quinta-feira, 26 de julho de 2012

Agricultores familiares urbanos recebem apoio da Petrobrás

Antonio Carlos Ribeiro

A Cooperativa de Agricultura Familiar de Produtos Orgânicos (UNIVERDE) foi fundada por 16 famílias de agricultores familiares de Vila de Cava, distrito do município de Nova Iguaçu, e cultivam 30 espécies de hortaliças e plantas medicinais em terrenos urbanos cedidos pela Petrobrás. Este projeto é semelhante aos apoiados pela Fundação Luterana de Diaconia (FLD).


A Univerde recebe apoio da SPTA, entidade que atua com famílias de agricultores em canteiros na zona urbana e pré-urbana em áreas de dutos, constrói estufas para produção de mudas, cria um banco de sementes e acompanham a produção de alimentos nestes quintais.

As famílias trabalham com o cultivo de orgânicos em áreas de dutos há sete anos. Eles comercializam as hortaliças em feiras no Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Niterói e no próprio município, e atendem o programa de merenda escolar do município de Nova Iguaçu. 70% dos cooperados são mulheres e ocupam quatro das cinco vagas da diretoria.

As raízes da hortaliças não podem ter mais que 30 cm, para que não interfiram nos dutos. A Petrobrás cede 1.000m2 a cada família. Muitos deles vieram de famílias de agricultores, mas admitem que têm dificuldades de motivar os filhos a seguir neste trabalho. A comercialização e os estímulos da agroecologia estão entre as motivações.

Em geral se dispõem a confiar a coordenação e administração de áreas aos jovens. A razão é que quando se sentem responsáveis, eles se empenham mais, dizem os pais. As mudas são trazidas de Petrópolis, na serra fluminense, mas perde delas se perde por causa da diferença do clima.

Os cooperados contribuem com 5% do lucro para a manutenção da cooperativa. Receberam uma grande ajuda ao participar do programa da Alimentação Escolar, para a qual entregam cerca de 600 pés de alface por mês. Para as famílias, a maior vantagem é trabalhar com alimentação orgânica e ter vida saudável, já que não sofreram mais de problemas de saúde após essa atividade. A irrigação é feita pela água drenada de um poço artesiano.

Para esta tarefa recebem, além da cessão do terrenos, estímulos de empresas subsidiárias como a Transpiro, cursos promovidos pela SPTA e um curso de extensão do Curso de Agricultura da Universidade Federal Fluminense (UFF). A SPTA acompanha a produção, intermédia contatos e espaços nas feiras livres e a melhoria da qualidade. Já os alunos, professores e técnicos orientam na reorganização do terreno e fazem a análise do solo e da água do local.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Daniel Souza: Juventude, ecumenismo e incidência política

Antonio Carlos Ribeiro

A Rede Ecumênica da Juventude (REJU) é uma articulação de jovens de distintas espiritualidades em torno dos direitos dos jovens, partindo do debate das diversas experiências de fé, no sentido mais amplo, e a partir dessa base incidir politicamente. Essa é a perspectiva de Daniel Souza, que é facilitador nacional da rede, coordena atividades, integra a comissão de comunicação e participa da Mesa Diretora. Após um culto para a juventude, realizado na Paróquia Martin Luther, previsto na programação da REJU na Cúpula dos Povos, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), ele concedeu entrevista à ALC.


“A REJU é composta de pessoas que abraçam a causa da juventude, não são igrejas e entidades. É um grupo eclético, com pessoas de diversas idades, lugares e formações distintas”, disse. Participam do Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE) e buscam construir projetos e pautas que incidam de alguma maneira na reflexão sobre as políticas públicas de juventude no país. Há católicos, evangélicos, pentecostais autônomos, budistas, hare krishnas e fieis do candomblé que decidiram formar o grupo em 2007, que conta hoje cerca de 300 participantes.

Os objetivos da REJU, segundo Daniel, estão estruturados em quatro eixos. A juventude e a justiça socioambiental, a superação da intolerância religiosa e sexual, a articulação arte, cultura e juventude – como muralismo, balé, teatro do oprimido – , e o fortalecimento da rede, pela qual se relacionam com outros grupos. Para isso usam recursos como a redes sociais da internet, o correio eletrônico e o sítio da REJU (http://redeecumenicadajuventude.org.br).

A partir dessa estrutura, os jovens lutam pela efetivação do Estado Laico, propugnam a liberdade religiosa, defendem a democratização da justiça ambiental, se esforçam por empoderar a juventude ecumênica em relação às políticas públicas para a Juventude e produzem material sobre esses temas e sua incidência na realidade, a partir dos próprios jovens, explicou Souza.

Como todo grupo humano, têm também ambiguidades, como jovens conservadores, gente que vive nos limites, e gente de denominações evangélicas tradicionais, como a Assembleia de Deus. Indagado sobre o que reúne tanta diversidade entre os jovens, respondeu de pronto: “o eixo articulador é a luta pela justiça”, para ele, isso problematiza a teoria.

No grupo não há hierarquia, o que facilita o debate. Isso propicia também um retorno para a comunidade de fé. Há jovens que levam atividades do grupo para sua igreja, mesmo sem usar a palavra 'ecumênico'. Isso significa contato com grupos religiosos e acesso a grupos de jovens que começam a despertar para os problemas da juventude. Mas o grande ponto de encontro é a reunião mensal no sítio da REJU.

Sobre os temas privilegiados na realidade brasileira, Daniel menciona situações dramáticas como o extermínio de jovens, que incluem membros da Assembleia de Deus e do Candomblé, residentes em Brasilândia - um distrito situado na zona norte de São Paulo, com 21 km² de área, possibilitando entrar em situações que poucas vezes aparecem na mídia, e menos ainda, problematizadas.

O principal coroamento dessa caminhada é o livro O Espírito sopra onde quer..." - estudos bíblicos para uma convivência ecumênica, que foi lançado em 2011 e é um trabalho elaborado por jovens de espiritualidade metodista, luterana, anglicana, batista ou cristã. Eles elaboraram uma excelente contribuição para a Campanha Contra a Intolerância Religiosa, servindo ao debate desse tema e à desconstrução de leituras conservadoras.

Ao ser debatido no Fórum Ecumênico Brasil, surgiu a ideia de ampliar a proposta. Foram acrescentados textos problematizadores, com abordagem de igrejas e religiões, Estudos bíblicos e Diálogos intergeracionais, que tiveram a participação do teólogo Leonardo Boff, da teóloga Ivone Gebara e do filósofo Jorge Atílio Iulianelli, projeto que recebeu apoio do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), da Fundação Luterana de Diaconia (FLD) e do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI).

Sobre atuações mais diretas, Souza informa que têm surgido espaço em conselhos municipais e no Conselho Nacional da Juventude (Conjuve). Isso amplia a perspectiva na abordagem e faz os jovens perceberem como “ecumênico é um valor”, enfatizou, lembrando que a antropóloga Regina Novaes afirmou que “77% dos jovens articula crenças religiosas”.

