvação, recomendo assistir. Sem medo de rir e ser feliz!

sábado, 24 de março de 2012

A sociedade civil organizada na Rio+20

Antonio Carlos Ribeiro

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio + 20) começa a mobilizar a sociedade brasileira – que hospeda comitivas técnicas e diplomáticas dos países, encabeçadas por chefes de Estado ou de governo – nesta sociedade marcada por contradições como a impunidade da ditadura militar, a mídia controlada por um conglomerado privado e latifundiários que impõem o Código Florestal à sociedade civil organizada – que elegeu o governo mas não controla os votos para aprovar projetos de seu interesse no Congresso.

Para entender o papel da sociedade civil organizada, a ALC ouviu o depoimento do psicólogo Rafael Soares de Oliveira, que coordena o Koinonia – Presença Ecumênica e Serviço, uma das entidades-chave na coordenação da Cúpula dos Povos, a coalizão de ONGs, organizações de atuação na área ambiental, entidades populares, igrejas e religiões. Essa parcela representativa da população, sem poder direto mas com forte influência nas diversas camadas sociais das populações ao redor do mundo, une forças, articula atores sociais e elabora estratégias para deixar sua marca neste debate de impacto mundial.

 
Para Oliveira, a Cúpula dos Povos tem “um foco muito grande em agroecologia, sistemas renováveis e florestas que, com consumo de alimentos e produção em abundância, são temas colocados na pauta, e também a preocupação com a mudança climática em todas as suas direções. Essas três estão se parecendo mais com a agenda internacional super forte”.

Mas deixa claro que “em termos da governança global, as restrições não são apenas à questão ambiental”. A questão é democrática mesmo. “Como as democracias e os Estados vão dar conta desse fervilhar de novos movimentos e processos de insatisfação que estão presentes no planeta”, indagou. Ele tem claro que os governos e o sistema financeiro global “estão gerenciando para uma minoria muito drástica, que deixa de fora muita gente e muitos processos de oportunidades. E pior, não procura abrir a mão ou os olhos para outras alternativas”.

Os governos, na verdade, estão “tentando aplicar um pouco mais do mesmo remédio – neo-liberalismo – para ver se resolvem o problema em que a Europa está tropeçando desde 2008”, explicou. No caso do Brasil, é diferente, mas não sem conflitos. A posição do “governo brasileiro como um todo a gente pode abstrair da fala da presidente. Ela disse o seguinte: eu entendo as reivindicações da sociedade civil, mas eu sou governo e vocês são sociedade. Vocês têm que fazer alguma coisa por vocês, e nós faremos a nossa parte”.

Isso possibilita que a sociedade delineie sua proposta de intervenção. “O nosso papel vem do fato de fazermos parte de um projeto de um Brasil sem miséria, com projeto para 85 milhões de brasileiros, que precisam de qualidade de vida e de serviços públicos, e que não alcançamos a solução progressiva para essa qualidade e para a distribuição efetiva de riqueza sem crescer menos que 4% ao ano”, definiu. As entidades que integram a Cúpula dos Povos lidam com o “governo nos seus vários matizes, incluindo os lugares onde ele não é assim rápido. Mas na fronteira do debate central em torno da economia, ainda temos muito que avançar”. Daí surge a posição “de que nós não vamos privilegiar a discussão setorial, de grupos específicos ou temáticos”, assumiu.

“Essa discussão é pautada nas políticas de Estado”, admitiu o líder de Koinonia, “mas ela sempre vai ser secundarizada” em função do “projeto para 85 milhões de brasileiros que precisam de qualidade de vida e de serviços públicos”. Não é suficiente “ter políticas setoriais para mulheres, crianças, negros e indígenas”, porque se "em algum momento elas atrapalharem a luta” – o não crescimento de 4% ao ano com distribuição de riqueza e  manutenção do crescimento do país – “elas vão sim ser trituradas na máquina de desenvolvimento, o que para nós não dá para concordar”, deixou claro.

