quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Elite fica furibunda com o Doutor honoris causa de Lula

Antonio Carlos Ribeiro

A conquista do título de Doutor honoris causa (Dhc, não confunda!) por Luiz Inácio Lula da Silva provocou duas reações e uma cena patética, em várias perguntas. A primeira, de Richar Descoings, diretor da Sciences Po (Ciências Políticas), em sua defesa, por ser o primeiro latino-americano a recebê-lo na Universidade de Paris.


A segunda, sem nenhuma novidade para quem acompanha os meios de comunicação, foi o tratamento dado pela mídia elitizada – coronelista, simbioticamente dependente dos centros de poder, que multiplicou fortunas em décadas de publicidade pública e fica mais ressentida a cada derrota – em queda de qualidade, audiência, acesso e tiragem.

A cena patética, consequência dessas reações, foi das elites – endinheiradas, provincianas e devedoras de uma visão colonialista e enriquecida – que viveu de trocar favores com o império e explorar a escravização de homens, mulheres e crianças negras por quase quatro séculos, legítimos filhos bastardos de degredados, prostitutas e religiosos, de quem herdaram o crime, a prática de tornar público o íntimo e certa aura do sagrado.

Esse é o passado de corrupção, da exploração do mercado vil da condição humana, da incapacidade última e morbidamente prazerosa de sepultar os escravos que habitam esses senhores. E dessa incapacidade resulta a necessidade de negar quem superou a miséria, chegou ao poder, acabou com o poder da dívida e foi reconhecido. Até no oriente.

Mas o pior, veio nas respostas de Descoings, segundo o relato de Martín Granovsky, do Página/12, expondo o pensamento arrogante, ganancioso e mesquinho. Com jornalistas de cabeça oligárquica, o professor foi didático. “Sciences Po tem uma cátedra de Mercosul, os estudantes brasileiros vão cada vez mais para a França, Lula não saiu da elite tradicional do Brasil, mas chegou ao máximo nível de responsabilidade e aplicou planos de alta eficiência social”.

Um repórter – desses incapazes para textos opinativos, porque exigem opinião - perguntou se era correto premiar alguém que se jacta de nunca ter lido um livro. O professor manteve sua calma e olhou assustado para o profissional que deve ter lido muitos livros, sem muito efeito, já que deve trabalhar onde só pedem concordância e seu texto a serviço da opinião de quem lhe paga.

O intelectual francês sorriu e o jornalista não deve ter percebido. “Veja, Sciences Po não é a Igreja Católica. Não entra em análises morais, nem tira conclusões apressadas. Deixa para o balanço histórico esse assunto e outros muitos importantes, como a instalação de eletricidade em favelas em todo o Brasil e as políticas sociais”. E já que o “coleguinha” não sentiu, veio um tapa de luva de pelica: “Não desculpamos, nem julgamos. Simplesmente não damos lições de moral a outros países”.

A pergunta seguinte – se estava bem premiar alguém que, certa vez, chamou Muamar Kadafi de ‘irmão’ – mereceu escárnio e afirmação, como só os franceses sabem fazer. O catedrático destacou Lula como “o homem de ação que modificou o curso das coisas”, e ensinou que a concepção de Sciences Po não é o ser humano como “uns ou outros”, mas sim como “uns e outros”, suavemente.

“Por que premiam a um presidente que tolerou a corrupção?”, surgiu quando a impáfia já se tornava ofensiva. O cientista político indagou e ponderou: “que país pode medir moralmente hoje outro país? Se não queremos falar destes dias, recordemos como um alto funcionário de outro país teve que renunciar por ter plagiado uma tese de doutorado de um estudante”.

O mesmo Descoings que introduziu na Sciences Po estímulos para o ingresso de estudantes em desvantagem para serem aprovados no exame, chamado lá de discriminação positiva e no Brasil de desrespeito a quem é rico e estudou, começou a tripudiar. “Todo o mundo se pergunta” e, continuou, “temos que escutar a todos. O mundo não sabe sequer se a Europa existirá no ano que vem”.

O golpe de misericórdia, enfim. Outro “coleguinha” perguntou se o Honoris Causa era ação afirmativa. Descoings fitou-o. “As elites não são só escolares ou sociais”, básico mas desconhecido do interlocutor. “Os que avaliam quem são os melhores são os outros, não os que são iguais a alguém. Se não, estaríamos frente a um caso de elitismo social. Lula é um torneiro mecânico que chegou à presidência, mas segundo entendi não ganhou uma vaga, mas foi votado por milhões de brasileiros em eleições democráticas”. Chegou quase à crueldade!

O restante do perfil do discurso da direita arrogante, da pauta seguida linha a linha – perdão pelo pleonasmo – não precisava ser ridicularizado. Os demais jornalistas foram capazes de perceber.

sábado, 24 de setembro de 2011

Desemprego golpeia família, filhos e marido, diz Dilma na ONU

Antonio Carlos Ribeiro

O discurso da Presidenta do Brasil, Dilma Vana Rousseff, dia 21, na ONU, tornou-se histórico. Além da tradicional abertura brasileira, ela foi a primeira mulher a fazê-lo. Denunciou o risco de ruptura da crise econômica, ofereceu ajuda nas áreas alimentar, agrícola, energética e de combate à fome. Lembrou que o Brasil já reconheceu o Estado Palestino e destacou o papel das mulheres na superação.


Discurso direto, sem vaidades, ressentimentos ou oportunismos. Sua humildade, como chefe de Estado, se mostrou na visão econômica, no compromisso com a democracia, na crítica ao uso de força militar e na disposição de partilhar conquistas. Com orgulho autêntico. Foi aplaudida lá e calou a oposição aqui.

Sua principal ênfase foi a economia. Alertou que “a crise econômica, se não debelada pode se transformar em uma grave ruptura política e social”. Fustigou lideranças dos países desenvolvidos, em que a luta pelo comando mundial rouba a vantagem das condições, dizendo que não encontraram solução por falta de recursos políticos e clareza de ideias, provocou.

Os governos se encolhem e a crise cresce, metaforizou. “A face mais amarga da crise – a do desemprego – se amplia”, observando que dos 205 milhões de desempregados, 58 milhões estão nos EUA e na Europa. E alertou que “é vital combater essa praga e impedir que se alastre para outras regiões do Planeta”.

Conquistou a atenção da liderança ao trazer o tema para o cotidiano, com olhar feminino. “Nós, mulheres, sabemos, mais que ninguém, que o desemprego não é apenas uma estatística. Golpeia as famílias, nossos filhos e nossos maridos. Tira a esperança e deixa a violência e a dor”.

Em seguida, lidou com o tema mais amargo para a diplomacia dos países desenvolvidos: a crise é econômica, de governança e de coordenação política. Lembrou que a retomada da liderança se distancia enquanto a ONU não coordena sua atuação com organismos multilaterais como o G-20, o Fundo Monetário e o Banco Mundial entre outros. E pediu “sinais claros de coesão política e de coordenação macroeconômica”, apontou.

Para não ficar só na crítica, indicou que “os países mais desenvolvidos precisam praticar políticas coordenadas de estímulo às economias extremamente debilitadas pela crise”, e de forma global, que “países altamente superavitários devem estimular seus mercados internos e, quando for o caso, flexibilizar suas políticas cambiais, de maneira a cooperar para o reequilíbrio da demanda”.

Assumiu a cota de responsabilidade ao observar que “os países emergentes podem ajudar”, antecipando-se à pergunta que os países mais ricos gostam de fazer sobre o que oferecem os que criticam. Indicou caminhos ao dizer que “a reforma das instituições financeiras multilaterais deve, sem sombra de dúvida, prosseguir, aumentando a participação dos países emergentes, principais responsáveis pelo crescimento da economia mundial”.

Referendou a própria ao lembrar que “o Brasil está fazendo a sua parte. Com sacrifício, mas com discernimento, mantemos os gastos do governo sob rigoroso controle, a ponto de gerar vultoso superávit nas contas públicas, sem que isso comprometa o êxito das políticas sociais, nem nosso ritmo de investimento e de crescimento”, base da autoridade para repetir que “é preciso combater as causas, e não só as consequências da instabilidade global”.

Lembrou a contribuição que o país já presta no Haiti e na Guiné-Bissau, desde 2004, com segurança, projetos humanitários e desenvolvimento. E anunciou convicta: “Estamos aptos a prestar também uma contribuição solidária, aos países irmãos do mundo em desenvolvimento, em matéria de segurança alimentar, tecnologia agrícola, geração de energia limpa e renovável e no combate à pobreza e à fome”.

Na mesma linha de raciocínio, criticou a negação orquestrada da soberania à Palestina. “Repudiamos com veemência as repressões brutais que vitimam populações civis”. Insistiu que “o recurso à força deve ser sempre a última alternativa” e que “a busca da paz e da segurança no mundo não pode limitar-se a intervenções”. Deixou claro que estas “agravaram os conflitos, possibilitando a infiltração do terrorismo onde ele não existia, inaugurando novos ciclos de violência, multiplicando os números de vítimas civis”.

E nomeou o setor responsável pelo desastre na ordem política, o Conselho de Segurança. Afirmou categórica que sua atuação “é essencial, e ela será tão mais acertada quanto mais legítimas forem suas decisões. E a legitimidade do próprio Conselho depende, cada dia mais, de sua reforma”, que começa o 18º ano. Por isso, “a cada ano que passa, mais urgente se faz uma solução para a falta de representatividade do Conselho de Segurança, o que corrói sua eficácia”.

De novo, apontou soluções e assumiu compromissos. “O Brasil está pronto a assumir suas responsabilidades” e disse as razões. “Vivemos em paz com nossos vizinhos há mais de 140 anos. Temos promovido com eles bem-sucedidos processos de integração e de cooperação. Abdicamos, por compromisso constitucional, do uso da energia nuclear para fins que não sejam pacíficos”. E assegurou “o Brasil é um vetor de paz, estabilidade e prosperidade em sua região”.

E deu razões práticas. “No Conselho de Direitos Humanos, atuamos inspirados por nossa própria história de superação. Queremos para os outros países o que queremos para nós mesmos. O autoritarismo, a xenofobia, a miséria, a pena capital, a discriminação, todos são algozes dos direitos humanos. Há violações em todos os países, sem exceção. Reconheçamos esta realidade e aceitemos, todos, as críticas”, conclamou.

No tema do meio ambiente, também assumiu as convicções dos brasileiros. “O Brasil defende um acordo global, abrangente e ambicioso para combater a mudança do clima no marco das Nações Unidas”. Disse que espera avanços da “reunião de Durban, apoiando os países em desenvolvimento nos seus esforços de redução de emissões e garantindo que os países desenvolvidos cumprirão suas obrigações”. E reiterou convite para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho de 2012.