E a médio prazo, os objetivos da REJU são sistematizar a importância da juventude nas políticas públicas, fortalecer a caminhada ecumênica e lidar com a intolerância, frente à qual a vivência dos membros já é um passo.

sábado, 21 de julho de 2012

Fausto – da estética medieval aos dilemas modernos


Antonio Carlos Ribeiro

O filme Fausto (Faust, dir. Alexandr Sokurov, com Johannes Zeiler, Anton Adsinskiy, Isolda Dychauk e Georg Friedrich, Drama, Rússia) retoma os dilemas existenciais de quem arrisca a própria vida, quase sempre para sobreviver, se tornando vítima do enredo afetivo do qual sai como criminoso e sem o amor da amada, em nome de sentimentos legítimos e verdadeiros.


Obra que rendeu o Leão de Ouro de Veneza ao diretor, tem a densidade como a principal característica da narrativa. É uma versão do clássico poema de Johann Wolfgang von Goethe, que viveu de meados do século XVIII às primeiras décadas do século XIX, e descreve o médico que faz um pacto com o diabo e depois luta desesperadamente para assumir os preços de sua opção.

A apropriação e nova narrativa de Sokurov tem no estético um grande valor, e este é codificado pela ótica de Bruno Delbonnel, que dirigiu a fotografia de Harry Potter e o enigma do príncipe e é conhecido pela experimentação que atrai seguidores no cinema contemporâneo. Assim, o pano de fundo do filme é uma Alemanha do século XVIII – vista pela estética medieval, sem nenhum dos avanços próprios daquela época – para dar roupagem ao Fausto de Goethe.

O poema, transformado numa obra monumental dividida em duas partes e feito um marco da literatura ocidental, surge da adaptação da lenda do homem que acumulou os saberes do mundo, mas se desiludiu com o conhecimento de seu tempo, fez um pacto com o demônio Mefistófeles, atendidas necessidades como dinheiro e a mulher amada, em troca de sua alma.

Essa estória ganha, na fotografia de Delbonnel e a direção de Sokurov, um universo de traços absolutamente inconfundíveis – como a necrópsia em que o cadáver tem o rosto coberto e o estômago aberto, de onde órgãos internos caem aos pedaços, junto com a tripa intestinal – no mesmo espaço em que as pessoas mal se lavam para se alimentar. Recusar uma linguagem naturalista força uma nova hermenêutica, pela caracterização dos personagens.

O talento plástico da fotografia, somado aos diálogos da narrativa compõem um quadro em que tudo se dilata, do tempo aos costumes, das anamorfoses às deformações, dos banhos públicos no mesmo espaço de lavagem da roupa, da mulher bem vestida que delira no sepultamento do marido, dando à narrativa uma imagem expressionista.

O Dr. Fausto (Johannes Zeiler) de Sokurov, não tem traços românticos, mas é cínico e utilitarista, disposto a alcançar seu objetivo, passando por cima de qualquer. O personagem provoca uma busca constante de sentido da plateia, faz piadas, se introduz em atos e cerimônias a que não foi convidado, despertando questões, com diálogos longos e linguagem de sentidos múltiplos. Essa estética toca a contemporaneidade.

A narrativa do cineasta russo parece uma explicação do século XX, compondo a tetralogia em que descreve o morticínio em massa, iniciada com Moloch (1999), sobre Hitler, Taurus (2001), sobre Lênin, O Sol (2005), sobre Hirohito, e agora Fausto, vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza do ano passado. Esses personagens, refletem o desejo insaciável do personagem por conhecimento e poder, que para ele é a fonte do mal do século XX.

Ao que parece, ele quer descrever Fausto como um personagem central, vindo da aurora da Renascença, que se ergue como prototípico do homem moderno. Parece um esforço quase obsessivo para descrever a ambição humana de controlar a natureza e a história.

O enredo vai deixando pistas que em algum momento ele se afirmará, deixará o processo que o trouxe até àquele caminho e começará um círculo virtuoso de ajuste, naturalidade e humanidade. Mas o quadro avança de forma desesperada, irreversível e sem perspectiva, só efetivando a dimensão do drama para os expectadores com o desfecho fatídico.

O filme dá diversos elementos para entender uma modernidade que reluta em se desligar do ambiente medieval, com sua linguagem religiosa que a tudo amalgama, provê as razões e as consequências, sem faltar com o elemento fatalidade, na lógica explicativa do Sokurov. Para quem gosta da narrativa mitológica e fantástica de Goethe, recomendo assistir.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

‘Era uma vez... GRIMM’ arranca aplausos prolongados

Antonio Carlos Ribeiro

A peça teatral Era uma vez... GRIMM, do autor, diretor e ator José Mauro Brant, e o ator e músico Tim Rescala, consegue apresentar uma primorosa pesquisa, releitura de clássicos, música instrumental, figurino impecável, recursos de palco e imagens digitais complementares, somados a um elenco preparado, afinado e bem humorado.


A peça está em cartaz de 5ª a domingo até o fim de julho no Teatro Sesc Ginástico, como um duplo musical, nas versões infantil e adulta. A apresentação revela o primor ao lidar com as histórias dos Grimm, o contexto da época e a interação com nossa realidade, revelando uma pesquisa dedicada à busca da linguagem mais abrangente para contar histórias, com boa música instrumental.

A montagem faz uma releitura de clássicos como Cinderela, Chapeuzinho Vermelho e O Junípero, homenageando os 200 anos da primeira edição do volume de contos dos Irmãos Grimm, recebendo assessoria pedagógica e curadoria de mesas de debates da Cátedra UNESCO de Leitura (PUC-Rio).

A seleção dos contos é adaptada a uma linguagem musical com momentos de comédia e terror, no mesmo ritmo das cenas dos atores e das imagens digitais sobre uma tela semitransparente, que permite vislumbrar os músicos – que acompanham tocando trompa, flauta, clarinete, violoncelo e viola, sob a direção de Rescala – sem que os atores José Mauro Brant e Wladimir Pinheiro, como os irmãos Grimm e os personagens dos contos, e as atrizes Ester Elias e Janaina Azevedo, que dão vida às madrastas e princesas deixem o palco principal.

A obra bicentenária dos irmãos Jacob (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859) é o livro Contos da Criança e do Lar, publicado com apenas 900 exemplares. Assim, o espetáculo descreve a vida dos irmãos e dos personagens de seus livros.

Além da movimentação no palco, os atores usam técnicas como manipulações de bonecos, projeções de imagens e jogos de sombras ao encenar personagens conhecidos do público, sem abrir mão da forma escrita original dos contos.

O espetáculo é apresentado ao público infantil aos sábados e domingos às 16 horas. Já o público adulto, lucra com as apresentações de quinta a domingo às 19 horas, com mudanças na encenação. O palco parece o desdobramento de um livro gigante para contos universais, do qual saltam personagens tidos como infantis, mas são interpretados para adultos.

Segundo José Mauro Brant, “a intenção foi resgatar esse lado menos explorado, sem perder o lirismo”, que divide a direção da peça ao lado de Sueli Guerra, e atuarem nela. Já a música, com traços de ópera, tem a marca de Tim Rescala, através das canções tocadas e dos enredos, ao desenrolar das tramas.

domingo, 15 de julho de 2012

“Na Estrada”. E para ficar

Antonio Carlos Ribeiro

O filme Na Estrada (On The Road, EUA, 2012, dirigido por Walter Salles, com Sam Riley, Garrett Hedlund, Kristen Stewart, Kirsten Dunst, Viggo Mortensen, Amy Adams, Alice Braga, Steve Buscemi) é uma marca registrada da geração beat, ao suceder a geração perdida de Ernst Hemingway e deixar sua marca na literatura.