Ao relembrar que “democracia supõe direitos de minorias, se fossem minorias, todos esses grupos que eu citei”, resta ainda que “as execuções delas são contraditórias”. Assim, a Cúpula dos Povos vai “invocar o governo brasileiro a dar o exemplo global, emitindo uma posição firme e contrária a que se continue uma política de depredação ambiental ou de deterioração do planeta, vetando o Código Florestal alterado atual, ou avançando em propostas em relação aos acordos climáticos, rejeitando as metas do milênio, que aumentam a responsabilidade de quem mais polui e investindo em tecnologia alternativa limpa, mas também pensando num lugar comum, nesse que é um detalhe para mim importante em termos de defesa política”, enfatizou.

Rafael Oliveira dá a dimensão política do embate ao enunciar que “quando falamos de bem comum, se deve incluir tecnologia, que hoje é propriedade privada”. Se pensarmos no futuro do planeta, indagamos: “vai ter tecnologia limpa, mas com controle da tecnologia por parte de alguns? Vai continuar tendo concentração de riqueza, quem quer vender o que vai limpar mais ou limpar menos a energia ou a produção? Enfim, se vai continuar no ciclo da desigualdade constante”, elucidou.

Para colocar balizas, afirma que “outro ponto na cooperação com o governo é que nós não estamos necessariamente fechados a cooperar com ele em diferentes áreas como democracia, direitos humanos, etc”. Mas lembra as “dificuldades do próprio governo”, que tornam “difícil estar num evento global como este que vai acontecer no Rio de Janeiro. Com a Vale do Rio Doce concorrendo a ser a pior empresa de mineração do mundo?, com Belo Monte, que é chamada hoje de Belo Monstro?”. Esses são os problemas com que ONGs, organizações e militantes da área ambiental, entidades populares, igrejas e religiões têm considerado ao debater nas diversas fronteiras de aceleração do crescimento, explicou.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Perigo: acintosamente humano!

Antonio Carlos Ribeiro

Marcel Marx é um homem que vive como engraxate nas proximidades do porto e, com o pouco dinheiro que ganha, tenta sustentar sua casa. Este é o pano de fundo em O Porto (La Havre, França/ Finlândia/ Alemanha, drama, 93 min., 2011, com André Wilms , Kati Outinen, Jean-Pierre Darroussin, dirigidos por Aki Kaurismäki). É um retrato sem retoques da França que balança na corda bamba da crise econômica, mais pende entre o lado de Nicolas Sarkozi e Marine Le Pen, da direita, e o outro, do socialista François Hollande.


A estória se passa em Calais, na Normandia, onde um homem que vive com dificuldades e trabalha como engraxate, vê sua rotina mudar. É tomado de assalto por duas situações: a doença súbita da esposa (Kati Outinen) e a chegada de um garoto africano, de uma família de imigrantes do Gabão, num container a bordo de um cargueiro. Nessa hora começam as boas surpresas.

http://www.cineclick.com.br/tvcineclick/index/titulo/o-porto/id/6358/

Os vizinhos fazem parte de uma confraria que se ajuda, se protege, tornam mais suave o drama de serem pobres e se depararem regularmente com essas situações no porto. A mulher que adoece, a dona do boteco de imigrantes, o músico que se reconcilia com a mulher para fazer o show beneficente, a padeira que não deixa faltar o pão! A França de Kaurismäki não é só a Paris deslumbrante, a cultura que exala de todas as formas e os cafés como toque de identidade cultural!

É com esses vizinhos que ele conta, ao resolver esconder o menino, encontrar sua família, despistar o detetive encarregado do caso e organizar o show que pagará a chegada do rapaz a Londres. Nesse ínterim há a visita à cadeia, os rostos de imigrantes das colônias francesas, a rigidez do ambiente e a explicação do avô do menino, que perdeu o filho na transferência para outro presídio.