Juntou dois temas especialmente importantes: o combate à pobreza e o papel da mulher. “O Brasil descobriu que a melhor política de desenvolvimento é o combate à pobreza. E que uma verdadeira política de direitos humanos tem por base a diminuição da desigualdade e da discriminação entre as pessoas”, lembrando que 40 milhões de pessoas migraram da pobreza para a classe média.

Afirmou ter “plena convicção de que cumpriremos nossa meta de, até o final do meu governo, erradicar a pobreza extrema no Brasil”, apresentando a base do argumento. “No meu país, a mulher tem sido fundamental na superação das desigualdades sociais. Nossos programas de distribuição de renda têm nas mães a figura central”.

Ao mesmo tempo, admitiu que “ainda precisa fazer muito mais pela valorização e afirmação da mulher. Ao falar disso, cumprimento o secretário-geral Ban Ki-moon pela prioridade que tem conferido às mulheres em sua gestão à frente das Nações Unidas. Saúdo, em especial, a criação da ONU Mulher e sua diretora-executiva, Michelle Bachelet”, registrou.

E concluiu, dizendo representar as mulheres do mundo, das que passam fome e não podem alimentar os filhos às que conquistaram espaço de poder. “Como mulher que sofreu tortura no cárcere, sei como são importantes os valores da democracia, da justiça, dos direitos humanos e da liberdade”. E, com esperança nestes valores, abriu o Debate Geral da 66ª Assembleia Geral da ONU.

Brilhou!

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

People take to the streets asking for religious freedom

Antonio Carlos Ribeiro

About 400,000 people of different religions participated in the 4th Manifestation in Defense of Religious Liberty. Demonstration took place on Copacabana Beach, south of Rio de Janeiro city, yesterday from 13 hours and the theme was "Walking together we understand us".



The act multireligious with the participation of believers from different religions that exist in the state capital – Muslims, Catholics, Jews, Protestants, Kardecists, Hare Krishnas, afro-brazilians Umbanda and Candomblé and Santo Daime followers - dressed in the costumes of the cults, accompanied by four sound trucks.

Some religions were represented by priests - priests, pastors, deacons, sheiks, babalorixás, Holy fathers and mothers - and lay people who work at celebrations and other activities. The song "Andá por fé". of singer and former culture minister, Gilberto Gil, was sung several times.

In addition, the pictures highlighting the presence of various religious groups, some brought phrases like "Perfection is not doing everything right. There is balance in everything!","Only the exercise of brotherhood helps us build a better world" and "Every religion is good. Who makes a difference, it's us!" The Presbyterian pastor Marcos Amaral said that if someone suffers discrimination of evangelicals should respond: "You're not a good Evangelical. Jesus did not discriminate!"

The religious ceremony began with the remembrance, prayers and songs for Baha'is arrested in Iran. A representative of the servers of the judiciary insisted the fight against intolerance, she said, is direct child of ignorance. Rodrigo Neves, Human Rights Secretary of Rio de Janeiro State, said the advancement of people insisting on freedom, including non-religious.

Policing was prepared and well distributed along the Avenida Atlantica, under the sun and the wind from the sea. The policing was done by Civil and Military Police, Municipal Guard and the Fire Department, by medical care car. The demonstration took place without confrontations and no accidents of any kind.

Rodrigo Neves, Secretary of State for Human Rights, was surprised by the diversity of religions representatives attending the event. "Rio has to be an example of respect and a society more democratic," he said in praising the walk.

Chico Alencar: religion without discrimination to the other!

The federal deputy Chico Alencar, of Socialism and Liberty Party (PSOL), who attended the 4 th Manifestation in Defense of Religious Liberty, said that "religion is a manifestation of the human spirit. The important thing is express it without discrimination and not deny the respect for plurality of the other ones".

About the manifestation, he said that about 80% of the population isn’t white and it has influences from the religions of Africa. For this reason, this population manifestation. He admits that 67% of Brazilians are Catholic and the growth of evangelicals, but regrets that some of them adopt biased position, it must be fought.

He proposes that religion is living in polarities as intelligence and faith, devotion and respect the different, mystical and in action, the majority and transition in the religious reality. Notes that the hegemony is over and says that diversity is healthy, since that don’t reinforce religious discrimination. He argued that we should avoid the religious competitions.

For this parliamentary, the authentic religion is generous and preaches brotherhood, no marks of capitalism and is not materialistic, but speaks of fullness, allows anyone who wants to be an atheist, but with a humanist approach. Otherwise, the expression of faith denies the human condition that assumes, he concludes.

Povo vai às ruas pedir liberdade religiosa

Antonio Carlos Ribeiro

Cerca de 400 mil pessoas de diferentes religiões participaram da 4ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa. A manifestação ocorreu na praia de Copacabana, zona sul da cidade do Rio de Janeiro, a partir das 13 horas, sob o lema “Caminhando a gente se entende”.


O ato plurireligioso contou com a participação de fieis das mais diversas religiões presentes na capital fluminense - umbandistas, candomblecistas, muçulmanos, católicos, judeus, protestantes, kardecistas, adeptos do Santo Daime e hare krishnas - vestidos com a indumentária dos cultos e acompanhados por quatro caminhões de som entre os caminhantes.

Algumas religiões estavam representadas por sacerdotes – padres, pastores, diáconos, sheikes, babalorixás, pais e mães de santo e outros sacerdotes e sacerdotisas – além de leigos e leigas atuantes em celebrações e outras atividades. A música “Andá por fé”, do cantor e ex-ministro da cultura, Gilberto Gil, foi entoada diversas vezes.

Além das faixas destacando a presença dos diversos grupos religiosos, algumas traziam frases como “Perfeição não é fazer tudo certo. É haver equilíbrio em tudo!”, “Apenas o exercício da fraternidade nos ajuda a construir um mundo melhor” e “Toda religião é boa. Quem faz diferença, somos nós!” O pastor presbiteriano Marcos Amaral disse que se alguém sofrer discriminação de evangélicos deveria reagir: “Você não é um bom evangélico. Jesus não discriminou”!

O ato religioso começou com a lembrança, orações e cânticos por Baha’is presos no Irã. Uma representante dos servidores do Poder Judiciário insistiu no combate à intolerância que, segundo ela, é filha direta da ignorância. Rodrigo Neves, Secretário de do Estado do Rio de Janeiro, lembrou o avanço da população insistindo na liberdade, inclusive para os não-religiosos.

A manifestação transcorreu sem acidentes e nem confrontos de qualquer natureza.
Rodrigo Neves, secretário estadual de Direitos Humanos, mostrou-se surpreso com a diversidade de representantes de religiões presentes ao evento. “O Rio tem que ser exemplo de respeito e um lugar em que se encontre uma sociedade mais justa e democrática”, disse ao elogiar a caminhada.

Deputado Chico Alencar defende pluralismo religioso

O deputado federal Chico Alencar, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que participou da 4ª Caminha em Defesa da Liberdade Religiosa, disse que a religião é uma manifestação do espírito humano. “O importante é que seja expressa sem discriminação e sem negação do respeito à pluralidade do outro”, afirmou.

Ele constata que cerca de 80% da população brasileira não é branca e têm influências das religiões de matriz africanas. Isso leva a população a se manifestar. Admite que 67% dos brasileiros são católicos, acompanha o crescimento dos evangélicos, mas lamenta que parte deles adote posição preconceituosa, que deve ser combatida.

Propõe que a religião seja vivida de polaridades como inteligência e fé, devoção e respeito ao diferente, mística e ação, maioria e transição na realidade religiosa. Observa que a hegemonia acabou e afirma que a diversidade é saudável, desde que não reforce a discriminação religiosa. E afirma que se deve evitar as competições religiosas entre indivíduos.

sábado, 17 de setembro de 2011

Lutheran Leader honors the prophetic witness of the Bishop Frenz

Antonio Carlos Ribeiro

The life, work and witness of Bishop Helmut Frenz, who died in Germany, were recalled in testimony of the general secretary of the Lutheran World Federation (LWF), Rev. Martin Junge. He expressed condolences on behalf of the Lutheran communion to family, friends and colleagues, and paid tribute for his role as a defender of human rights when he served in Chile - where he still knew him as a pastor - and Germany.


The former president of the Evangelical Lutheran Church in Chile brought to mind the actions of Frenz in defense of the population during the Chilean dictatorship, calling him "one of the largest Lutheran prophets of his generation, a champion brave and uncompromising in pursuit for justice and rights humans, "who arrived in Chile in 1965, was elected bishop in 1970 and attended the call of the gospel to work for justice.

"Even before the violent coup of September 11, 1973, he was a leader of the rescue efforts to protect the latin americans who fled to Chile. After the coup he helped organize efforts to protect those who are being targeted by the Pinochet regime, and to blame the regime for using torture, disappearance, exile and other serious human rights violations, "said Junge.

Frenz has become a major ecumenical figure in Chile to join forces with the Roman Catholics and evangelicals on issues of justice, efforts recognized by the UN High Commissioner for Refugees (UNHCR), which granted the Nansen Refugee Award. The following year, in Europe, he was informed that the Chilean military dictatorship would not let him return to his field of pastoral work.

At this Frenz acted as general secretary of Amnesty International, German Section, in defense of human rights. Junge added that returning to church work, "he was a champion for victims of torture, refugees and migrants in Germany and around the world."

He became fortunate to live long enough to see the end of general Augusto Pinochet’ regime, to be awarded the Medal of Honor of the Chilean Parliament in 2001, and received the title of "Honorary Citizen of Chile" from the hands of President Michele Bachelet in 2007, who presented as reason the fact that "Chile has grown in his heart," said Junge and gave "Thank God for Helmut Frenz!"

Líder luterano homenageia o testemunho profético do Bispo Frenz

Antonio Carlos Ribeiro

A vida, obra e testemunho do Bispo Helmut Frenz, falecido dia 13, na Alemanha, foram lembrados em depoimento do secretário-geral da Federação Luterana Mundial (FLM), Rev. Martin Junge. Ele manifestou condolências em nome da comunhão luterana à família, amigos e colegas, e rendeu tributo por sua atuação como defensor dos direitos humanos quando atuou no Chile – onde ainda o conheceu como pastor – e na Alemanha.