A película digital é baseada na obra de Jack Kerouack, o escritor beat e segue a rota de Dean e Sal – que contracenam com um conjunto de personagens que aparecem – nas cidades e estradas dos Estados Unidos, de Nova York às cidades fronteiriças com o México.

Os beats eram jovens que marcaram época como seres de certa pureza, iluminação, por isso ‘beatíficos’. Viveram um tempo de buscas e confrontos, por isso sua busca era afirmativa, intensa e com a estrada embarreirada por sexo, drogas e os ritmos que precederam o surgimento do rock. Há os que afirmem que encontraram seu próprio caminho, algo entre o senso de coletividade do anos 50 e a tomada da responsabilidade pessoal, dos 70.

Sem conformismo diante dos limites da sociedade, os beats propunham sexo selvagem, drogas recreativas, distância das raízes familiares e novas formas de expressão, como a escrita experimental de todos os tipos. A busca pelo autoconhecimento é frenética e ganha a força com que desemboca no movimento hippie.

Esse período após a 2ª guerra mundial vai iniciar um conjunto de mudanças, a começar nos EUA como país líder do grupo de aliados, ao perceber as possibilidades dessa chance ímpar e partir freneticamente em busca da liderança, com os diversos impactos que isso causou à sua população – em especial aos jovens – mas também à dos países aliados, tão logo começaram a passar à condição de aliados-subalternos ou inimigos, definindo sua condição.

O impacto desse pano de fundo se reflete nas diversas situações mostradas em Na Estrada, com destaque para a condição de vida dos cidadãos americanos, especialmente os que não vivem nas duas costas marítimas. A busca por trabalho, especialmente carregando caminhões, colhendo algodão ou se empregando em fazendas serão o cenário das aventuras de Sal, cujos apontamentos frequentes serão a matéria prima de On the Road.

Duas participações brasileiras mostram qualidade – sobretudo num elenco de nomes conhecidos – um na direção e outra como coadjuvante. Trata-se do diretor Walter Salles, que tem recebido elogios da crítica e demonstrado avanços  no domínio da linguagem cinematográfica, e da atriz Alice Braga, que vive uma imigrante mexicana a quem ‘Sal’ conhece num acampamento de operários que colhem algodão numa fazenda na divisa com o México.

Esse momento marca o início da migração dos mexicanos para os EUA, em busca de condições vida e ao custo de baixos salários, a que se submetem para fugir da fome. Os salários que giram em torno de US$ 1 por um dia inteiro de trabalho, sob o sol e o vento de regiões desertificadas, dão uma noção do perfil das relações de trabalho na metade do século passado.

A atriz Alice Braga concedeu entrevista mostrando-se satisfeita com sua participação, com o perfil da personagem e da experiência de acompanhar o grupo por três semanas. “Achei muito especial fazer uma personagem como ela, jovem, mulher, com filho. Ela é muito forte isso para essa década de 40 em que ela vive, mas é uma mulher a quem a vida impõe uma maturidade. Mas ela não sente autopiedade e é uma personagem forte”.

Ela se refere às cenas com ‘Sal’ como “um encontro inesperado, em que os dois estão abertos para viver aquilo. Acho que ele traz humor, e ela traz exatamente o que ele está buscando na jornada dele. Ele está buscando o desconhecido, está buscando experiências diferentes”. E relata que por causa da programação do roteiro, ficou filmando durante 3 semanas com o grupo. Com todas as oscilações da estória, a trama passa a plausibilidade dessas vida Na Estrada. É a leitura destes anos de promessas que se frustram, o que faz do livro/filme um must na cultura do pós-guerra. O trabalho do diretor levou-o a Cannes, representando o Brasil.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=uUzklNReJbs

Histórias, café e afetividade

Antonio Carlos Ribeiro

O lançamento da 2ª edição de Ler e contar, contar e ler, de Francisco Gregório Filho, na Livraria Arlequim, no Paço Imperial, parece um encontro de amigos. O trinômio do título descreve o ocorrido. As pessoas se encontram, ouvem histórias, contam histórias, reelaboram sua própria história, comem e bebem, estabelecem trocas.


Gregório gosta de pessoas, de histórias e dos efeitos das histórias na vida das pessoas. É sua forma de intervir no mundo, interagir com os próximos e os circunstantes, e se encontrar consigo mesmo ao contar histórias. Por ser aquilo que faz. E ama fazer. Seu modo de trabalhar lembra o conceito de ‘ócio criativo’ do sociólogo italiano Domenico de Masi, quando o limite entre o trabalho e o prazer não está mais demarcado.

A livraria é vista por ele como um suporte para o leitor, por isso o acolhimento é importante. Chega a dizer que ‘ambiente’ e ‘ambiência’ são fundamentais para as pessoas se sentirem bem, especialmente os contadores de histórias. São diversos recursos como a recepção, a estrutura, os materiais, etc.

Ler e contar, contar e ler é composto de dois cadernos. O primeiro é uma coletânea das 10 melhores histórias e, o segundo, relatos da prática de contar histórias. Ao dizer isso, o autor admite que esse é um exercício intelectual e afetivo, juntos. E que seu compromisso é com os contadores. Que todo o tempo ele ‘respira’ contação de histórias e que já contam 22 anos que atua nessa atividade, apesar de sua formação ser em artes cênicas.

Concordou que o ponto de ligação entre artes cênicas e literatura é a linguagem, mas lembra que nesta, a que mais o inspirou foi a dramaturgia e que hoje se interessa muito pela linguagem do narrador. E o que mais lhe desperta a atenção é a complexidade das histórias humanas.

Sobre o que acontece nos encontros, ele diz palavras: “leitura, canto, contar, tomar café, comer bolo”, um evento rico de prazeres, destacando a bibliografia e o contato com professores. Acha que sua voz tem um “tom ancestral, lembra a ancestralidade”. E explica o público que enche a sala como resultante de um círculo de amigos e leitores. Funcionário da Biblioteca Nacional há 38 anos, entende essa atividade como um desdobramento de seu trabalho.

O feitiço do tempo


Antonio Carlos Ribeiro

O principal entrave para a elaboração de uma teologia das religiões que responda aos anseios deste tempo não é doutrinal, mas surge do estatuto ontológico da teologia diante da mudança na cultura. Uma nova linguagem teológica, uma nova religiosidade, esbarram em dogmas pré-Modernos, têm dificuldades no diálogo ciência-fé, reificam práticas eclesiológicas pré-Modernas  e caem no feitiço do tempo. A análise é de Andrés Torres Queiruga, professor de Filosofia da Universidade de Santiago e um dos teólogos que mais têm se dedicado ao tema. Com uma pesquisa transdisciplinar, cultura teológica e vivência pastoral, e boa dose de humor fino, ele dá as pistas do labirinto, especialmente sofrido para teólogos.