Em todo esse processo Marx mente para salvar a vida do garoto. Se recusa a entregá-lo às autoridades. Guarda a informação do inspetor, que não tem traços hilários como Cruseau, mas uma seriedade que se deixa perpassar pelo drama de quem foge da fome. É sisudo para responder ao ‘monsieur le préfet’, ao atender o chamado para prender o imigrante e ao contribuir para que o rapaz possa fugir.

Por trás do que o drama não mostra – o destino da família, a prisão do avô e a morte do pai do rapaz – existem cenas cotidianas da intimidade dos moradores desses lugares. O rapaz sempre calado ou em poucas palavras, o risco de vida permanente – de retorno ao ‘inferno’ de onde veio, da prisão com a as marcas da indigência política ou da fuga alucinada, com destino ao fim – e uma qualidade de reflexão sobre o drama dos refugiados.

Kaurismäki consegue fazer comédia a partir da tragédia dos hábitos conservadores, empresta certa leveza aos moradores dessa região da cidade ao adotar a composição estética de Renoir e o estilo humorístico de Jacques Tati. Se vagueamos pelas notícias do discurso de direita na campanha presidencial, nos arrepiamos com a maneira como Marine Le Pen se refere a essa população. Mas se percebemos a humanidade, sob os limites da lei, que surge nesta circunstância, vemos os avanços.

Da história de cumplicidade, surgem amizades mudas, dos que não sabem quando se verão de novo, do favor vital sem prazo de retribuição, da solidariedade de quem sabe o que é viver na clandestinidade. O filme levanta muitas questões para os que vivem na França. Especialmente pelo discurso apaixonado, discricionário e violento da direita.

Em todo o caso, não se pode silenciar sobre a situação para a qual esta comédia aponta: O fato de mostrar que no amor, na solidariedade e na ajuda recíproca está a solução para o ‘mal’ da imigração em busca de sobrevivência, que tornam esse filme um perigo. O de ser ‘acintosamente humano’!

quinta-feira, 1 de março de 2012

Theologe Milton Schwantes verstoben

Antonio Carlos Ribeiro

São Paulo - Heute morgen starb der Bibeltheologe Milton Schwantes. Er konzentrierte sich in seiner Forschung und Lehrtätigkeit auf das Gebiet der Exegese und biblischen Theologie, insbesondere des Alten Testamentes. Er widmete sich auch der Archäologie des Alten Orients und des Ugaritischen. Er war Pfarrer der Evangelischen Kirche Lutherischen Bekenntnisses in Brasilien (IECLB) und Professor in den Undergraduate-und Graduate-Programmen für Theologie, Pastoraltheologie und biblische Studien an der Methodistischen Universität von São Paulo (UMESP).


Schwantes studierte am Prätheologischen Institut (1959-1965), an der Theologischen Fakultät der IECLB (die er 1970 abschloss), an der Universität Heidelberg, Deutschland, wo er seine Doktorarbeit "Das Recht der Armen" (1974) schrieb. Zurück in Brasilien, diente er als Pfarrer in der lutherischen Gemeinde Cunha Pora (SC). Im Jahr 1978 wurde er Professor für Altes Testament an der Theologischen Fakultät in São Leopoldo, heute EST. Im Jahr 1987 übernahm er die Pfarrstelle in der lutherischen Gemeinde Guarulhos (São Paulo) und lehrte Bibelwissenschaften an der Methodistischen Fakultät in São Bernardo do Campo, heute UMESP. 1990 koordinierte er die Arbeitsgruppe „biblischen Studien“ der 8. Vollversammlung des Lutherischen Weltbundes (LWB) in Curitiba (Paraná).