O ex-presidente da Igreja Evangélica Luterana no Chile trouxe à memória a atuação de Frenz em defesa da população durante a ditadura chilena, chamando-o "um dos maiores profetas luteranos de sua geração, um campeão corajoso e intransigente na busca por justiça e direitos humanos", que chegou ao Chile em 1965, foi eleito bispo em 1970 e atendeu ao chamado do evangelho para trabalhar pela justiça.

"Já antes do golpe violento de 11 de Setembro de 1973, ele foi um dos líderes dos esforços de salvamento para proteger os latino-americanos que fugiram para o Chile. Após o golpe, ele ajudou a organizar esforços para proteger aqueles que estão sendo alvo do regime de Pinochet, e para responsabilizar o regime por usar a tortura, o desaparecimento, o exílio e outras graves violações dos direitos humanos", lembrou Junge.

Frenz se tornou uma importante figura ecumênica no Chile ao somar esforços com os católicos romanos e os evangélicos nas questões de justiça, esforço reconhecido pelo Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), que lhe concedeu o Prêmio Nansen. No ano seguinte, na Europa, recebeu a informação de que ditadura militar chilena não o deixaria voltar ao seu campo de trabalho pastoral.

Diante disso Frenz passou a atuar como secretário-geral da Anistia Internacional, Seção Alemã, em defesa dos direitos humanos. Junge acrescentou que ao voltar à atuação eclesial, "ele foi um campeão para as vítimas de tortura, os refugiados e os migrantes na Alemanha e ao redor do mundo".

Ele se tornou afortunado por viver o suficiente para ver o fim do regime do General Augusto Pinochet, ser condecorado com a Medalha de Honra do Parlamento chileno, em 2001, e receber o título de “Cidadão Honorário do Chile” das mãos da Presidente Michele Bachelet, em 2007, que apresentou como razão o fato do “Chile ter crescido em seu coração”, disse Junge e deu "Graças a Deus por Helmut Frenz!"

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Dilma greets Cardinal Arns for his 90 years

Antonio Carlos Ribeiro

The president of Brazil, Dilma Rousseff, issued a statement congratulating Dom Paulo Evaristo Arns, cardinal archbishop emeritus of São Paulo, for his 90 years. A former political prisoner and tortured honored the pastor which angered the military dictatorship, by visiting the "basement” of the regime, to travel to Rome and report what he saw in interviews.


Dilma recalled the "priest who, in a crucial moment in the political life of our country, was a flash of light and hope for all Brazilians who did not follow the authoritarian regime and political persecution, and dreamed of a Brazil free and more socially just, " she added.

The presidency note emphasizes that he "used his energies in the battle for freedom, defending human rights, embracing and protecting those persecuted by the dictatorship, helping poor people, on behalf of their citizenship rights, and combating social inequalities", said the head of State.

She pointed that the religious leader of the largest Catholic diocese in Brazil, at the time, "defended the union leaders in strikes, gave decisive support to movements against the high cost of living, unemployment and for direct elections," leaving a legacy of resistance , firmness and determination.

Arns was aware since childhood of being the son of a rural worker. "Dad is a settler, and you even after you study hard, will always be the son of a settler and his people," he heard. The boy grew, he was ordained priest at 24 years and has studied for 12 years, to be a doctor from the University of Sorbonne, in France, not forgetting the people who he was and whence he came.

Faced with the marks of the atrocities in Europe, with the social inequality of post-war and the reality of those who fought against Nazi intolerance. This was vital to deal with the country in booming of dictatorship, in a capital without color on the walls and soul of its inhabitants, who pushed to the periphery the migrants of all parts of country, in 1966.

With the theological developments of Vatican II, seeking response to the evils of reality, an effort that gave rise to liberation theology – with her preferential option for the poor and the consciousness of the masses – the former Auxiliary Bishop of Petrópolis was hoisted from the Archdiocese in just four years, determined to confront the oppression, unabated in front of repression in the periphery and not with the invasion of the Pontifical Catholic University of São Paulo.

When the journalist Vladimir Herzog died, in a torture center in São Paulo, Rabbi Henry Sobel asked the support of the Catholic Archbishop, who has called Pastor James Wright, of United Presbyterian Church. Political scientists said that this ecumenical act caused such a commotion, which became the beginning of the fall of dictatorship.

Faced with the need, followed the guidance of the only pope to have a message censored by the military dictatorship. "Pope Paul VI said to Dom Paulo that he should have a fine team of auxiliary bishops who should be near the people." Arns sold the Palace Pio XII and went to live in a loft. With the money, paid for land and built houses in the suburbs, encouraged the Basic Ecclesial Communities - which today grow up in neighborhoods struggling citizenship, theology and politics - and encouraged the pastorals.

The support was used sparingly. In the 1970s, bishops linked to conservative society Tradition, Family and Property (TFP) was asked that the generals to expel Dom Pedro Casaldaliga, of São Félix do Araguaia Prelature, called a communist. The cardinal flew to Rome, and Pope Paul VI sent a message: "Touch in Peter is touch on the Pope."

Life dedicated to the poor and persecuted, while completing 90 years this brother lives in a small congregation in São Paulo periphery since 2007, under the care of Sister Devanir de Jesus, who describes he as "an enlightened person, easy care and very kind." And adds: "I grow every time that I knew him."

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Dilma cumprimenta o Cardeal Arns pelos seus 90 anos

Antonio Carlos Ribeiro

Brasília – A Presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, divulgou nota cumprimentando D. Paulo Evaristo Arns, Cardeal Arcebispo emérito de São Paulo, pelos seus 90 anos. A ex-prisioneira política e torturada homenageou o Pastor que aterrorizou a ditadura militar, ao visitar os “porões do regime”, viajar para Roma e relatar o que via nas entrevistas.


Dilma lembrou o “sacerdote que, num momento crucial da vida política do nosso país, foi um facho de luz e de esperança para todos os brasileiros que não se conformavam com o regime de arbítrio e as perseguições políticas e sonhavam com um Brasil livre e mais justo socialmente”, agregou.

A nota da presidência enfatiza que ele “empregou suas energias na batalha pela liberdade, na defesa dos direitos humanos, acolhendo e protegendo os perseguidos pela ditadura, na ajuda ao povo pobre, em prol de seus direitos de cidadania, e no combate às desigualdades sociais”, afirmou sem hesitação a maior mandatária do país.

Destacou ainda a chefe do Poder Executivo, que o líder religioso católico da maior diocese brasileira, à época, “defendeu os líderes sindicais nas greves, deu apoio decisivo aos movimentos contra a alta do custo de vida, contra o desemprego e pelas eleições diretas”, deixando um legado de resistência, firmeza e determinação.

Arns tinha consciência de ser filho de trabalhador rural desde a infância. “Papai é colono, e você, mesmo depois de estudar muito, sempre será filho de colono e de seu povo”. O menino cresceu, foi ordenado padre aos 24 anos e ainda estudou por 12 anos, até ser doutor pela Universidade de Sorbonne, na França. Sem esquecer quem era e o povo de quem vinha.

Defrontou-se com as marcas das atrocidades na Europa, com a desigualdade social do pós-guerra, e com a com a realidade dos que lutaram contra a intolerância nazista. Isso foi fundamental para lidar com o país em pleno crescimento da ditadura, numa capital sem cor nas paredes e na alma de seus habitantes, que empurrava à periferia os migrantes de todo o país, em 1966.

Com os avanços teológicos do Concílio Vaticano II, buscando resposta às mazelas da realidade, esforço que fez surgir a Teologia da Libertação – com a opção preferencial pelos pobres e a consciência das massas – o bispo auxiliar vindo de Petrópolis em apenas quatro anos seria guindado à Arquidiocese, determinado a enfrentar a opressão, sem esmorecer com a repressão na periferia e nem com a invasão da Pontifícia Universidade Católica.

Diante da necessidade, seguiu à risca a orientação do único Papa a ter uma mensagem censurada pela ditadura militar. “O papa Paulo VI disse a dom Paulo que tivesse uma bela equipe de bispos auxiliares que deveriam estar perto do povo”. Arns vendeu o Palácio Pio XII e foi morar num sobrado. Com o dinheiro, financiou terrenos e construiu casas na periferia, animou as Comunidades Eclesiais de Base – que até hoje cresce nos bairros, debatendo cidadania, teologia e política – e incentivou as pastorais.

O apoio foi usado parcimoniosamente. Na década de 1970, bispos ligados à sociedade Tradição, Família e Propriedade (TFP) pediram que os generais expulsassem dom Pedro Casaldáliga, da Prelazia de São Félix do Araguaia, chamado de comunista. O cardeal viajou a Roma, e Paulo VI mandou um recado: “Mexer com Pedro é mexer com o papa”.

Vida dedicada aos pobres e perseguidos, ao completar 90 anos, esse frade vive numa pequena congregação na Grande São Paulo desde 2007, sob os cuidados da Irmã Devanir de Jesus, que o descreve como “uma pessoa iluminada. De fácil cuidado e muito gentil”. E acrescenta: “eu cresço a cada momento que convivo com ele.”


Íntegra da nota da presidenta Dilma Rousseff
Quero cumprimentar dom Paulo Evaristo Arns, líder religioso único, pela passagem de seu nonagésimo aniversário. Homenageio o sacerdote que, num momento crucial da vida política do nosso país, foi um facho de luz e de esperança para todos os brasileiros que não se conformavam com o regime de arbítrio e as perseguições políticas e sonhavam com um Brasil livre e mais justo socialmente. Parabenizo D. Paulo, que empregou suas energias na batalha pela liberdade, na defesa dos direitos humanos, acolhendo e protegendo os perseguidos pela ditadura, na ajuda ao povo pobre, em prol de seus direitos de cidadania, e no combate às desigualdades sociais. Minhas saudações ao Arcebispo Metropolitano de São Paulo que defendeu os líderes sindicais nas greves, deu apoio decisivo aos movimentos contra a alta do custo de vida, contra o desemprego e pelas eleições diretas. Toda essa trajetória faz de D. Paulo Evaristo Arns um líder religioso de expressão mundial.
Dilma Rousseff, Presidenta da República Federativa do Brasil

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Promotoria quer obras contra chuvas em Nova Friburgo

Antonio Carlos Ribeiro

O Ministério Público Estadual entrou com ação civil pública exigindo execução de plano de contingência e alerta eficiente nas áreas de risco de Nova Friburgo. A intenção é garantir a realização de obras que evitem outra tragédia, como a que mobilizou a sociedade, incluídas as igrejas, no atendimento às vítimas.


A cidade foi a mais atingida pelo temporal de 12 de janeiro deste ano, que deixou um rastro de 811 mortos, 1.800 desaparecidos, 13.092 desalojados, 7.560 casas destruídas, e afetou a vida de cerca de 60.000 pessoas. O fenômeno natural foi classificado como o mais grave na história brasileira e o oitavo no mundo.

