Antonio Carlos
Ribeiro
A grande mídia
brasileira – aquela filha ilegítima da ditadura, como a TV Globo (1965) e a
revista Veja (1968) ou jornais e emissoras de rádio que 'perderam' a
legitimidade ao se juntarem aos conglomerados de mídia surgidos do regime de
exceção – com sua crônica dificuldade de existir na democracia, querendo
controlar os poderes republicanos, mesmo após a mudança do regime, a crise de
desnacionalização da era FHC e as quatro batalhas vitoriosas, já no novo milênio.
Essas derrotas
político-eleitorais se fizeram acompanhar de outras três: a perda de leitores,
o desgaste da sincronicidade do discurso derrotista frente aos avanços
econômicos. Essa crise não é histórica e sequencial como a tríade de Hegel
(tese-antítese-síntese) mas segue obedecendo neste século à simultaneidade da
lógica da mecânica quântica e de Pierce
(primeiridade-segundidade-terceiridade), por isso imperceptível à midia que só
opera com paradigmas já superados.
A grande mídia
já percebeu que perde leitores, pela queda da 'qualidade' do que oferece. Já
encontrou formas de presença nas redes sociais, mas sem perder a arrogância de
ter a palavra final, mais bem informada e mais autêntica, e por desconhecer o
poder de multiplicidade. Julga ainda dominar a linguagem e controlar o
discurso, ainda esperando capitanear o processo informativo, se impor pela
'isenção' e 'veracidade', sem perceber a autonomia de busca e escolha dos
leitores. Ao se recusar ser um caco na 'bricolage' tem perdido visibilidade no
oceano, sem a segurança de antes.
Com o avanço dos
anos, essa crise tem se intensificado, os golpismos midiáticos 'desconstruídos'
em cada vez menos horas – não raro pelas redes sociais, com falhas e crimes da
edição exposta na página do jornal ou revista – e as 'verdades' não são mais
engolidas a seco. Assim o conglomerado fica obrigado a usar todo seu potencial
para reafirmar falhas e rejeitar sua contestação, multiplicada às miríades
pelas redes sociais em poucas horas. Mas com o vírus da dúvida já inoculado.
Neste caso o
elemento propulsor da nova versão é a própria população, alcançando as mídias
sociais interligadas às redes e
condenando à contra-informação os que só vêm TV. Em grande parte os leitores já perceberam o
conjunto de interesses que os conglomerados representam, fazendo sua mensagem
ser efetiva apenas para os leitores habituais, em número cada vez menor, ou
quando reproduzidos nos veículos afiliados ou assinantes. Sem se tornar
verdade, apesar do seu peso.
Diretores, editores,
comentaristas e repórteres que se acostumaram por décadas com leitores sem
senso crítico relutam em lidar com as mudanças, sem perceber que sua influência
segue caindo, mesmo num nível pequeno mas constante. Isso gera um esforço
concentrado de competitividade, a transformação de uma palavra, um dado ou um
elemento desconsiderado no discurso no retomada do tema na outra edição ou nos
veículos da grande mídia, retomado dia após dia por semanas, com sequências de
reforços – sempre de gente da área mas inexpressiva – sem gerar qualquer
impacto ou provocar sequer resposta.
Recentemente,
surgiu uma nova modalidade do velho recurso golpista: premiar Wiliam Bonner com
o troféu Mário Lago. Como editor do Jornal Nacional - o veículo mais conservador e com a
maior queda de audiência - é conhecido por ter comparado seu público com Homer
Simpson. Filhos do ator, compositor e poeta comunista mais conhecido reagiram
inconformados, denunciando que o prêmio era destinado a atores, compositores e
cantores. Pior, escolheram para a entrega a premiada atriz Fernanda Torres. A
decisão 'política' provocou reações nas redes sociais, a começar da família,
causando desgastes ao premiado, a quem entregou e à emissora, que com o gesto
finalmente assumiu não fazer distinção entre entretenimento e jornalismo.
Sempre de baixa qualidade.
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