Um dilema trazido pela mudança da cultura para a teologia é a necessidade de “levar a sério a absoluta primazia do Deus que nos criou e continua nos criando por amor; única e exclusivamente por amor” (p. 16). Enfatiza que Deus está sempre entre os seres humanos, conquanto essa elementar perspectiva não seja plenamente assumida pelo mundo religioso, em que o ser humano ainda é obrigado a lutar por sua salvação. Essa situação denuncia um desajuste profundo entre o sentido da experiência fundante, o da práxis e da sua elaboração teológica, tolerável até o início da  Modernidade, mas insuportável no século XXI. Isso exige nova relação.

A Modernidade impõe uma mudança radical de paradigma, cuja principal marca é a progressiva autonomia alcançada nas realidades física, social, econômica e política. O impacto leva à derrocada de verdades que reinaram absolutas por séculos, como a de que Deus determinou riqueza e pobreza ou que o mal interfira nas moções do consciente e inconsciente humano. Esse processo, que avançou de forma legítima e irreversível, provocou uma reação eclesiástica e teológica conservadora de um lado, e uma crítica
secularista e ateia de outro. A sequência de fatos foi desfazendo mal-entendidos e propiciando diálogos autênticos e frutíferos.

A nova objetividade religiosa não extirpou a impregnação mitológica que marcou a teologia desde os primórdios. A autonomia do mundo era tão rejeitada que nada indicava sua irreversibilidade, conquanto hoje pareça impensável que alguém tenha crido que os astros são movidos por anjos, as enfermidades provocadas por demônios, ou que Deus tenha ordenado as chuvas. Bultmann distinguiu o pensamento mitológico intervencionista daquele em que a ação de Deus não tem lugar nos acontecimentos, mas em seu interior. Por isso nunca negou o valor existencial das intenções profundas, veiculadas nas expressões
míticas.

A forma de relacionar transcendência e imanência é ver esta como espaço de máxima realização daquela. Isso se choca com o deísmo puro, no qual deus se desentende com sua criação e dela se afasta; e o deísmo intervencionista, consequência natural de sua permanência no céu, para onde o ser humano precisa se aproximar pelo rito, a oferenda ou o sacrifício. Diante da iniciativa humana, ele intervém, atendendo. O verdadeiro infinito é aquele que se relaciona sem se contrapor ao finito. Se o fizesse, adquiriria sua limitação
pela contradição. Mas faz que o finito tenha sua verdade no infinito.

A Modernidade propiciou a reflexão sobre não dualismo e o não intervencionismo na criação, movida pelo amor que não exige nada em troca, mas no Deus que cria para servir e não para ser servido, como Jesus. Desse fato surge a ruptura do dualismo natural-sobrenatural  e sagrado-profano. O intervencionismo é desnecessário, já que ele está neste mundo e  sempre trabalha. A tentação à passividade ou à resistência é humana. Oração é  gratuidade porque ele trabalha sempre por nós. Não há o que pedir, já que a falha acontece sempre do nosso lado.

 A teologia da criação-salvação tem como parâmetro a convicção radical de que tudo que vem de Deus só é interpretado legitimamente se tem um sentido positivo e libertador. A salvação precisa ser liberta dos esquemas de sacrifício, preço e castigo para reconhecer a criação, a natureza e o real, ao qual ele não ameaça, mas potencializa. Se sua atuação fosse rebaixada ao nível das causas intramundanas, Deus seria um ídolo, e insensível, por não ter evitado o sofrimento nem curado a todos.

A nova subjetividade religiosa tem a marca da teonomia como razão unida à sua profundidade. Com a subjetividade autônoma, superando a ingenuidade, a credulidade ou a superstição, que pode comprometer a convicção de quem crê, surge nova revelação. A transcendência não obriga Deus a romper a autonomia do sujeito para se anunciar em sua imanência porque ele já está dentro, iluminando a subjetividade e se  manifestando. O positivismo da revelação pode ser superado e dar lugar à maiêutica histórica. Isso dá caráter de busca à leitura bíblica, no processo que  Juan Luis  Segundo chamou de  aprender a aprender.

Após essa caminhada, o limiar do novo paradigma, a ser construído. Queiruga insiste em não comparar um paradigma com outro, para evitar a perversão. O paradigma intervencionista implica afirmar a legitimidade das religiões e de todo autêntico conhecimento religioso e, ao mesmo tempo, punir, a partir de uma leitura literalista.

Misturar elementos de paradigmas diferentes faz da teologia um amontoado de arrazoados. Diante do extra Ecclesiam nulla salus, de um paradigma, Schillebeeckx reagiu dizendo que “fora do mundo não há salvação”.

Cabe fazer alianças com os setores da cultura que buscam o verdadeiramente humano. A Igreja não precisa renunciar à identidade, mas reconhecer que não tem o monopólio, deixando-se evangelizar pelos valores da criação e auscultar os sinais dos tempos. Ao repensar a teologia, o risco é construir teologias prontas, atualizando o vocabulário, mudando os nomes dos adversarios e deixando intactos os esquemas e manuais
pré-conciliares, ao invés de repensar tudo a partir de referenciais com significatividade efetiva.

A fidelidade busca a vontade de Deus e a apaixonada presença do Evangelho no mundo, que se sente mais confortável com credos do que com religião, está mais familiarizado com a Igreja do que com Cristo, mais comprometido com a caridade do que com a justiça, mais involucrado na opressão do que na igualdade, mais dedicado a manter a fé dos nossos pais prescrevendo os pronomes femininos dos textos sagrados do que a libertar o ímpeto da Boa Nova (p. 65).

A passagem da  Pré-Modernidade  para a  Modernidade  acarreta a mudança na linguagem, como no conflito entre a orientação para rezar, dada aos fiéis cristãos diante do problema da seca, e o dado dos meios de comunicação sobre as altas pressões do anticiclone. A insistência no conflito converte Deus num ídolo, cuja  “imagem se esfrangalha sob os golpes da picareta positivista” (p. 73). A linguagem implica sempre muito mais do que diz explicitamente (Wittgenstein), somando até o que não foi dito ao pensamento. A consciência infeliz (Deus fora, distante e acima) é a consequência inevitável desse novo momento, elaborada por Nicolau de Cusa (o distinto carece do que é distinto, o não distinto não carece de nada), que gera a ruptura dos dualismos.

A mudança cultural é consequência da mudança de paradigma. Há quem repita conceitos da Pré-Modernidade, desavisadamente, sem a menor cerimônia, não apenas em eventos paroquiais. Observa que mesmo teólogos como Barth e Von Balthasar, ícones das tradições protestante e católica, ainda se referiram ao deus que exigiu a morte de seu filho para nos perdoar os pecados ou que descarregou sobre ele a ira reservada a nós, metaforizando que os diques já cederam à pressão da enchente e os “remendos provisórios
são incapazes de conter a hemorragia de sentido” (p. 83), tornando o transbordamento e a catástrofe – a tomada de consciência da mudança de paradigma na linguagem – inadiáveis.