A ação judicial foi proposta pelas Promotorias de Justiça de Tutela Coletiva porque as obras de contenção de encostas realizadas até o presente momento são insuficientes para resguardar as populações, especialmente as que residem em áreas de risco.

A proposta inclui, além dessas obras, a instalação imediata de sirenes e realização de treinamento com a população para atuar em situações de emergência, previstas para serem implementadas em novembro, embora a estação de chuvas comece já em outubro.

A peça legal ajuizada cobra ainda o atendimento às áreas mapeadas pelo Serviço Geológico do Brasil e pelo Departamento de Recursos Minerais (DRM-RJ) em áreas com população superior a 50 habitantes. Exige sistema de alerta por carro de som e envio de mensagens em forma de “torpedos” por celular a líderes comunitários.

Se ação for deferida liminarmente, caberá ao município operacionalizar o conjunto desse sistema e, ao Estado, outras medidas preventivas para transmitir informações à população sobre ameaças de chuva e pontos de apoio seguros, aonde se dirigir em caso de temporal.

Se a Justiça acolher e decidir, os locais de apoio provisório deverão ser definidos em até 20 dias, incumbindo o Estado pela sinalização - até o dia 30 de novembro - para que a população chegue aos pontos de apoio. A petição insiste que a Defesa Civil Municipal contrate engenheiros, arquitetos e geólogos, faça vistorias e adquira computadores e veículos de tração.

A explicação das petições ajuizadas é que o agravamento das situações e as consequências se deram por causa da desinformação da população sobre o que fazer em meio ao desastre natural. O Ministério Público apontou 254 intervenções “necessárias” e informou ter constatado que o Plano de Contingência em execução cobre apenas uma parte das áreas de risco iminente e está atrasado em relação ao cronograma aprovado.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Reformation may have common celebration of Lutherans and Catholics

ALC

Vatican City, Friday, September 9, 2011 (ALC) - The International Lutheran-Catholic Commission on Unity prepares document on the 500th anniversary of the Protestant Reformation, which will be concluded in 2017.

Bishop Munib Younan, President of Lutheran World Federation

The document will understand the Reformation in light of the 2000 years of Christian history, of which 1,500 occurred before the division of Catholics and Protestants.

Luther did not want the division of the Church, said the president of the Pontifical Council for Promoting Christian Unity, Cardinal Swiss Kurt Koch, who anticipated document details for the Catholic news agency KNA.

The joint commemoration of the Reformation could be an opportunity for a joint declaration of guilt on the part of Catholics and Lutherans, said Koch.

In meeting of the Lutheran World Federation President, Bishop Munib A.Younan, with Benedict XVI in Rome, on December 16, last year, the pope stressed that Catholics and Lutherans "are required to reflect again on wherethe our way to Unity drive took us and invoke God's guidance and his help for the future".

Read the original text in ALC portuguese:
http://alcnoticias.net/interior.php?lang=689&codigo=20349&PHPSESSID=4ac387ac9ae226dda5b8d4b733457ffc

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Court imprisons convicted of killing Dorothy Stang

ALC

The Court of Justice of Pará, with the 1st Criminal Chamber Isolated, denied the appeal by the landowner, Regivaldo Pereira Galvao. He was sentenced to 30 years in prison for the murder of missionary Dorothy Stang, of USA, who died with six shots in 2005.

The lawyers appealed to overturn the sentence by the 2nd Circuit Court jury of Belém, in April 2010. The Court rejected the appeal, upheld the conviction and unanimously approved the request of the rapporteur of the appeal, Judge Nadja Nara Cobra, for the preventive arrest of Galvão.

He was sentenced to serve his sentence in a closed initially, but got a habeas corpus that allowed him to appeal the sentence in liberty, being the only one of five accused for the murder of the missionary to remain loose. Despite the evidence, the farmer has always denied any involvement in crime.

Galvão may appeal the decision in the Superior Court of Justice (STJ), but with the injunction approved arrest warrant today, must await trial in prison, unless he get another habeas corpus. According to a spokesperson of the State Court of Justice, the warrant is issued instantly online to the Civil Police, in charge of locating and arresting the farmer.

Dorothy Stang was a defender of the rights of small farmers in the region of Altamira (PA), area of intense land conflict. She was killed with six shots in February 2005, in the town of Anapu (PA). The others convicted of the murder of the missionary are Vitalmiro Bastos de Moura, sentenced to 30 years in prison; Rayfran das Neves, sentenced to 27 years; Clodoaldo Batista, sentenced to 17 years, and Amair Feijoli, sentenced to 27 years.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Organismos apoiam Marcha contra a Corrupção

ALC

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) decidiram apoiar a Marcha da Corrupção, que será realizada nesta quarta-feira, dia 7 de setembro, na Esplanada dos Ministérios. A decisão foi tomada em reunião realizada hoje. Em outros Estados também estão programadas manifestações.

Sociedade e entidades pedem aceleração no julgamento de processos envolvendo casos de corrupção, a reforma política, a transparência nos gastos públicos, o fim das emendas parlamentares individuais e corte nos numerosos cargos comissionados nas administrações públicas.

Para o presidente da OAB, Ophir Cavalcante, “o dia 7 de setembro será uma data importantíssima para o povo brasileiro. Mais uma vez o povo vai dar seu grito de Independência, e a independência, agora, é o basta à corrupção.”

Segundo Rodrigo Montezuma, organizador da marcha, a expectativa é que o evento reúna 30 mil pessoas. “Nosso objetivo já foi alcançado, que era ter mais inscrições do que a Corrida da Cerveja. Temos 22 mil pessoas confirmadas pelas redes sociais, e acreditamos que mais pessoas irão aparecer na hora”.

A manutenção do cargo da deputada Jaqueline Roriz, de Brasília, filmada recebendo propina, provocou a indignação da sociedade. A decisão da maioria dos deputados que livraram Roriz da perda do mandato na Câmara dos Deputados repercutiu na internet e aumentou a adesão dos internautas aos protestos contra a corrupção.

Só no Facebook, a adesão à "Marcha contra a Corrupção", em Brasília, conseguiu metade das 11 mil adesões, somente nos dois dias seguintes à decisão dos 265 votos favoráveis, as 20 abstenções e apenas 166 votos pela cassação, provocaram irritação e reação imediata.

“A manutenção do mandato da deputada fez o nosso movimento explodir. Sabemos que nem todos que confirmaram presença vão poder ir, mas esperamos reunir pelo menos dez mil pessoas no protesto”, conta o empresário Walter Magalhães, de 28 anos, que com mais duas amigas organiza a marcha em Brasília.

O movimento Brasil de Luto conta mais 20 mil adesões de vários Estados do país. A ideia é fazer a população se vestir de preto para mostrar a sua indignação contra os corruptos e a impunidade no país.

Os dois movimentos fazem questão de se apresentar apartidários. Nos manifestos, ainda ressaltam a importância de não levar bandeiras ou símbolos de qualquer partido. O movimento "Todos juntos contra a Corrupção", feito pelo Facebook, já conseguiu mais de 20 mil confirmações de presença para o ato de protesto no dia 20, na Cinelândia, no Rio de Janeiro.

Justiça manda prender condenado pela morte de Dorothy Stang

ALC

O Tribunal de Justiça do Pará, através da 1ª Câmara Criminal Isolada, negou hoje o recurso apresentado pelo fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão. Ele foi condenado a 30 anos de prisão pelo assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang, morta com seis tiros, em 2005.

Os advogados apresentaram recurso para anular a sentença proferida pela 2ª Vara do Tribunal do Júri de Belém, em abril de 2010. O Tribunal rejeitou o apelo, manteve a condenação e aprovou por unanimidade o pedido da relatora da apelação, a juíza Nadja Nara Cobra, para a prisão preventiva de Galvão.

Ele foi condenado a cumprir a pena inicialmente em regime fechado, mas obteve um habeas corpus que lhe permitiu recorrer da sentença em liberdade provisória, sendo o único dos cinco acusados pelo assassinato da missionária a continuar solto. Apesar das evidências, o fazendeiro sempre negou qualquer participação no crime.

Galvão poderá recorrer da decisão no Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas com o pedido de prisão cautelar aprovado hoje, deverá aguardar o julgamento na prisão, a menos que consiga outro habeas corpus. Segundo a assessoria do Tribunal de Justiça estadual, o mandado é emitido instantaneamente, pela internet, à Polícia Civil, encarregada de localizar e prender o fazendeiro.

Dorothy Stang era defensora dos direitos de pequenos produtores rurais da região de Altamira (PA), área de intenso conflito fundiário. Ela foi morta com seis tiros em fevereiro de 2005, na cidade de Anapu (PA). Os outros condenados pelo assassinato da missionária são Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, condenado a 30 anos de prisão; Rayfran das Neves, o Fogoió, condenado a 27 anos; Clodoaldo Batista, o Eduardo, condenado a 17 anos; e Amair Feijoli, o Tato, sentenciado a 27 anos.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Teologia da Cruz: a coragem de dizer a verdade

Antonio Carlos Ribeiro

Recensão de WESTHELLE Vítor. O Deus escandaloso; o uso e abuso da cruz. Trad. Geraldo Korndörfer. São Leopoldo: Sinodal / EST, 2008.

O livro de Vítor Westhelle retoma um tema tão caro quanto pouco enfrentado na teologia cristã: a busca da verdade. É composto de dez reflexões profundas tendo como base a theologia crucis, de Lutero, tocando em temas teológicos, do conflito fé e razão aos diálogos com saberes oriundos de momentos pontuais da história da teologia, das filosofias de traço iluminista e existencialista, e da poesia e das artes, enfrentando o debate com os conflitos existenciais da civilização que mais invadiu, colonizou, explorou, dominou e matou, muitas vezes empunhando a própria cruz, e à qual, durante séculos tiveram que, penitencialmente, voltar.

Começa observando que a teologia da cruz não é uma doutrina, nem um discurso, mas um tema que, em chave analítica dialética teológica e cristã, remete à decisão existencial de olhar para a cruz, assumindo-a como Maria, a um só tempo impotente diante das circunstâncias e determinada a não se afastar e nem abandonar seu filho, e filho de Deus (teotokos), à violência ensandecida dos poderes políticos e religiosos. Olhando para a cruz, ela “contempla o mistério da vida, não com olhos românticos, mas com os olhos das pessoas profundas e comprometidas com a verdade, a justiça e a solidariedade”, como escreveu d. Mauro Morelli. E, na paixão desta sexta-feira começa o escândalo do Deus crucificado, arrastado séculos afora pelos cristãos, de todos os povos e das diversas tradições. O livro registra diálogos frutíferos e doloridos, fascinosum ettremendum, através dos retratos nas artes e das liturgias dos cultos.