Er stellte sich an verschiedenen theologischen Fakultäten in Brasilien in den Dienst der Ausbildung, hat Dutzende von Organisationen und Gruppen der „Volksbibellese“ begleitet (Leitura popular da Bíblia = eine lateinamerikanische Herangehensweise an die Bibel, bei der von den Alltagserfahrungen des Volkes ausgegangen wird) und Dutzende neuer brasilianischer und lateinamerikanischer Bibelwissenschaftler ausgebildet und Hunderte von Artikeln und Dutzende Bücher veröffentlicht.

Er widmete seine theologische Forschung und sein Werk der Ökumene, Befreiungstheologie und der Volksbibellese, die ihn zu einem Bibelwissenschaftler, Exegeten und Theologen machten, der in allen Bereichen anerkannt war - innerhalb und außerhalb Brasiliens. Anlässlich seines 60. Geburtstages nahm Professor Lothar Hoch, Rektor der EST, auf ihn als "Pfarrer, Professor, Prophet und Prediger" Bezug, dankte ihm für seine jahrelange Hingabe an die EST und gab zu, dass es notwendig wäre, ihn mit anderen Ausbildungsstätten, Kirchen und Kontexten zu „teilen“.

Bei dieser Gelegenheit erwähnte Professor Lauri Wirth den akademischen Titel Doctor honoris causa, der ihm im Jahr 2002 von der Universität Marburg, Deutschland, verliehen wurde, als er als "Brückenbauer" zwischen Süd und Nord bezeichnet wurde. Und Pfarrer Ervino Schmidt unterstrich im Namen des Nationalen Rates der christlichen Kirchen in Brasilien (CONIC), die unermüdliche Arbeit des Gelehrten auf dem Gebiet der kontextualisierten Interpretation biblischer Texte. "Schwantes erinnert uns daran, dass das Wort Gottes politische Dimensionen hat und sieht die Schmerzen der Menschen in Lateinamerika."

Vor Jahren hat er sich einer Operation am Gehirn unterzogen, die mit teilweisem Verlust des Sehvermögens und anderen körperlichen Einschränkungen einherging. Aber er weigerte sich, die Forschung, die Lehrtätigkeit und die Begleitung zu lassen, obgleich er das Arbeitstempo verringern musste. Schießlich lag er mehr als 80 Tage wegen einer Niereninsuffizienz auf der Intensivstation. Dann traten Komplikationen auf, die nach Aussage der Ärzte Organe wie Nieren, Herz, Lunge und Darm betrafen und schließlich heute morgen zu seinem Tod führten.

Mit seinen zahllosen Freundschaften und Beziehungen in Brasilien, nach Lateinamerika und in die ganze Welt, verliert die Volksbibelbewegung und die Bibelforschung eine ihrer ganz Großen. Der Tod von Schwantes lässt viele Schüler, Freunde und Brüder und Schwestern im Glauben traurig und bestürzt zurück, die ihm für sein Zeugnis, für die Freude, mit ihm zusammen gelebt und gelernt zu haben, danken und für seine Frau und Familie beten.

Es gibt unzählige Menschen, die durch seine Arbeit motiviert, inspiriert und herausgefordert wurden. Als gebildeter und kritischer Theologe war er berufen zur Bibelforschung und zu scharfen Analysen, die immer von einer gewissen kreativen Schalkhaftigkeit und einem kompromisslosen Bekenntnis zu den "kleineren Kindern des Vaters" gezeichnet waren.

Die Beerdigung findet am Friedhof „Cemetério da Paz“, Morumbi - Rua Luiz Magliano, 644 São Paulo statt. Heute, 1. März, nehmen die Menschen ab 16 Uhr Abschied. Die Beerdigung ist für morgen ab 10 Uhr angesetzt.

Falece o teólogo Milton Schwantes

Antonio Carlos Ribeiro

São Paulo – Faleceu esta madrugada o teólogo biblista Milton Schwantes. Ele con
centrou suas pesquisas e atuação docente na área de exegese e teologia bíblica, Antigo Testamento. Também se dedicou à arqueologia do Antigo Oriente e ao ugarítico. Era pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e docente dos cursos de graduação e pós-graduação em Teologia, Teológico Pastoral e Especialização em Bíblia na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).