A mudança já sofre os efeitos da interpenetração de culturas, que se agrava quando não é percebida  naturalmente, mas apenas sob o efeito de choques pleonasticamente chamados culturais. A compreensão do significado não se dá em estado puro, mas apenas em referenciais culturais. A interpretação de cada época requer modéstia para superar o caráter de único ou definitivo e, ao mesmo tempo, liberdade. Apesar disso,  “talvez, ao longo da história humana, nenhuma outra religião teve a mesma ousadia nem assumiu um
risco semelhante” (p. 89).

Isso foi possível por causa dos recursos da exegese e da ousadia que colocou a teologia cristã na idade hermenêutica. Por essas brechas foram abertos campos inéditos, ampliados os espaços do  intellectus fidei e criadas as condições para as teologias da esperança,  da política e da libertação, com o aproveitamento dos meios oferecidos pela análise social. A dificuldade surgiu dos temas que envolvem a comodidade de grupos humanos em conflito com a necessidade de abordá-los, relegando-os a motivos de oração pelas tragédias e possibilitando o desencargo de consciência e o alívio.

Nas comunidades urbanas de classe média convencionou-se pedir sem pretender, informando a urgência e influindo na visão do fiel. Recurso devocional, isso possibilitou a entrega Pré-Moderna do problema a Deus e o retorno Moderno à comodidade sem culpa.

Isso não deixa Deus ser Deus, bradaria Lutero, acima de nossos limites, amarrando-o à Pré-Modernidade, sempre disponível aos nossos desejos. O desafio é aceitá-lo em sua verdade, em vez de nos queixarmos pedindo.

A nova religiosidade e  a  experiência cristã denotam uma insatisfação unânime e generalizada, que expressa o desconforto com as formas da religião herdada ou o seu abandono. Isso pede a análise dos condicionamentos profundos, por causa da inculturação da Pós-Modernidade nos velhos esquemas, com o ressentimento do fato de não ter havido uma só descoberta científica importante que não tenha sido condenada ou olhada com desconfiança na Modernidade, como observou Walter Kasper.

O preço a ser pago na nova religiosidade é o de que Deus possa ser tudo, como propôs Feuerbach ao elaborar uma antropologização radical. Marx a liberou do individualismo, mas acabou numa “quase religião”. Freud completou a reação com a dimensão psicológica, que abria o ser humano a profundezas abissais, chamados  novos continentes por Althusser, dado o impacto na antropologia da  Pré-Modernidade. Daí a descrição da profunda crise do Ocidente após o Iluminismo (Adorno e Horkeimer).

Entre as reações, a polarizada, diante do otimismo moderno, à renúncia à utopia e à esperança de renovar o mundo (negativas); e a expansiva, com a revalorização do pequeno, a tolerância com o diferente, a desabsolutização do estabelecido, o novo apreço pelo corpo, a revitalização da experiência (no individual), além de uma universalidade em harmonia com a natureza, uma nova aliança com o cosmo e uma fraternidade acima dos credos e dos imperialismos. A presença do sagrado, que se tornou também elusiva, arredia e contrastada em Nietzsche, deve buscar uma nova transcendência, como na discussão entre Benjamin e Horkheimer diante da história carregada da vitimização irremissível, quando só a resposta teológica pode dar “a nostalgia de que o verdugo não triunfe sobre sua vítima” (p. 114).

Na Pós-Modernidade, com as situações mais complicadas e mais explícitas, Vattimo percebe com clareza, mas guarda certa distância da resposta institucional. Seguindo o exemplo de seu fundador, a resposta cristã deve acolher o genuíno, integrá-lo e enriquecer seu projeto, saindo de uma postura apologética para a criatividade histórica. Se a Modernidade  está em elaboração, a  Pós-Modernidade  continua imersa em névoas. A fé cristã implica a existência de cristãos Pós-Modernos. A agudeza da diferença entre as eras fez passar o tempo dos ajustes, obrigando a reflexão sobre  a mudança de paradigma. A nova síntese parte da intuição de que Deus cria por amor, sendo tudo em todos, fazendo-nos verdadeiramente humanos, filhos e filhas, e amadurecidos em Cristo, para atender às demandas da nova sensibilidade.

Esses elementos possibilitarão superar as principais deformações da cultura ocidental: o desequilíbrio homem/cosmo e o dualismo sagrado/profano. Com a criação toda boa, fica claro que Deus não criou homens e mulheres religiosos, mas apenas humanos, indicando ser esta a maneira de ser religioso. Essa insatisfeita resposta institucionalizada gerou também a resposta mais difusa, fora das fronteiras (do credo, da Igreja), e muitas vezes é vivida como não religiosa.

Somente quem  “sabe de memória” o Mistério, porque o aprisionou na letra morta das fórmulas, pode se fechar à livre manifestação do Espírito, que  “sopra onde quer” (Jo 3,8). Quem, na verdade, toma a letra como uma verdadeira  “maiêutica”, que o chama ao reconhecimento vivo e à expressão balbuciante dessas profundezas que só o Espírito conhece (1Cor 2,9-16), compreende que toda a palavra, por mais distante e estranha que ressoe, pode tomar parte do “gemido da criação” em busca da plenitude comum (Rm 8,22) (p. 134).

Conquanto clara a relação, no tema da infalibilidade, o teólogo galego discutiu as origens do dogma, mostrou o enraizamento de posições no campo popular e os desdobramentos que resultaram no culto ao papa e seu efeito histórico sobre o inconsciente teológico e a história humana. Mesmo atribuindo o sentido de indefectibilidade, associada à necessária força do Magistério da Igreja, da norma que julgue seu meio e o caráter frágil da experiência religiosa, contraditoriamente, são os meios pelos quais pode existir. No caso protestante, há instrumentos jurídicos semelhantes, mormente usados em momentos definidos contra teólogos(as) no afã de arrebatar-lhes o carisma. Os arrazoados colocaram a questão e suas implicações, sem alternativas claras.

O diálogo ciência-fé mostrou contornos próprios na atualidade, oriundos da tensão Pré-Modernidade-Modernidade-Pós-Modernidade. Alguns são prototípicos e envolvem teólogos conhecidos. Como faz Queiruga muitas vezes, deve-se agradecer que os ataques ao movimento de translação  tenham atingido apenas teorias e teóricos, sem danos permanentes ao cosmo! O impacto vem da constatação de que o religioso é autenticamente humano, bem como sua resposta na relação com Deus, já que esta não é um meteorito caído do céu, mas resulta da experiência humana com Deus, antropologia que devemos a Rahner.

Ser cristão Pré-Moderno na crise causada pela mudança radical da Modernidade é a temática trabalhada no livro. A tarefa mais imperativa e urgente é repensar a fé, transformando as categorias para a atual cosmovisão. Não é indolor e muito menos sem custos, como mostra a história. A nostalgia que amarra ao passado mumifica, tentar salvar o tesouro do porão durante o naufrágio compromete a vida, assim como a teologia que se constrói em pressupostos inconscientes e crenças incontroladas. Assim, deve-se viver na fé em Deus que luta conosco e nos sustenta com a esperança de que, vencidos os limites da história,  ele  vencerá ao resgatar as vítimas; e ter coragem para mudar e renovar, na confiança de que muda a roupagem, mas o fundamental permanece. Se isso não acontecer, as  Igrejas  se autoexcluirão do tempo (ana-chronos), e os membros que as compõem perderão a inédita possibilidade de amar e trabalharão pelo futuro que aprendeu a humildade da história.