A polaridade começa na própria forma de confrontar-se com o escândalo. Para uns ofende a razão, para outros cristaliza a falta de vontade e a servidão. A mesma morte que punha a religião em risco é recebida por Nietzsche como golpe de gênio do cristianismo. O uso da categoria símbolo abre diversos diálogos, começando pelas imagens e sua capacidade de eclipsar outras formas de compreensão e lembrança. Essa percepção confirma as noções de dor e sofrimento arraigadas na religião. O lado perverso é que a mesma cruz que simboliza a derrota, tornou-se o triunfo das cruzadas com Constantino e das conquistas do Novo Mundo, pelas quais ingressou no mundo da arte. Com a sublimação, reteve um potencial capaz de passar da realidade à representação. Lutero viu na cruz a reversão do próprio desconforto, denunciando a transformação da essência em aparência e as muitas cruzes que disfarçam seu desafio real: perturbar nossa compreensão do significado do amor no grito do abandonado.

O anúncio de Cristo como escândalo para os judeus e loucura para os gentios ajudou judeu-cristãos a compreender-lhe o destino. Para evitar a afirmação soteriológica, o sofrimento do servo de Javé não foi relacionado com a narrativa da paixão. Westhelle estabelece a relação contraditorial entre negação e afirmação: o martírio, como evento ultrajante ao Justo; o lugar, negando sua glória e epifania; a marginalidade da comunidade de fé, do ambiente político palestino e das comunidades, social e economicamente; o Deus que vem em seu socorro, se ausenta; não há como negar, o Senhor está morto! O conjunto de sua vida, do nascimento à morte, só faz sentido visto pela cruz (estrebaria, moscas e esterco; marginais, doentes, possuídos e despossuídos; e morte física e moral que varre o registro da existência). “Pois aquilo que Ele não assumiu Ele não redimiu, mas aquilo que está unido à sua Divindade também é salvo” (Gregório Nanzianzeno), e se nada está fora do alcance de Deus, Ele esteve e está onde se necessita a salvação: “fiquem cientes de que o Senhor não veio [...] para se exibir, e sim para curar e ensinar os que sofrem. [...] Criatura alguma, senão o ser humano, equivocava-se no conhecimento de Deus” (Atanásio) (p. 41). Busca apoio da Patrística oriental à poesia de Adélia Prado: “Ó crux ave, spes única Ó passiones tempore”, mas o escândalo permanece.



Para entender a cruz como tribulação Lutero substitui as regras medievais lectio, oratio, contemplatio por uma própria: oratio, como recurso a Deus ao perceber que a razão será insuficiente; meditatio, que inclui a lectio e envolve outras pessoas; e tentatio, que é a tribulação (Anfechtung) pela qual o-a teólogo-a da cruz deve passar para dizer as coisas como elas são. Westhelle acentua o fazer teológico de pessoas que gestam a prática (usus) de entrar na batalha contra o sofrimento e chocam a piedade moderna, com seu ‘meigo Jesus’, o apoio ao político ‘nascido de novo’ e amante de guerras, e dos evangelicais à espera de um arrebatamento que deixa os outros para trás, mas não entendem um monge medieval que teologiza: iusticia est cognitio Christi. Este usus dá coragem para arrancar a máscara e revelar a crise, valer-se da ironia para não sucumbir ao método analógico, definir a cruz como revelatio sub contraria speciee abandonar a razão como infra-estrutura para fé, da escolástica em sintonia com a jurisprudência e a economia dominantes. O escândalo só é mantido se for um espinho para os estatutos da razão. Lutero, que aceitou Aristóteles na política e na economia mas rejeitou na teologia (Heidelberg), só teve seu esforço reconhecido por Heidegger quatro séculos mais tarde. Já a apocalíptica surge com a coragem de dizer a verdade (parrhesia), sem poupar ninguém e nem guardar conhecimento para o último recurso. Theologus crucis dicit quod res est, até para não correr o risco da razão “assumir o controle e substituir a fé por explicações” (p. 66). Deixar Deus ser Deus, lembra David Tracy, “é deixar essa vertente terrível e numinosa de nossa herança cristã comum ser ouvida de novo com o tipo de clareza e coragem que Lutero encontrou em suas visões apocalípticas da história e em sua disposição de falar da abscondidade de Deus no sentido pleno” (p. 70), fugir de Deus e encontrar refúgio em Deus contra Deus.

A cruz, que passou do escárnio ao triunfo sublime e orgulhoso, recupera seu escândalo quando a Reforma desmascara a sublimação. Ao falar do auto-sacrifício de Deus como golpe de gênio do cristianismo, Nietzsche inaugura a onda de críticas da modernidade. O iluminismo alemão questionou as provas históricas: Jesus como cumprimento das profecias, confiança nos relatos de milagres e a expansão do cristianismo. Lessing disse que “verdades acidentais da história jamais podem se tornar a prova de verdades necessárias da razão” (p. 74). Schweitzer trocou a teologia pela medicina e a Europa pela África, após descrever Jesus como decidido a fazer a roda do mundo girar e, diante da recusa, se atirou sobre ela, que girou e o matou. Nietzsche viu na cruz a derrota sublimada numa moralidade de escravos que louva o derrotismo, glorifica a fraqueza e perpetua a vontade anêmica, polarizando compaixão e fervor, condenando a piedade como depressiva, chamando o cristianismo de ódio contra o espírito e os sentidos. Hegel referiu-se à 6ª feira santa como negação e à ressurreição como negação da negação, reafirmação da vida em um nível mais alto (Aufhebung). E Marx, que fez voltar o apocalipsismo depois de desencantar os céus do sistema absoluto hegeliano, criticar o consolo e arrancar os grilhões para a flor crescer, frente ao que Walter Benjamin ponderou: o trabalho do passado não está fechado para o materialista histórico e, sem esquecer os grilhões, lembrou que o sofrimento não tem sentido, mas têm um futuro aberto pela memória, a mesma que condena os poderes (J. B. Metz).

A epistemologia da cruz implica no conhecimento que vem dela, apesar da glorificação. Como a cruz só tem relevância na teologia quando conectada ao nosso sofrimento, com o significado ancorado no batismo e na eucaristia, podemos ver na cruz de Cristo a derrota do nosso pecado e o cancelamento da dívida (justificatio). Nas provações, “Deus nos impõe sua cruz para nossa salvação; o pecador é crucificado para que o novo homem surja” (p. 90) cita Regin Prenter. O discurso, como trajetória linguística, ao provocar impacto duradouro, impõe um mundo que faz sentido (poiesis), e, como Lutero em Heidelberg ou as teologias latino-americanas, luta com a afirmação em certo enquadramento, mesmo que rompa a moldura. O impacto não é causado apenas pela parrhesia, mas na autenticidade e na autoridade em que se estriba. Com a entrada de Jesus em Jerusalém a identidade messiânica não pode ser ocultada, e assim “a parrésia não produz qualquer efeito codificado. Ela abre um risco indefinido” (p. 98), lembra Foucault. Esse preço alto foi tornado princípio por Gandhi como insistência na busca da verdade: Satyagraha. No mundo tradicionalmente interpretado a cruz tornou-se dissonante, paradoxal, uma nomeação a partir do ponto de vista dos subjugados.

Ao dialogar com a poesia, Westhelle discute os efeitos da consciência ecológica, mostrando como há três décadas a natureza era apenas o humano, tida como sobrenatural. As reações ganharam expressões em formas conservadoras e liberais, obrigando a retomada da teologia da criação. As máscaras refletem o carnaval medieval, caricaturando a realidade, escondendo-a e mostrando-a em seu oposto. Como máscaras de Deus, os seres humanos interagem com as máscaras da criação. Recorre a Baillie para afirmar a presença visível de Deus como imediação mediada, não-visível, enquanto o visível pode tornar-se um ídolo que apenas congela numa figura o que a visão almeja num vislumbre, deixando o ícone como uma face aberta para ser transgredida, uma ausência manifesta no reflexo. As metáforas Deus vestitus (a experiência religiosa) e Deus nudus(o abismo irresistível) mostram a dialética entre a religiosidade e o próprio Deus. O apelo para deixar Deus ser Deus aponta para a limitação que nos possibilita também ser pessoas, e a poesia é a Palavra que vem de fora para reconstruir a realidade através da força criativa. Mas só vem se olharmos para o visível, o sofrimento dos inocentes. Se quisermos a Palavra pura fugimos do mundo, sublimamos a cruz, fazemos theologia gloriae.

A prática da ressurreição é possibilitar a voz às vítimas, podendo os abandonados reivindicarem seu poder. A experiência da liminaridade autoriza a autonomia e a reorientação, ponto de semelhança entre a Reforma e os movimentos de afirmação humana a partir da fé. O que torna uma pessoa teóloga é enxergar as coisas invisíveis através das visíveis e estas só podem ser vistas através do sofrimento e da cruz, insiste Lutero. Diante da cruz é possível: fazer teologia a partir dos crucificados, exigindo-se apenas que sejamos honestos a respeito do mundo, sem calar os clamores; escarnecer da cruz, com piedade que a torna dispensável; ficar distante da cruz, sem envolver-se com as cruzes cotidianas; e praticar a ressurreição, na confiança que a cruz não é o fim, mas nova oportunidade de trabalhar e amar. A “memória empática é capaz de abrir o passado fechado”, disse Benjamin a Horkheimer.



Recorre às faculdades humanas de Aristóteles (theoria, praxis e poiesis) para falar da cruz. A teoria, a primeira, é a ousadia de dizer o indizível, que faz da teologia a fé em busca, lembrando a abstenção para observar a obra. As demais, práxis e poiesis, introduzem o conflito binário que marca a tradição teológica eclesial: theologia e oeconomia, credenda e agenda, ortodoxia e pietismo, razão pura e razão prática, e na Teologia da Libertação, ortodoxia e ortopráxis. Menciona o desencontro da teologia política europeia, feita em sociedades afluentes no confronto com o socialismo real, e a teologia latino-americana, “que emergiu de um continente (...) sob regimes militares” (p. 138). A primeira, afirmando uma definição negativa de liberdade, e a segunda, uma noção atributiva de justiça, sintetizada na tensão entre Moltmann e Bonino.