Schwantes estudou no Instituto Pré-Teológico (1959-65), na Faculdade de Teologia da IECLB (concluída em 1970), seguindo para a Universidade de Heidelberg, Alemanha, onde defendeu a tese de doutorado “O direito dos pobres” (1974). De volta ao Brasil, atuou como pároco na Comunidade Luterana de Cunha Porã (SC). Em 1978 tornou-se professor de Antigo Testamento na Faculdade de Teologia, hoje EST. Em 1987 assumiu o pastorado na Comunidade Luterana de Guarulhos (SP) e passou a lecionar Bíblia na Faculdade Metodista de São Bernardo do Campo, hoje UMESP. Em 1990 coordenou o núcleo de Estudos Bíblicos da 8ª Assembleia da Federação Luterana Mundial (FLM), realizada em Curitiba (PR).

Presta serviços à formação em várias faculdades brasileiras de Teologia, assessorou dezenas de entidades e grupos bíblicos de Leitura Popular da Bíblia, formou dezenas de novos biblistas brasileiros e latino-americanos, publicou centenas de artigos e dezenas de livros.

Dedicou sua pesquisa e produção teológica ao ecumenismo, à teologia da libertação e à Leitura Popular da Bíblia, que o tornaram um biblista, exegeta e teólogo reconhecido em todas as áreas, dentro e fora do Brasil. Por ocasião dos seus 60 anos, o professor Lothar Hoch, reitor da EST, referiu-se a ele como "pastor, professor, profeta e pregador", agradecendo pelos anos de dedicação à EST e admitindo que seria necessário "reparti-lo" com outros centros de formação, igrejas e contextos.

Nesta ocasião, o professor Lauri Wirth mencionou o título acadêmico Doutor Honoris Causa, concedido em 2002 pela Universidade de Marburg, Alemanha, quando foi chamado de "construtor de pontes" entre o Sul e o Norte. E o pastor Ervino Schmidt, em nome do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), sublinhou o trabalho incansável do homenageado na interpretação contextualizada de textos bíblicos. "Schwantes nos lembra que a Palavra de Deus tem dimensões políticas e olha para as dores do povo latinoamericano".

Há anos foi submetido a uma intervenção cirúrgica no cérebro, da qual saiu com perda parcial da visão e outras limitações físicas. Mas se recusou a deixar a pesquisa, a sala de aula e as assessorias, conquanto diminuísse o ritmo de trabalho. Internado há mais de 80 dias na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), por causa de uma insuficiência renal, sofreu complicações que, segundo os médicos, foram comprometendo órgãos como rins, coração, pulmões e intestino, vindo a falecer esta madrugada.

Com suas incontáveis relações de amizade e fraternidade no Brasil, na América Latina e ao redor do mundo. O movimento de leitura popular da Bíblia e a pesquisa bíblica perdem um dos seus grandes nomes. A perda de Schwantes deixa discípulos, amigos e irmãos na fé tristes e consternados, que agradecem por seu testemunho e pela alegria de com ele ter convivido e aprendido, e intercedem pela esposa e familiares.

São inúmeras as pessoas que foram animadas, inspiradas e desafiadas por meio do seu trabalho. Teólogo culto e crítico, tinha vocação para a pesquisa bíblica, agudeza em suas análises, marcadas sempre por uma irreverência criativa e um por um intransigente compromisso com os “mais pequenos/as filhos/as do Pai”.

O velório acontecerá no Cemitério da Paz (Rua Dr. Luiz Magliano, 644 - Jd. Morumbi - São Paulo-SP) hoje, dia 1º de março, a partir das 16h, e a cerimônia religiosa está prevista para amanhã, dia 2, às 10 horas da manhã.

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