O título sugere outros semelhantes, que se ocuparam em definir (dar fim a) a Modernidade, talvez na esperança de que a essa interpenetração cultural,  incrustada e cristalizada na expressão religiosa, comece logo a ceder.

Publicado em Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano VIII, n. 39, p. 86-91

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Pª Drini e três grandes eventos de uma só vez!

Antonio Carlos Ribeiro

Christine Drini é pastora da Evangelische Lutherische Kirche in Bayern e atua na Paróquia Martin Luther, no Rio de Janeiro, desde janeiro de 2011. Neste um ano e meio de trabalho gastou alguma energia para adaptar-se às condições de trabalho. Além dos eventos regulares, houve muito trabalho em maio e junho. Para falar disso ela me recebeu para uma entrevista.

Valdomiro Dockhorn, presidente da Paróquia, Christine Drini, pastora, Heinrich Bedford-Strohm, bispo da Igreja da Baviera, e Nestor Paulo Paulo, presidente da IECLB

A pastora falou da “preparação da visita da parceria com o Decanato de Schweinfurt, da Conferência Rio+20 e da Cúpula dos Povos, com gente de todos os lugares e religiões – espíritas, religiões afro-brasileiras, orientais e muitas denominações cristãs – e o maior problema é que era tudo em cima da hora!” Para ela foi “experiência bonita, rica, porque envolveu gente de muitos países, em eventos diferentes, e claro, uma experiência cansativa. Mas valeu porque tive muito apoio e ajuda na comunidade”.

Ela conhece a Parceria desde seu pastorado em Bad Kissingen. “Conheci essa parceria há 15 anos na Alemanha, mas ela nasceu mais cedo, em 1987, com uma carta do Decanato de Schweinfurt à qual o então presidente da CELURJ, Hermann Evelbauer respondeu: ‘vamos pegar a mão estendida e vamos fazer essa parceria com as quatro comunidades do Rio’”. Após o apoio à Creche Bom Samaritano, “a nossa luta foi ampliar a parceria, envolver mais gente e mais o povo das comunidades”.

“O que fizemos foi organizar uma semana de eventos sobre o Brasil”, disse Christine. “Tinha grupo de samba, tinha discussões, tinha juventude envolvidos e depois preparamos bem uma viagem para o Rio, envolvendo muito mais pessoas. Foi um grupo bastante grande, do qual eu fiz parte, doze pessoas, vindo para o Rio. E foi muito bom. Foi cansativo para mim porque tive que fazer muita tradução, mas conseguimos envolver mais pessoas e também conhecer mais pessoas das comunidades”.

Depois que “saí de Bad Kissingen, a comunidade onde estava, só acompanhei de mais longe. E agora, eu troquei de lado, me candidatei para essa comunidade aqui, assumi o pastorado aqui e estou vendo a situação por outro lado, recebendo as pessoas da Alemanha”. Nesta condição, “sentou junto desta vez para planejar com mais antecedência essa visita e formamos um comitê com dois representantes de cada comunidade e os pastores, para existir uma relação de igualdade, em que nenhuma paróquia fica para trás, montamos uma agenda, com pautas para essa visita e distribuímos as tarefas”.

Diz ter aprendido ao atuar nos dois lados da parceria. “Para mim sempre é bom, como se diz na Alemanha, ‘olhar além do seu prato de sopa’”. Lembrou que na Alemanha, como também aqui no Brasil, por vezes “a gente fica sempre entre nós mesmos, acha que é o centro do mundo”. Mas, “conhecer outra cultura, outra igreja, sempre enriquece muito porque a gente começa a se questionar: porque eu faço isso assim? Ou porque os outros fazem de um outro jeito? As ideias bonitas de outras igrejas, e os desafios, porque os desafios no Brasil são grandes, e na Alemanha são outros”.

“No Brasil”, distinguiu, “você tem a questão dos recursos, que na Alemanha é mais fácil lidar, mas no Brasil você tem uma cultura mais aberta, celebrações bonitas, as comunidades são muito cordiais. Na Alemanha, você tem a estrutura de uma igreja do povo, maior, mas o povo muitas vezes não aparece”. No entanto, “o povo que vem quer conhecer o Corcovado, a praia de Ipanema, de Copacabana e o Maracanã, mas não quer ficar só no turismo, mas realmente trocar experiências. Então formamos quatro tópicos: Trabalho com crianças e jovens, Planejamento estratégico, Diaconia e Trabalho com idosos”.

Elogiou o planejamento e lembrou que “o que a gente pode melhorar aqui no Rio, nas quatro comunidades, é aprender a deixar para trás as concorrências e brigas, e formar um conjunto para levar essa parceria à frente. O projeto da Creche, que todos nós apoiamos e que Schweinfurt apoia, mas também queremos envolver as quatro comunidades na participação nesta parceria, já que ela é entre as comunidades, ao final das contas”.


Rio+20 e Cúpula dos Povos

Esses dois eventos foram acompanhados pelo Conselho de Igrejas Cristãs do Estado do Rio de Janeiro (CONIC-Rio), mas houve dificuldade de conseguir informações. Apensar disso nos encontramos e planejamos “uma celebração ecumênica que foi muito bonita. O dia era muito bonito, fez sol no Parque do Flamengo, ficamos na tenda, enfeitamos com flores, uma banda tocou, tinha cestas de flores e frutas, e os quatro elementos que celebrantes trouxeram na frente. Muita coisa bonita, uma celebração que adorei, com a participação das Igrejas Anglicana, Católica, Presbiteriana Unida. A teóloga Maria Clara Bingemer fez a prédica. Uma pena é que de manhã, durante a semana, o povo trabalha e não pode participar. Veio bastante gente, mas poderia ter sido mais”, observou.

A diretoria do CONIC-Rio preside a celebração na Cúpula dos Povos

Sobre a mediação das igrejas com a Cúpula dos Povos, disse que “o pastor local tem um papel difícil. Ele reúne informações e se comunica com todos. Houve dia em que recebi entre 50 e 100 e-mails, de tanta comunicação que houve e ainda ficou tudo em ‘cima da hora’.

Fizemos a reunião do CONIC em março e ficamos tentando conseguir informações. Depois recebi informações do Evangelisches Entwicklungsdienste (EED) e do Pastor Junge Reichel, da Alemanha”. Depois “a gente fez contato com outras organizações e igrejas, e reuniões sobre a Cúpula dos Povos, na sede do VivaRio. E foram feitas muitas coisas, apesar de falta estrutura, de apoio e de informação, com que a gente por vezes sofreu”.

“Fizemos um culto muito bonito, trilíngue, no dia 17, em que esteve presente o Pastor Nilton Giese, Secretário Geral do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI). Sua prédica nos trouxe umas dicas sobre como os índios dos Andes lidam com as questões, baseada na parábola da semente que cresce por si”, lembrando que este culto teve “a participação de alemães, africanos, da América Latina e de outras partes do Brasil. Foi um culto realmente internacional, muito bonito, com música muito bela. Acho que isso já valeu”. Insistiu que “isso foi muito importante porque nós não entramos muito na mídia”.