A ligação da cruz com as coisas últimas remete ao debate do tempo em relação com o lugar e introduz a teologia de Tillich que, por nunca ter perdido de vista essas dimensões e as compreender pela via da cultura, acabou por pautar e datar sua obra. A Europa, por seguir incorporando as descobertas à própria lógica, foi vista por Hegel como “pura e simplesmente o fim da história mundial”, sem ser contestado por Schleiermacher, que explicou: “desde a antiguidade o cristianismo não era mais contestado ou invadido por outras ideias religiosas” (p. 158). A cruz segue como escândalo no qual o Deus revelado não aparece sob a luz, na qual o apocalipse é uma revelação oculta em seu oposto, cujas geografias despertam o não-familiar (Benjamin).

Revisitar as estações da cruz, criadas pelos franciscanos e perpetuadas na piedade atualiza a paixão de Jesus no tempo. O conteúdo das 14 estações é preenchido pelo sofrimento das pessoas das comunidades, assumindo o sofrimento de Cristo como modelo. Tillich associa três sentidos à vivência da ressurreição: o físico, o espiritual e o psicológico, na mesma realidade pós-cruz que Westhelle relaciona com os novos paradigmas de Thomas Kuhn, que tornaram “conhecimentos” firmemente rejeitados em reconhecidos. A rejeição da ressurreição pode revelar um limite da racionalidade, ao tempo em que ela se firma como “prática de trabalho, de luto e de amor, que vai além e atravessa os limites dos regimes de verdade de que somos devedores” (p. 171).

A reflexão de Westhelle sobre as contradições da cruz em Lutero revela a todo momento a dialética Hegeliana, com base cristã e traço confessional, que lhe possibilita explorar os diálogos em todas as frentes. Transdisciplinar, ele bebe saberes na filosofia, nas ciências, nas artes, no cotidiano e até na própria teologia, sem pudor de revelar suas fontes. A linguagem freqüentemente se torna transgressiva, aproximando dimensões formalmente distintas e explorando o recurso das figuras de linguagem. Tal é a variedade, expressa em linguajar limítrofe e de ambientes definidos, com capacidade para polarizar aspectos que aparentemente não têm relação, que leitores teológicos tradicionais precisam re-situar o raciocínio, dado o resultado inusitado que trazem. A quem está disposto a compreender a fé cristã em diálogo atual e contextual, recomendo a leitura.

Publicado em Atualidade Teológica (PUCRJ), 12(29): 270-5, maio-ago 2008. (ISSN 16763742)

domingo, 4 de setembro de 2011

Book proposes a dialogue between creation and justification theologies with the ecology

Antonio Carlos Ribeiro

The book The Future of Creation proposes a dialogue between the theologies of creation and of justification with the ecology. The work published by theologians Jürgen Moltmann and Levy Bastos, was launched at Loyola Center for Faith and Culture, of Pontifical Catholic University of Rio de Janeiro (PUC-Rio), on the south side of town.



From left: Levy Bastos, Geraldo Dondici, Elias Wolff, Catherine Cornille, Jürgen Moltmann, Ana Maria Tepedino, Josafá Siqueira (president), Flávio Senra and Abimar Moraes, among the speakers at the Third International Symposium of Theology (August 31 - September 2, 2011)


The book, with foreword by Leonardo Boff and afterword by Luiz Longuini Neto, is divided into two parts. The first, entitled The Sun of Justice, seeks a dialogue between Moltmann's theology of creation and the theory of evolution, supporting the current debate about environmental protection.

In the second, the Brazilian Methodist Levy Bastos, develops an eschatological perspective, inquiring about the meaning of the doctrine of justification - which resulted in Catholic-Lutheran Joint Declaration, recently assumed by the Methodist Church – and of the Kenosis, to propose a transformative eschatology.

Levy Bastos - his student in Tübingen in 1993 and now coordinator of the Theology course at the Methodist University Bennett - remembering that the ecological spirituality approach the asceticism and the environmental protection, without which no true Christian faith, but only a cheap grace.

The event began with a conference of the German theologian, who spoke about in his life since the tragic attack of the British Royal Air Force, which decimated the city of Hamburg, their pastoral and academic career in Wuppertal, Bonn and Tübingen and the dialogues between Christians and neo-Marxist Karl Rahner, Johann Baptist Metz and Roger Garaudy.

He commented about the decision of Argentinian Justice, which convicted a general, a colonel and five officers, responsible for hundreds of deaths, including Elisabeth Käsemann, in El Vesuvio prison, on July 14. For him, family, church and community rejoiced that they had done justice, even after 34 years, and that meaning is not revenge, but restoration of the dignity and human rights.

Livro propõe diálogo das teologias da criação e justificação com a ecologia

Antonio Carlos Ribeiro

Rio de Janeiro – O livro O Futuro da Criação propõe um diálogo entre as teologias da criação e da justificação com a ecologia. A obra foi lançada pelos teólogos Jürgen Moltmann e Levy Bastos lançaram no Centro Loyola de Fé e Cultura, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, na zona sul da cidade.




Da esquerda: Levy Bastos, Geraldo Dondici, Elias Wolff, Catherine Cornille, Jürgen Moltmann, Ana Maria Tepedino, Josafá Siqueira (reitor), Flávio Senra e Abimar Moraes, entre os conferencistas do III Simpósio Internacional de Teologia da PUC-Rio (31 de agosto a 2 de setembro de 2011)

O livro, com prefácio de Leonardo Boff e posfácio de Luiz Longuini Neto, é dividido em duas partes. Na primeira, intitulada O sol da Justiça, Moltmann busca um diálogo entre a teologia da criação e a teoria da evolução, subsidiando o atual debate sobre a defesa do meio ambiente.


Na segunda, o metodista brasileiro Levy Bastos, desenvolve uma perspectiva escatológica, indagando sobre o significado da doutrina da justificação – que resultou em Declaração Conjunta Católico-Luterana, assumida recentemente pela Igreja Metodista – e da Kenosis, para propor uma escatologia transformativa.

Levy Bastos – seu aluno em Tübingen em 1993 e hoje coordenador do curso de Teologia do Centro Universitário Metodista Bennett – lembrando que a espiritualidade ecológica aproxima a ascese e a defesa do meio ambiente, sem a qual não há verdadeira fé cristã, mas apenas uma graça barata.

O evento começou com uma conferência do teólogo alemão, em que discorreu sobre sua vida desde o trágico ataque da Real Força Aérea Britânica, que dizimou a cidade de Hamburgo, sua trajetória pastoral e acadêmica em em Wuppertal, Bonn e Tübingen e nos diálogos entre cristãos e neo-marxistas com Karl Rahner, Johann Baptist Metz e Roger Garaudy.

Comentou sobre a decisão da Justiça Argentina, que condenou um general, um coronel e cinco guardas, responsabilizados por centenas de mortes, incluída a de Elisabeth Käsemann, na prisão El Vesúvio, no dia 14 de julho. Para ele, a família, a Igreja e a comunidade se alegraram por terem feito justiça, mesmo após 34 anos, e que o sentido não é de vingança, mas de restauração da dignidade e de defesa dos direitos humanos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Sociedade, Violência e Ética

Participação em Mesa de Debates promovida pela Faculdade Béthencourt da Silva (FABES), Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro (FAETEC) e Associação Brasileira de Tecnologia (ABT) - Rio de Janeiro, 1º de setembro de 2011

Antonio Carlos Ribeiro

O tema deste debate é extremamente atual. Para analisar o trinômio Sociedade, violência e ética, decidi visitar algumas dores de nossa sociedade e buscar respostas em seu olhar cultural. Este tema que pode ser abordado a partir da lógica binária dos ruídos e dos silêncios, dos gritos dos inocentes e dos que são vitimizados por ousar por sua voz a serviço deles (eu sou a voz, eu sou a porta, eu sou o pastor – expressões de Jesus no evangelho de João) e a dos que agem em defesa dos seus interesses – dos que controlam áreas da cidade, da economia e até do mercado da diversão, como quem força a entidade que administra atividade esportiva a submeter-se à sua grade de programação. De forma legal, ilegal, e legal mas injusta. Ancoradas em firme estrutura maniqueísta e aristotélica, que estabelece a negação absoluta entre os dois pólos. Afirmar um lado é negar o outro e, pior, submeter-se inteiramente à sua lógica. Sem caminhos alternativos. Na verdade, afirmar a legitimidade única de um lado é já desqualificar o outro, resultando num raciocínio condenado a ser excludente. E ficamos amarrados às mais primitivas formas de relação de poder, pré-históricas.

Essa noção invadiu os saberes, as ciências e, nas artes, a teledramaturgia, que no Brasil ganhou o status de formador de opinião e tido como “espaço de debate” de grandes temas. Em que as pessoas consomem passiva e acriticamente conteúdos. Lembram do filme “Muito além do Jardim”, com Peter Sellers, em que o além era a TV? E não nos damos conta da tradição cultural fabricada, redigida, roteirizada, gravada e editada, em ritmo de cumprimento de contrato, década após década. As pessoas já se perguntaram: quem matou Odete Roitman? – que virou chamada de jornal – quem matou Salomão Hayala? e, há três semanas: quem matou Norma Amaral? Mas poucos, só quem lê notícias, ou as ouve na TV, se perguntou: quem assassinou a juíza Patrícia Acioli? A diferença é que este caso não é ficção.

No dia 21 de julho, uma vigília durante a noite e uma missa na manhã seguinte lembraram os 18 anos da chacina da Candelária, quando seis crianças e dois adultos, dos 70 moradores de rua que dormiam na porta da Igreja da Candelária foram assassinados por policiais militares, em 1993, sem se dar conta que atualizavam a tradição de matar crianças, de Herodes, assustado com o nascimento do messias. Um dos sobreviventes, Sandro Barbosa do Nascimento, sequestraria o ônibus 174, exatos sete anos depois e também morreria, após matar uma professora. Fomos nos insensibilizando com doses maciças de sensacionalismo narcotizante que produz percentuais de crescimento, mas nos impede de viver as etapas. Não conseguimos reagir aos fatos, contar nossos mortos, chorar nossas misérias, lamentar os salários pagos, sofrer com os fatos e reelaborar nosso ser no mundo.

Por isso, o olhar da imprensa focado só na leitura e nas cifras da publicidade, só viu a intervenção desastrosa da Polícia e, condenada à repetição, como no mito grego de Sísifo que empurra a pedra ao monte, de onde logo rolará, obrigando-o à tarefa interminável, repetitiva e monótona, frequente em sociedades que só resolvem problemas imediatos e não se defrontam com os dilemas da inclusão, que perpetuam situações urgentes, as mesmas de décadas – dualismo semelhante ao da miséria e ostentação – que teria levado Charles De Gaulle a indagar se este país era sério.

