sábado, 16 de julho de 2011

Homenagem a Elisabeth Kaesemann, vítima da ditadura Argentina

Antonio Carlos Ribeiro

A Associação Alemã de Hispanistas prestou homenagem à socióloga alemã Elisabeth Kaesemann, assassinada em 1977 pela ditadura militar argentina, em Buenos Aires. A cerimônia póstuma foi celebrada no dia 25 de março, no cemitério de Lustnau, na cidade de Tübingen, Alemanha.

Elisabeth, uma das 30 mil vítimas das Forças Armadas da Argentina, que comandou o período mais cruel da ditadura entre 1976 e 1983, era filha do teólogo e biblista luterano Ernst Kaesemann. Ela foi morta num quartel militar, com três tiros nas costas. O corpo foi reclamado pelo pai, entregue pela ditadura e sepultado no dia 16 de junho de 1977. A cerimônia, presidida pelo teólogo Jürgen Moltmann, provocou solidariedade e comoção, levando-o a registrar: "nunca me foi tão difícil pregar um sermão fúnebre".

O prefeito de Tübingen, Boris Palmer, enviou mensagem destacando o compromisso de Elisabeth com os marginalizados da América Latina, observando que, por causa deste espírito solidário, sua cidade mantém acordos de irmandade com cidades do Peru e da África.

Ulrich Kaesemann, irmão de Elisabeth, destacou que ela conheceu a Bolívia e o Peru, decidindo fixar-se na Argentina, com a intenção de ajudar os mais carentes. Ela foi detida por membros das forças armadas em 1977. Seus pais solicitaram apoio do governo, à época a República Federal da Alemanha, para obterem sua liberdade.

Mas, "a resposta foi o desinteresse, já que não queriam imiscuir-se nos assuntos de outros Estados". A razão verdadeira, denunciou o irmão, é que o governo alemão, dirigido pelo popular primeiro ministro Helmut Schmidt, se interessou mais pelos ganhos econômicos que as empresas alemãs estabelecidas na Argentina negociaram com o governo militar.

A extradição do general Jorge Rafael Videla e do ex-almirante Emilio Eduardo Massera para Alemanha foi solicitada em 2003 pelo Tribunal de Nüremberg, para que sejam acusados pelo assassinato. Em 2008 o pedido de extradição foi recusado pela Corte Suprema da Argentina. O governo da primeira ministra Angela Merkel tem a expectativa de que seja aberto este ano o processo penal pelo assassinato da socióloga, para o qual se constituiu parte acusadora.

O Ministério das Relações Exteriores da Argentina reconheceu, em março de 2006, o espírito solidário e o compromisso de Elisabeth Kaesemann com as vítimas da ditadura e decidiu incluí-la na lista de religiosos e religiosas de diversos credos, vítimas do terrorismo de Estado. Sua vida e trabalho foram lembrados com uma placa de mármore fixada e uma árvore de oliveira plantada na praça San Martín, de Buenos Aires.

Publicado em Blog das Teologikas, Rio de Janeiro, 27 abr. 2009 (http://anamariatepedino.com/blogteologikas/?p=170)

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