Culto trilíngue na Par. Martin Luther

No programa da Cúpula dos Povos, “tentamos estar presentes, oferecer eventos, participar de momentos ecumênicos. E coordenar tudo isso deu um trabalho enorme. No dia 19 de junho, fizemos um culto com e para os jovens da REJU e do programa Criatitude, no qual o Pastor Nestor Friedrich, Presidente da IECLB, também participou. Essa foi uma celebração muito festiva. Adorei como os jovens se colocaram neste culto, fazendo propostas de projeto, reflexões sobre o tema e dando esperança para nós adultos, de que os pequenos projeto são o caminho. Mesmo que não tenha saído muita coisa da Conferência Rio+20, que o documento seja muito fraco, são esses os pequenos projetos que dão esperança”, assegurou.

Também para a Paróquia Martin Luther foi uma experiência nova. “Nossa pequena comunidade de 200 famílias-membro ficou no centro da atenção. Recebemos e organizamos muitas visitas de fora, inclusive a recepção da Presidência da IECLB em nossa comunidade, em que participou o bispo Heinrich Bedford-Strohm, da Baviera, junto com a delegação do EED, bispos luteranos da América Latina, representantes da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e das comunidade luteranas do Rio”.


A recepção no salão paroquial

E elogiou a Paróquia Martin Luther. “Nos mostramos uma comunidade acolhedora, cuja diretoria também colaborou muito. Para mim, uma coisa muito bonita e gratificante é que, pela primeira vez, pude fazer contatos aqui com projetos da FLD, nos quais fui por dois dias, acompanhando o grupo de EED e conhecendo projetos da FLD, como o Projeto de agricultura ecológica, em Nova Iguaçu, o Projeto de trabalho com jovens que dançam Hip-hop, do Pastor Francisco Santos, em Rio das Ostras, e o trabalho do Pastor Adélcio Kronbauer, em Nova Friburgo, que ainda não tinha visto de perto”, se dispondo a “colaborar mais com essas organizações, entidades e ONGs”.


segunda-feira, 9 de julho de 2012

No cais, sem cruz

Antonio Carlos Ribeiro

O livro de poemas (Da cruz ao cais; poemas. Rio de Janeiro: [e.a.], 2012) de Roberto Britto, como gosta de ser chamado, é a um só tempo, catártico e iconoclástico. A primeira característica surge já no título, dando a marca autobiográfica de sua expressão poética, que ele entende tardia, como se houvesse chronos, noção grega do tempo marcado para cada atividade, que não apenas o ditado pela condição existencial de quem viveu bastante tempo aión, noção hebraica de tempo longo, justo para quem tem neste poema o kairós, o tempo oportuno do fruto maduro, quando se pode avaliá-lo.


A iconoclastia, a segunda, resulta da mesma atitude, agora aplicada à vocação que abraçou, à carreira acadêmica, pastoral e terapêutica que construiu, sobre a qual agora decidiu expor seus sentimentos, emoções e pulsões, como parte do ‘rescaldo’ septuagenário que começou.

O texto auto-expositivo de Britto faz desfilar hinos e poemas, desabafos e palavrões – de poucas sílabas – que o marcaram, situando-os no tempo e no espaço. Animou-se com Fernando Pessoa, a “desencaixotar minhas emoções verdadeiras”, confirmando que ninguém passa incólume pelas páginas do poeta português.

De Gonçalo Tavares, assumiu a capacidade de viver a vida, mas não sem pensá-la, usando a métrica, dispondo-se a lembrar a ‘seriedade de momentos constitutivos’, chegando à condição de ‘tirar seriedade aos atos da vida’. E com Manoel de Barros, se dispôs a ‘escutar a cor dos passarinhos’ e a delirar com as novas conquistas, próprias de quem ‘houve-se’ com o tempo e aprendeu que o ‘verbo tem que pegar delírios'.

Como em um labirinto, em que descobrir o código é fundamental para poder se libertar, ele reza para se libertar do poder codificador das palavras do hino ‘sou um infantil’, até poder colocá-las a seu serviço.

Na experiência com o texto sagrado (Bíblia) passeou com o Fiat verbum, Fiat alma, Fiat babel e Fiat idioleto, como chaves a lidar com os temas cotidianos, fez conexões pessoais – em que o anel de bacharel, que se tornou aliança de casamento, do anel do doutorado em Teologia nos EUA, e da aliança que tirou do dedo após 30 anos – falando de sabores, cheiros, texturas e cores.

Anda pelo cotidiano com os olhos abertos, ouvidos e nariz sensíveis, entrega-se aos prazeres triviais. Descobre  a cozinha, passando-a do espaço de comer em família para o de ‘ousar’ na culinária. Datou os momentos importantes: do nascimento ao presente, lembrando a infância, a formação, o trabalho eclesial, o casamento e os filhos, o afastamento, e os temas vindos da mídia e embebidos na percepção e na linguagem liberta para a qual criou o tempo, já que agora é dele senhor!

Dá impressão de se deixar seduzir pelo cotidiano, chega ao cais. O mesmo que é de chegada e de partida, como lembrou Milton Nascimento. Lugar de possibilidades, dos acessos, inclusive a si próprio e aos leitores a quem alcançar.

O pastor superou-se, conseguiu enamorar-se do mistério e conquistar o direito de aproximar-se e afastar-se. O professor condensou aprendizados, sem jogar fora os anos de cátedra de pastoral, nem as gerações de pastores e teólogos em cuja formação contribuiu. E o terapeuta, que coroa a caminhada, e através do qual se defrontou com o próprio retrato. Sem retoques. E tornado público.

Recomendo a leitura. A mim fez muito bem, permito-me assumir.  Mas tem pré-requisitos: afastar-se de uma postura moralista, saber lidar com linguagens diversas, inclusive as do corpo e do inconsciente – que não se traem nunca – e perceber, com Christian Andersen, que o rei está nu, e que nesta condição, todos nós lidamos com nossos limites, primeiros e últimos.

O risco é humanizar-se!

sábado, 7 de julho de 2012

Ao serem lembradas, são histórias

Antonio Carlos Ribeiro

O filme é humano, olhar feminino, embebido na cultura brasileira – das pessoas e da cidade à leitura iconográfica – e mostrando a fotografia como o registro do momento que , de tão belo provoca no público a ‘tentação’ de não querer que acabe. Histórias que só existem quando lembradas provoca até mesmo a ânsia de evitar a morte do momento, como ensinou Susan Sontag, e que a gente percebe quando as pessoas aplaudem!


Dirigido por Julia Murat, o drama Histórias que só existem quando lembradas – com Sonia Guedes, Lisa E. Fávero, Luiz Serra, Ricardo Merkin – vale a existência, conquistou a memória ao saber lidar com a memória. O tema dos abandonados, esquecidos, pobres e invisibilizados pelo interior começa, muito aos poucos, a ganhar notoriedade na produção cultural brasileira.

A cidade – Jotuomba – é o nome exótico de um pequeno vilarejo fictício no Vale do Paraíba, onde grandes fazendas de café foram à bancarrota e cidades ricas, desapareceram ou se tornaram quase fantasmas , nos anos 30. Uma padeira, Madalena, vive do seu trabalho e da memória do marido morto, enterrado no cemitério, há anos fechado ‘por Deus’.