Isso traz de volta uma irresponsabilidade social histórica: a de submeter pessoas sequestradas da África, trazidas em navios em tão precárias condições e com tal índice de mortandade, que lhes valeu o epíteto de ‘tumbeiros’ e aqui escravizá-las por quase quatro séculos. O Congresso Nacional, nesta cidade, tinha 30 grupos de parlamentares – dos que defendiam pequenas concessões ao poder absoluto das oligarquias rurais aos que pregavam embarcar a população negra em navios mar adentro, à deriva – todos escravistas. Fomos o último país das Américas a abrir mão desta forma vil de exploração do trabalho. A violência silenciosa, que a sociedade emocionalmente esterilizada já nem sente, desce raízes neste passado vergonhoso.

Esse encontro de hoje permite voltar a isso, para ver se a sociedade abdica de certo senso moral e decide acertar contas com o passado. Sem a consciência histórica que podemos desenvolver junto com a formação, não temos chances de mudar. Ficamos enredados no labirinto do minotauro, em conflito com os que controlam grandes riquezas e sem forças para mudar, restando-nos o lamento imortalizado na voz de Elis Regina: “É você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem”, razão pela qual “ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais...”

Porque a morte fictícia ocupa páginas em jornais, blogs e espaços em rádio e TV, para discutir entretenimento de baixa qualidade em que profissionais submetem seu saber a temas risíveis (que é a mesma coisa, mas conota outro sentido). E por que a população não gastou um terço, ou mesmo um décimo desse tempo para debater o fim trágico da juíza? Porque se trata de um fato real, que não dá margem para disfarçar, negociar, atenuar ou negar. Preferimos assegurar a existência do corpo, o nosso, ao invés dos muitos que vimos e dos que virão.

Exemplifico. Quando fomos disciplinados duramente por qualquer figura de autoridade, sofremos. Se o castigo não foi justo, sofremos a segunda vez. E se não pudemos falar sobre isso com quem nos impôs o castigo, sofremos terceira vez. Todos passamos por isso, em algum momento e por motivos diversos. Entendem o que digo. E é neste exato momento que o medo se assenhoreia, cria dois silêncios: o da ameaça velada ou explícita, e o dos cemitérios. O primeiro nos faz temer a ameaça. O segundo, lembra os mortos de quem falar. Os dois macabros. E a sociedade segue refém do silêncio da violência, da frustração pela falta do debate, e pela desmemória produzida, e inoculada para que as pessoas se refreem, se castrem e neguem todo e qualquer ímpeto para reagir. Então, a mídia não fala mais no assunto e explica, sem cerimônia, que ninguém mais debate o tema. E novamente se faz silêncio!

Esse silêncio é contrário à festa, ao encontro, ao debate. Os espaços marcados pela violência são cercados de silêncio. Os gritos de horror tamponados não ajudam a sociedade a confrontar-se consigo mesma, não favorecem a confiança na cidadania e negam os sentimentos bons e verdadeiros – aqueles mesmos que fazem de nós seres humanos – que Chico Buarque de Holanda poetizou e cantou em Roda Viva: “Tem dias que a gente se sente / Como quem partiu ou morreu / A gente estancou de repente / Ou foi o mundo então que cresceu... / A gente quer ter voz ativa / No nosso destino mandar / Mas eis que chega a roda viva / E carrega o destino prá lá ... / Roda mundo, roda gigante / Roda moinho, roda pião / O tempo rodou num instante / Nas voltas do meu coração...”.

E enquanto reina o silêncio, nosso povo não se encontra consigo mesmo. Volta, como nos filmes de terror, ao horror negado, aos medos recalcados, à insegurança pessoal, que cresce à medida que a institucional tudo controla. E a gente finge que acredita, para corresponder a quem finge falar a verdade, substitui a fala pelo sussurro ao pé do ouvido, sofre ao ter que mentir para os filhos – até por medo que adolescentes com hormônios em ebulição cometam uma incontinência verbal e sejam vítimas do crime de falar a verdade – e, o pior, pior, pior de tudo, ao mentir para nós mesmos. E, ao preferir a mentira e acolhê-la graciosamente em nossa consciência, re-mastigamos a violência, damos à mentira o nome de verdade. E sofremos ao descobrir que o pior mentiroso é o que mente para si mesmo, e crê! Eis o que somos.

Essa violência não dá as caras. Os que a praticam temem mais o debate que a prisão. A prisão e a morte neste país foram feitas para os opositores do poder, mesmo que tenham causas legítimas, como Frei Caneca, enquanto os violentos e mentirosos seguem negando, com acesso aos meios de comunicação e mantendo o discurso auto-vitimizador. MAS, sem a garantia do espaço de silêncio em torno de si, a violência cede. É aí que entra a sociedade. Todo espaço de silêncio em torno de um crime, de uma violência, da negação da dignidade, da cidadania, e até de apoio a algo em que acreditamos, mas negamos em nome de interesses, precisa da anuência da sociedade. O silêncio exige um pacto. Aqui a sociedade começa a recobrar sua força!

O papel da sociedade é assegurar que ela não seja vista apenas como um grupo humano que chegou aqui de qualquer modo, ou que pode ser mandado embora em qualquer tempo pelos que se sentem Os Donos do Poder, para lembrar Raymundo Faoro. A sociedade é mais que grupos humanos a quem é concedida uma cidadania fajuta, só com deveres, submissa a chefes locais, sem mecanismos que vigiem os poderes, em nome do povo que lhes concedeu a governança. A nação se faz da ocupação do solo, e por gente, por isso é ideológica, ensinou Milton Santos, com sua força, disposição, caráter. A sociedade que não traça seu próprio destino, não indica por onde quer seguir e não reclama gestão honrada de seus negócios, não se arrisca a perder. Já perdeu!

E com isso, entro na terceira parte do tema: a ética. Em filosofia, ética se distingue de moral porque esta é associada a um conjunto de comportamentos tradicionalmente aceitos por um grupo humano. Por vezes, em nome da moral admitimos certos comportamentos, já que eles são aceitos por razões históricas, políticas ou humanitárias. Por isso mesmo ouvimos falar da moral associada a lugares, religiões ou mesmo a códigos aceitos pelos membros de um grupo. Mas a ética surge da contestação, quando a simbólica de um ato nos atinge, de forma que não conseguimos nos calar. Um teólogo luterano alemão, Dietrich Bonhoeffer, participou da resistência ao nazismo, salvou a vida de muitos judeus e estava nos Estados Unidos quando o regime começou a agonizar em fins de 1943. Voltou à Alemanha e foi preso. Quando o procurador que o acusava descobriu que ele mentiu para salvar judeus, indagou: como o senhor pode mentir, sendo pastor? Ele respondeu: este regime não me merece a verdade! A situação forçou a ética a se sobrepor à moral.

Essa situação me remete ao caso do médico Roger Abdelmassih, filho de libaneses, especialista em reprodução humana e um dos pioneiros na fertilização in vitro no Brasil.E que violentou dezenas de mulheres sob o efeitos de sedativos, ao longo de sua vida profissional. Depois de conseguir driblar processos no Conselho Regional de Medicina e na Justiça, de ter a prisão preventiva decretada e de ficar preso por 4 meses, obteve a revogação da prisão preventiva no dia 23 de dezembro, concedido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). No dia seguinte, época de trocar presentes, os dois sumiram. Um escafedeu-se possivelmente para fora do território nacional. E outro para destino certo, sabido e assegurado. O que você sentiria se fosse uma das mulheres violentadas, sob sedativo, pelo médico? Se sentiria protegida pela mais alta instância do Poder Judiciário que trata as vítimas e o ofensores assim? Sentiria que a cidadania é bem vigiada quando um grande veículo de comunicação não volta ao tema, não busca responsáveis e nem reafirma categoricamente que um cidadão – no caso, cidadãs e muitas – não podem ser tratadas desse modo? A ética surge da indignação que você sente agora e é legítima. Mesmo que uma, uma apenas dessas mulheres fosse prostituta, porque esse comportamento não lhe tira a cidadania. Permitir a fuga é aplaudir o erro, sancionar o malfeito e negar com a atitude o Estado Democrático de Direito.

Me inspirando na rica cultura musical brasileira. O desrespeito afrontoso à cidadania foi bem cantado por Zé Geraldo, na música “Cidadão”: Tá vendo aquele edifício moço? / Ajudei a levantar / Foi um tempo de aflição / Eram quatro condução / Duas pra ir, duas pra voltar / Hoje depois dele pronto / Olho pra cima e fico tonto / Mas me chega um cidadão / E me diz desconfiado, tu tá aí admirado / Ou tá querendo roubar?”. À época da ditadura, nenhum veículo de comunicação poderia se referir assim ao regime, até porque o regime de benefício era muito mais amplo que o da Previdência Social, digamos assim. O que nos falta como base de reflexão, de fato, para lidar com o trinômio Sociedade, Violência e Ética, é exatamente a noção de cidadania. Não proteger a cidadania do povo brasileiro é péssimo para o país e sua imagem no exterior, especialmente a percepção que as populações e os governos de outros países têm do nosso. Isso significa que para o cidadão brasileiro poder exigir direitos no exterior, deveria poder fazê-lo plenamente aqui. E ser atendido!

Esse é um diferencial significativo para os países desenvolvidos. Os povos dos países desenvolvidos sabem que os governos existem para garantir-lhes a segurança, o bem-estar e a dignidade. Seus governos sabem disso, até porque foram eleitos para esse fim. Isso significa que zelar pela cidadania segue sendo um alvo a ser perseguido pela sociedade. Talvez, dos poucos, ao lado da educação, que ainda se colocam entre nós e os países ditos desenvolvidos. E para que isso aconteça, é preciso avançar na educação. E talvez haja relação entre a maneira como governos tratam a educação e a dificuldade que têm para lidar com uma população educada, conscientes de seus direitos e deveres, e exigentes. Os salários aprovados para professores mantêm a degradante situação do profissional que ganha apenas 70% de qualquer outro com seu nível de formação. Sei que nossos alunos também se esforçam para obter aqui a formação que precisam para o exercício da profissão que escolheram. Quando trabalhamos juntos perseguindo esse alvo, vamos bem!

Hoje já não quero sabe quem matou Odete Roitman, nem Salomão Hayala e nem Norma Amaral! Não morrem os que só tiveram uma existência fictícia, possível a partir do aluguel de nossa existência real.

