terça-feira, 6 de janeiro de 2015

A mídia envergonhada: do equívoco ao acerto

Antonio Carlos Ribeiro

A grande mídia brasileira – aquela filha ilegítima da ditadura, como a TV Globo (1965) e a revista Veja (1968) ou jornais e emissoras de rádio que 'perderam' a legitimidade ao se juntarem aos conglomerados de mídia surgidos do regime de exceção – com sua crônica dificuldade de existir na democracia, querendo controlar os poderes republicanos, mesmo após a mudança do regime, a crise de desnacionalização da era FHC e as quatro batalhas vitoriosas, já no novo  milênio.


Se as lutas e derrotas foram eleitorais, caracterizadas com crescente força, com denúncias e anúncios diários de hecatombes, a mídia se aliou aos partidos de oposição, por causa do descrédito político e governamental, conseguindo pressionar a Justiça durante a Ação Penal 470, com o objetivo de gerar escândalo e vencer as eleições. Apesar do esforço, a mídia-símbolo do golpismo que surrupiou duas décadas e meia do nosso desenvolvimento, conviveu com mais uma frustração.

Essas derrotas político-eleitorais se fizeram acompanhar de outras três: a perda de leitores, o desgaste da sincronicidade do discurso derrotista frente aos avanços econômicos. Essa crise não é histórica e sequencial como a tríade de Hegel (tese-antítese-síntese) mas segue obedecendo neste século à simultaneidade da lógica da mecânica quântica e de Pierce (primeiridade-segundidade-terceiridade), por isso imperceptível à midia que só opera com paradigmas já superados.

A grande mídia já percebeu que perde leitores, pela queda da 'qualidade' do que oferece. Já encontrou formas de presença nas redes sociais, mas sem perder a arrogância de ter a palavra final, mais bem informada e mais autêntica, e por desconhecer o poder de multiplicidade. Julga ainda dominar a linguagem e controlar o discurso, ainda esperando capitanear o processo informativo, se impor pela 'isenção' e 'veracidade', sem perceber a autonomia de busca e escolha dos leitores. Ao se recusar ser um caco na 'bricolage' tem perdido visibilidade no oceano, sem a segurança de antes.

Com o avanço dos anos, essa crise tem se intensificado, os golpismos midiáticos 'desconstruídos' em cada vez menos horas – não raro pelas redes sociais, com falhas e crimes da edição exposta na página do jornal ou revista – e as 'verdades' não são mais engolidas a seco. Assim o conglomerado fica obrigado a usar todo seu potencial para reafirmar falhas e rejeitar sua contestação, multiplicada às miríades pelas redes sociais em poucas horas. Mas com o vírus da dúvida já inoculado.

Neste caso o elemento propulsor da nova versão é a própria população, alcançando as mídias sociais  interligadas às redes e condenando à contra-informação os que só vêm TV.  Em grande parte os leitores já perceberam o conjunto de interesses que os conglomerados representam, fazendo sua mensagem ser efetiva apenas para os leitores habituais, em número cada vez menor, ou quando reproduzidos nos veículos afiliados ou assinantes. Sem se tornar verdade, apesar do seu peso.

Diretores, editores, comentaristas e repórteres que se acostumaram por décadas com leitores sem senso crítico relutam em lidar com as mudanças, sem perceber que sua influência segue caindo, mesmo num nível pequeno mas constante. Isso gera um esforço concentrado de competitividade, a transformação de uma palavra, um dado ou um elemento desconsiderado no discurso no retomada do tema na outra edição ou nos veículos da grande mídia, retomado dia após dia por semanas, com sequências de reforços – sempre de gente da área mas inexpressiva – sem gerar qualquer impacto ou provocar sequer resposta.


Recentemente, surgiu uma nova modalidade do velho recurso golpista: premiar Wiliam Bonner com o troféu Mário Lago. Como editor do Jornal Nacional - o veículo mais conservador e com a maior queda de audiência - é conhecido por ter comparado seu público com Homer Simpson. Filhos do ator, compositor e poeta comunista mais conhecido reagiram inconformados, denunciando que o prêmio era destinado a atores, compositores e cantores. Pior, escolheram para a entrega a premiada atriz Fernanda Torres. A decisão 'política' provocou reações nas redes sociais, a começar da família, causando desgastes ao premiado, a quem entregou e à emissora, que com o gesto finalmente assumiu não fazer distinção entre entretenimento e jornalismo. Sempre de baixa qualidade.

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