Ela faz pão para o armazém do Antônio, segue os trilhos onde o trem já não passa, limpa o portão trancado do cemitério onde jaz o amado, ouve o sermão do padre e almoça comunitariamente com os demais moradores. Sua vida é a memória do marido morto.

Com casas em escombros, a cidade é pouco mais que um lugarejo perdido nos trilhos do trem que já não passa. Sua personificação é estética, por isso estampa as cicatrizes da velhice e da falta de manutenção. É habitada por moradores idosos, abandonados e que vivem com modos simples e monótonos. Esse perfil é rompido pela chegada de uma fotógrafa jovem, que entra no cotidiano, pergunta e expressa sentimentos.

A narrativa segue a influência do realismo fantásticos, com a simplicidade ganhando legitimidade, os fatos se intercalando ao ritmo do sentido e as respostas brotando em meio ao cotidiano, como a explicar toda a trama. Como a mãe Lúcia Murat, a filha Julia parece ter sofrido a influência de artistas consagrados pela crítica, como o mexicano Carlos Reygadas e o chinês Jia Zhang-Ke. A semelhança com o documentário denuncia esse modo de investigar e narrar a realidade dos moradores da região.

Essa tendência, que se confronta com as grandes produções globais, de orçamentos monumentais e estupendos vazios de arte, faz sentido especialmente depois que o filósofo Walter Benjamin lembrou que ela “é o resgate dos pecadores, dos derrotados, dos mortos antes do tempo, das vidas perdidas, por lembrança viva: no memorial e no combate. É o dom despertar no passado chispas de esperança. Senão, tão pouco os mortos estão seguros!”

A grande conquista é a capacidade de colocar o público em contato com o cultural, o circunstancial, o cotidiano, a pobreza e o abandono, restituindo a aura de heróis aos seres humanos comuns, negados nas grandes produções, resistentes à força indômita do grande espetáculo, sem se submeterem à lógica hipócrita de gente rica e vazia, de muita pompa e pouco caráter, que dirige mundos e fundos, mas não se vê no que faz! E a realidade é tão contraditória, que o nome desta estética do relato é – supreendetemente verdadeiro – o realismo fantástico! Bom proveito!

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=qwXF2YoJ1Ns

quinta-feira, 5 de julho de 2012

La pérdida de José Míguez Bonino deja una laguna en la teología latinoamericana

Antonio Carlos Ribeiro

La muerte del teólogo metodista argentino José Míguez Bonino, a los 88 años, el sábado 30 de junio, deja un sentido vacío en la teología latino-americana, de modo especial en la teología evangélica, ecuménica y en la reflexión sobre el amor preferencial de Dios por los pobres.


Bonino, como recuerda la nota de la Iglesia Evangélica del Río de la Plata (IERP), fue pastor metodista, teólogo de la Liberación – con artículos y libros publicados, entre los cuales se destaca ‘Rostros del Protestantismo Latino-Americano’ – profesor emérito del Instituto Superior Evangélico de Estudios Teológicos (ISEDET). Deja significativa contribución a la tradición de las iglesias evangélicas del continente.

Bonino tenía una lectura abarcativa de la realidad latino-americana, substituía discriminaciones de cualquier naturaleza por diálogo franco – algunas veces duros, como con Moltmann –, mas siempre propositivo, a partir de principios y siempre con muchas preguntas. Él deja la marca de teólogo serio, que integraba elementos conceptuales aparentemente contradictorios, pero los superaba con el esfuerzo de estudioso, inquieto y sin huir de las grandes cuestiones.

Defendía la teología como discurso legítimo, audaz, con preguntas y respuestas a su tiempo para las iglesias, y a todos que postulaban diálogos claros, con las respuestas obtenidas y las aún por perseguir. De él se aprendió que “toda teología que merece el nombre de tal parte de la realidad y a ella retorna”. La comunidad ecuménica queda huérfana de ese pensador y decano de los Teólogos Evangélicos Latinoamericanos.

The Loss of José Míguez Bonino Leaves a Void in Latin American Theology

Antonio Carlos Ribeiro

The death at age 88 of Argentinean Methodist theologian José Míguez Bonino on June 30, has left Latin American theology with a feeling of deep loss, especially in Evangelical and ecumenical theology, and in the process of reflection on the preferential love of God for the poor.


In a public statement, the Evangelical Church of Río de la Plata remembers the Methodist pastor and theologian, author of numerous articles and books among which stands out “Faces of Latin American Protestantism,” Professor Emeritus of the Superior Evangelical Institute of Theological Studies (ISEDET), and who leaves a significant contribution to the tradition of the Evangelical churches of the continent.

Bonino had the gift for offering a broad reading of Latin-American reality, replacing discriminations of whatever nature with frank dialogue – at times harsh, as with Moltmann – yet always presenting propositions from the starting point of principles, and posing a multitude of questions. His legacy is the mark of the serious theologian who integrated seemingly contradictory conceptual elements, but overcoming them through the discipline of rigorous and restless study, in which he never avoided facing major issues.

He defended theology as a legitimate and audacious discourse, with questions and answers in due time for the churches and for all who postulated clear dialogues, on the basis of answers found and those still to be pursued. Learnt from Bonino is that “all theology that deserves that name has reality as its starting point and returns to it.” The ecumenical community is left orphaned of that thinker and dean of the Latin American Evangelical theologians.

domingo, 1 de julho de 2012

Perda de José Míguez Bonino deixa lacuna na teologia latino-americana

Antonio Carlos Ribeiro

A morte do teólogo metodista argentino José Míguez Bonino, aos 88 anos, no sábado, 30 de junho, deixa um sentido vazio na teologia latino-americana, de modo especial na teologia evangélica, ecumênica e na reflexão sobre o amor preferencial de Deus pelos pobres.


Bonino, como lembrou a nota da Iglesía Evangelica del Río de la Plata (IERP), foi pastor metodista, teólogo da Libertação – com artigos e livros publicados, entre os quais se destaca ‘Rostos do Protestantismo Latino-Americano’ – professor emérito do Instituto Superior Evangélico de Estudos Teológicos (ISEDET). Ele deixa significativa contribuição à tradição das igrejas evangélicas do continente.

Bonino tinha uma leitura abrangente da realidade latino-americana, substituía discriminações de qualquer natureza por diálogo franco – algumas vezes duros, como com Moltmann –, mas sempre propositivo, a partir de princípios e sempre com muitas perguntas. Ele deixa a marca de teólogo sério, que integrava elementos conceituais aparentemente contraditórios, mas os superava com o esforço de estudioso, inquieto e sem fugir às grandes questões.

Defendia a teologia como discurso legítimo, destemido, com perguntas e respostas a seu tempo, às igrejas, e a todos que postulavam diálogos claros, com as respostas obtidas e as ainda por perseguir. Dele se aprendeu que “toda teologia que mereça o nome de tal parte da realidade e a ela retorna”. A comunidade ecumênica fica órfã desse pensador e decano dos Teólogos Evangélicos Latino-americanos.

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