Para fugir do mundo da ficção é preciso coragem. Seres anestesiados, vivem quase num coma induzido, em baixa intensidade, com as atividades mínimas indispensáveis às criaturas vivas. Esse tempo não gera memória. E memória é fundamental, pois somente ela, conectada à história, nos permite lutar, dar de nós mesmos, sofrer, viver e amar. Somos seres de linguagem! Isso nos permite protestar, lamentar, sentir saudade – um sentimento que exige amor e ausência, já que não sentimos falta de quem não amamos e nem de quem está conosco – e são desses fiapos de memórias de amor que conseguimos reagir, levantar, sonhar, construir e trabalhar.

E para animar nossas esperanças, concluo esse passeio por nossa cultura, pano de fundo de nossa existência histórica, que nos dá horizontes, com uma frase de Riobaldo, de Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa:

Mulher tão precisada: pobre que não teria o com que para uma caixa-de-fósforo. E ali era um povoado só de papudos e pernósticos. A mulher me viu, da esteira em que estava se jazendo, no pouco chão, olhos dela alumiaram de pavores. Eu tirei da algibeira uma cédula de dinheiro, e falei: – ‘Toma, filha de Cristo, senhora dona: compra um agasalho para esse que vai nascer defendido e são, e que deve de se chamar Riobaldo...’ Digo ao senhor: e foi menino nascendo. Com as lágrimas nos olhos, aquela mulher rebeijou minha mão... Alto eu disse, no me despedir: – ‘Minha Senhora Dona: um menino nasceu – o mundo tornou a começar!...’ – e saí para as luas.

Tenho dito.

Identity is key in the ecumenical dialogue

Antonio Carlos Ribeiro

After the discussion on ecumenism and inter religious dialogue, the theologian Elias Wolff, adviser to the National Conference of Bishops of Brazil (CNBB), said the ALC, which the Council is key to reading, while provoke interpolations. The deep dialogue involves affection, excitement and friendship, and one of the difficulties in the process is ignorance, he added.



For him, "it is essential to always do a work of contextualized reception of the guidelines of Council Vatican II on ecumenical and interreligious dialogue in each country, region or situation". The Council is a key to the reading of reality, "at the same time, the reality provoke interpolations to the Council Doctrine".

Even though common sense says that the people involved in the ecumenical and inter-religious movement shouldn’t have strong religious beliefs, the practice shows the opposite: the more firm convictions, the more they establish a dialogue. "This is fundamental: there is no dialogue without identity, without conviction. And their identity is the content of the dialogue. As a Catholic, I offer to the table of dialogue the Catholic understanding of Christian faith. "

According to him, "if there is a denial of one's convictions or denial of their identity, there is no way contribute to that dialogue to be fruitful, even by falling into the indifference and relativism, which will claim that every truth is worth by itself," explained.

He agreed that "think ecumenism with the heart" recalls the coexistence of theologians like Hans Urs von Balthasar and Karl Barth, who were close friends, and show how you can find in different depth relations and identity in relation to some circumstances even greater that of their own ecclesial bodies that formed. "The dialogue has several ways to express themselves.And the deep dialogue involves affection, emotion, friendship among people, because it also gives a dynamic of gratitude".

"I believe that this human dimension, anthropological, psychological, and psycho-affective and spiritual of dialogue is the doctrinal ground for dialogue, for the institutional dialogue, to the pastoral dialogue. If we have not worked hard enough a relationship of friendship between the different church leaders, among members of different churches, we're not going to work so fruitful the dialogue to another level, as the doctrinal, which is much more demanding”, he explained.

He added that "the social dimension of ecumenical and interreligious dialogue is prophetic and has conditions of plausibility to be lived with more strength and emphasis of that doctrinal issues here in our context. Our ecumenism that has more practical character, while in Europe and elsewhere the ecumenism theoretical, theological, doctrinal, has given the most significant steps, we have here in more toward social issues. This aspect is positive because the defense of life, promoting a more egalitarian society, more just is an element that much closer to the Churches in the Brazilian social reality. "

The suffering of the people joined these leaders. "The principle of solidarity is beyond. It is a time in what to live the solidarity of the churches can make a more significant effort to reach out to and not be each in your space by institutional or doctrinal issues. The life must be defended propels the common cause, common action of all the churches".

The repatriation of documents of the Brazilian dictatorship, held last June, shows the correct intuition of Cardinal Paulo Evaristo Arns, to disclose the facts to keep that facts don’t happening again, so the project was called Brazil: never again! And also to spread it around the world for which the church were aware of how the Latin American churches were faced with a brutal and violent situation, and without having to turn to.

"It is the prophetic dimension of ecumenism, when churches are willing to take risks that are necessary to promote a future of greater justice throughout the continent."

Wolff evaluated the event organized by the PUC-Rio as a mobilizer of consciousness, "because here is a training environment of consciousness, a place of theological reflection , and pastoral reflection, and ecclesial reflection. And from the moment it promotes a full day of debate on the ecumenical and interreligious dialogue, I think there is a possibility of scaling, reconfiguration of a concept as the church, a concept like faith, as the concept of pastoral care and spirituality, including, no doubt, the prospect of ecumenical and interreligious dialogue. It is the formation of conscience".

He noted that "one of the difficulties that ecumenism and interreligious dialogue face is ignorance, in two main horizons.Ignorance, the first of the other, from the prejudices that we create.It is lack of training on doctrine, history and spirituality of the other.The other is the horizon of ignorance of the Church documents. The documents emanating from churches that guide the ecumenical dialogue, but few believers know these documents, read these documents. Then, an academic institution like this, a faculty of theology, such ignorance must be overcome".

Identidade é chave no diálogo ecumênico

Antonio Carlos Ribeiro

Após o debate sobre ecumenismo e diálogo inter-religiosos, o teólogo Elias Wolff, assessor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), disse à ALC, que o Concílio é chave de leitura, ao mesmo tempo em que provoca interpelações. O diálogo profundo envolve afeto, emoção e amizade, e uma das dificuldades no processo é a ignorância, agregou.


Para ele, “é fundamental fazer sempre um trabalho de recepção contextualizada das orientações do Concílio Vaticano II sobre diálogo ecumênico e inter-religioso, em cada país, região ou situação”. O Concílio é uma chave de leitura da realidade, “ao mesmo tempo em que a realidade também provoca interpelações para a doutrina do Concílio”.

Mesmo que o senso comum afirme que as pessoas envolvidas no movimento ecumênico e inter-religioso não deveriam ter fortes convicções confessionais, a prática mostra o contrário: quanto mais firmes as convicções, tanto mais se estabelece o diálogo. “Isso é fundamental: não há diálogo sem identidade, sem convicção. E a própria identidade é o conteúdo do diálogo. Como católico, eu ofereço para a mesa do diálogo a compreensão católica da fé cristã”.

Segundo ele, “se houver uma negação das próprias convicções ou negação da própria identidade, não há como contribuir para que o diálogo seja frutífero, até mesmo por cairmos no indiferentismo e no relativismo, que vai afirmar que cada verdade vale por si mesma”, explicou.

Concordou que “pensar o ecumenismo com o coração” lembra a convivência de teólogos como Hans Urs von Balthasar e Karl Barth, que eram amigos próximos, e mostram como é possível encontrar no diferente as relações de profundidade e identidade em relação a algumas circunstâncias até maiores que as dos próprios corpos eclesiais que integravam. “O diálogo tem várias formas de se expressar. E o diálogo profundo envolve o afeto, a emoção, a amizade entre as pessoas, porque se dá também numa dinâmica de gratuidade”.

“Creio que essa dimensão humana, antropológica, psicológica, psicoafetiva e espiritual do diálogo é o chão para o diálogo doutrinal, para o diálogo institucional, para o diálogo pastoral. Se não tivermos trabalhado suficientemente uma relação de amizade entre os diferentes líderes eclesiásticos, entre os membros das diferentes igrejas, também não vamos trabalhar de modo frutífero o diálogo em outro nível, como o doutrinal, que é muito mais exigente”, esclareceu.

Agregou que “a dimensão social do diálogo ecumênico e inter-religioso é profética e tem condições de plausibilidade de ser vivida com mais força e ênfase do que as questões doutrinais, aqui no nosso contexto. Nosso ecumenismo tem mais esse caráter prático, enquanto que na Europa e em outros lugares o ecumenismo teórico, teológico, doutrinal tem dado passos mais significativos, nós aqui temos nos voltado mais para a questão social. Esse aspecto é positivo porque a defesa da vida, a promoção de uma sociedade mais igualitária, mais justa é um elemento que aproxima muito mais as igrejas que estão nesta realidade social brasileira”.

O sofrimento do povo uniu essas lideranças. “O princípio da solidariedade está além. É um momento em que para viver a solidariedade as igrejas conseguem fazer um esforço mais significativo para se aproximarem e não ficarem cada uma no seu espaço por problemas institucionais ou doutrinais. A vida que precisa ser defendida impele a causa comum, a ação comum de todas as igrejas”.

A repatriação dos documentos da ditadura brasileira, ocorrida em junho passado, mostra a correta intuição do cardeal Paulo Evaristo Arns, de divulgar os fatos para que isso não acontecesse de novo, por isso o projeto se chamou Brasil: nunca mais! E também difundir isso para que ao redor do mundo as igrejas tivessem noção de como as igrejas latino-americanas se defrontaram com uma situação brutal e violenta, e sem ter a quem recorrer.

“É a dimensão profética do ecumenismo, quando as igrejas estão dispostas a correr os riscos que forem necessários para promover um futuro de mais justiça neste continente todo”.

Wolff avaliou o evento organizado pela PUC-Rio como mobilizador de consciências, “porque aqui é um ambiente de formação de consciência, um ambiente de reflexão teológica, reflexão pastoral, reflexão eclesial. E a partir do momento em que se promove um dia inteiro de debate sobre o diálogo ecumênico e inter-religioso, acho que há a possibilidade de um redimensionamento, reconfiguração de um conceito como igreja, conceito como fé, conceito como pastoral e de espiritualidade, que inclua, sem dúvida nenhuma, a perspectiva do diálogo ecumênico e inter-religioso. Trata-se de formação da consciência”.

Ele observou que “uma das dificuldades que o ecumenismo e o diálogo inter-religioso enfrentam é a ignorância, em dois horizontes principais. Ignorância, primeiro do outro, a partir dos preconceitos que nós criamos. É falta de formação sobre a doutrina, história e espiritualidade do outro. O outro horizonte da ignorância é a dos documentos das Igrejas. As igrejas emanam documentos que orientam o diálogo ecumênico, mas poucos fieis conhecem esses documentos, leem esses documentos. Então, numa instituição acadêmica como esta, uma faculdade de teologia, essa ignorância precisa ser superada”.

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