Antonio Carlos Ribeiro
Rio de Janeiro – A conferência
‘Caminhos da Teologia’, proferida pelo Professor Alfonso Garcia Rubio, foi o
ponto alto do encerramento da XIV Semana Teológica, do Departamento de Teologia
da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). O evento,
realizado no dia 3 de outubro, foi coordenado pela Professora Ana Maria Lopes
Tepedino e contou com a presença do vice-reitor, Francisco Ivern Simó, e do
arcebispo do Rio, D. Orani Tempesta, além de alunos, ex-alunos, religiosos e
convidados.
Garcia fala para os participantes da XIV Semana Teológica
Garcia é um teólogo espanhol,
doutor em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG) de Roma e atua
como padre e professor de teologia desde a década de 1960. Arguto, crítico e
com leituras em saberes como antropologia e psicanálise, consegue traçar um
quadro lúcido do perfil da Igreja Católica, para a qual tem contribuído o curso
de teologia que completa 45 anos.
Garcia destaca as principais
dificuldades para ser uma ‘Igreja mais fonte que reflexa’. O fator mais
positivo do curso de teologia é estar dentro da Universidade e assim poder
dialogar com outros saberes. Isto força a teologia a se tornar cada vez mais
aberta, repetindo esse adjetivo por quatro vezes. Em seguida, lembrou outro
fator: atuar ‘olhando para a realidade brasileira’.
Durante este quase meio século,
professores e alunos se defrontaram com situações como os impactos da
modernidade, mudando a realidade de forma radical, alterando a cosmovisão,
fazendo surgir novas mediações, obrigando a substituição de métodos – que não
dialogavam com a realidade – especialmente no contato diário com as ciências,
que rejeitavam os paradigmas nos quais a teologia era articulada. Explicitou o
dilema ao indagar: “o mundo deve ser evangelizado ou ser condenado ao Quinto
dos Infernos?”
Lembra o impacto gerado pelo Concílio
Vaticano II, a resistência nas igrejas, ao tempo que a relativizou dizendo que
era apenas ‘uma’ reação. Chamou Aquino de melhor teólogo medieval, exatamente
porque sua teologia reflete o debate com seu tempo. A teologia deve ser escrita
para ser lida pelas comunidades e não por outros teólogos. O diálogo com a
modernidade/pós-modernidade ainda está distante, por isso sugere pistas na sua busca.
A opção pelos pobres é a primeira
prioridade, porque se trata do seguimento de Jesus e porque mesmo mudadas as
estruturas e as mediações, o dilema permanece. À frase ‘Igreja pobre para os
pobres’, do Papa Francisco, ele acrescenta: ‘com os pobres’, cujo rosto é ‘do
negro, do indígena e das mulheres’. As interpelações culturais e religiosas alargaram
o horizonte, chamando a teologia a ser pluricultural e plurireligiosa.
Os mais atentos já perceberam que
a cultura ocidental é uma entre outras, com seus valores e limitações, o espaço
em que a fé cristã se desenvolveu, privilegiando o quantitativo e o
institucional em nome da unidade. Hoje já se percebe a importância da experiência
de Deus. Isso explica porque há muita doutrina e pouca mística, responsáveis
pela Igreja ainda ser monocultural e eurocêntrica, em grande parte.
A possibilidade da unidade real e
profunda na diversidade das culturas deve desafiar a teologia de hoje. Para tal
deve superar a compreensão do ‘Deus onipotente’, que gerou a tendência ao
individualismo e intimismo e predominou sobre o ‘Deus do amor’, espaço onde
surgiu o ‘fascínio pelo poder’. Para lidar com este impasse, sugere superar a
tendência a ser o ‘centro’. Lembra que a mulheres não têm protagonismo e devem
cuidar para não fazer o mesmo quando o alcançarem.
Essas superações devem se basear
no ‘encontro com Jesus Cristo vivo’, se dispondo a revisar o ministério
ordenado, a renovar a liturgia, a responder à demanda de espiritualidade –
diminuir a ênfase na religião e aumentar na mística – considerando o cultural
na evangelização, na pastoral da comunicação, nos diálogos multiculturais e
multiétnicos, no protagonismo dos leigos, sempre informadas por uma
antropologia aberta na pastoral, pelo diálogo com saberes como ciência, artes e
cultura.
A superação destes medos vai
iluminar essa realidade complexa, propiciar uma visão do humano que integre as
dimensões afetiva e espiritual à política, cultural e econômica. Diante da
dificuldade, ‘olhem para Jesus’, bradou, ‘que não foi filósofo, nem teólogo,
mas assumiu adequadamente o humano’. ‘O aleluia
não substitui o compromisso ético’, percebendo que ‘não nos serve um Cristo
abstrato, que na verdade é o seu ocultamento’, enfatizou.
E concluiu, chamando todos a
repensarem a imagem de Deus ao compreender a subjetividade moderna. Um Deus
absoluto responde à subjetividade medieval, mas não à moderna. Pessoas como
autonomia interior rejeitam a visão do 'deus onipotente' e veem nela a base da
ideologia da dominação. Para apresentar um Deus para nosso tempo, é preciso
considerar isso.
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